domingo, 3 de outubro de 2010

Era

Era de sangue o bilhete deixado na porta. Ou batom, daqueles bem vermelhos a deixar os olhos confusos e indecisos; Era de saudade que falava apesar da chegada ter sido a poucas horas, era de desejo ainda que muito saciado há alguns minutos antes do bilhete.
Era de pavor que nossas bocas se engoliam. Era de engano que bebíamos quando trépidas já estávamos enroladas em cobertores no jardim. Era de encanto que nos fazíamos sem que pudéssemos entender quanto fantástico era fantasiar o amor inexistente. Era doce teu olhar na chegada, amargo na saída e incrivelmente desnorteante no meio da nossa transa.
Era de pecado as nossas juras, de perdão nossos desaforos, de loucuras nossas invasões. Éramos de pó e de qualquer coisa que flutuasse nosso pão-corpo-delírio. Éramos.
Éramos de manssidão, de silêncio e dor. Era sal nossa paixão derramada tão severa e serena. Era de amor, de ilusão nossos recados no espelho, nosso segredo escondido debaixo do travisseiro. Éramos de tanto pesar e ternura que nossos passos se confundiam solenes aos fantasmas daquela casa tão fria a nos juntar os braços e as bocas.
Era de tanto e de tudo aquilo que jamais julgaríamos se não além do humano. além do que podemos conhecer por amor, por carinho. ÉRAMOS mais. qualquer coisa que cheirasse mais de de-su-mano!