Que seja doce porque de amargo basta-me o chocolate da caixa escondida na gaveta tão propositalmente quanto a lágrima que caiu ontem à noite.
Que seja doce porque desse veneno quero beber até a última gota
e do seu beijo quero sugar a vida que dilata e reflete não só o amor que me oferece,
mas também a súbita sensação de ser sempre o último.
Que seja doce para que eu possa passear sobre você dias à fio
como formiga a doidamente devorar tão devagar o doce que esquecido ficou sobre a mesa
ainda que você esteja sobre a cama.
Que seja doce para que eu me esqueça do amargo tão evidente dos meus lábios
que te cativam tanto a fantasiar gozos tão profundos e delirantes,
ainda que depois se perca no imenso vazio do meu tudo tão complexo.
Que seja doce porque sabarei emprestar-lhe todos os outros sabores que você não conhece
a começar pelo gosto tão sufocante da minha palavra tão destemida e nua,
ainda que durante todo o ato eu apenas deixe escapar gemidos.
Que seja doce então
para que eu possa me lembrar da fissura toda que me causa
a fazer de mim dependente tão irracional da tua transa,
ainda que um dia você se esqueça disso e vire a última esquina da minha vida e nunca mais olhe para trás com esses olhos já tão vibrantes e enfeitiçados pela vida que te ofereço em doses.
Que seja então ainda mais doce,
para que se um dia tiver fim,
qualquer bala ou ácido ingerido
sobressaia todo o gosto que você deixou em mim.
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