Entre papéis, canetas coloridas, cigarros, músicas, chicletes e sentimentos, eis que surgem os excessos, que de qualquer forma precisam ser escoados...
quarta-feira, 28 de abril de 2010
Do convite
Venha, acomode-se na poltrona, acenda um cigarro se quiser, mas, não preste atenção em minhas falas, elas estão febrís e obsoletas, talvez porque não sei exatamente o que quero ou preciso dizer.
Demore-se no sabor dessa mistura, sinta o aroma que vem de encontro com meu perfume, mas, por favor, não se arrisque em perfurar a minha pele, feridas ainda abertas lutam pela cicatriz.
Venha tomar este chá comigo. Mas tente manter certa distância. A aproximação pode ser vilenta e não quero machucar um delicado momento como este.
Venha, por favor, para que eu não morra com meus gestos e delírios, mas, antes de apreciar, verifique a temperatura. Quente demais. talvez para um conforto maior.
Beba, delicie, vislumbre. Mas, por favor, tenha calma.
a minha pressa anda atrasada. e não quero que isso mude.
Do descansar
"eu queria descansar minha dor admirando esse mar.
queria poder não sentir por alguns segundos, como parar de respirar num mergulho.
queria o não sentir das coisas, por algum momento que fosse, para talvez, inventar.
eu queria recostar minha fala no teu ombro. deitar no verbo que faria de nós um só. mesmo que neste instante, onde os chinelos sem o pé, procurassem um caminho ou uma presença. que fosse por este instante, eu me demoraria a esquecer da tua chegada. mesmo que brevemente partisse.
queria deixar meus olhos soltos, morrerem na paisagem que se desenha a medida que amo. quieta. queria que eles desvendassem qualquer secreto desejo do meu cansaço. qualquer promessa da minha cegueira provisória.
queria tirar férias de mim, das minhas falas, dos meus papéis, dos meus relógios, e até mesmo do meu sentir, experimentar outras. para que na hora do retorno o prazer venha gemer bem agudo no ouvido atento de quem me espera. saudoso!
eu queria deitar minhas costas sobre esta cadeira larga, despejar o meu sufoco e minha fúria. quem sabe, dormir um sono encantado, para que depois, acordada eu veja tua face nua. qualquer lágrima ou sorriso.
queria que esse descanso viesse logo, a ânsia da espera me faz ainda mais cansada. mas é tempo de esperas, não de chegadas.
esqueceria os chinelos, os livros, os discos, por qualquer segundo que fosse, para me demorar na imensa sequidão do nada. do oco. do vazio.
porque quando voltasse estaria renovada. ou viva!
Fragmento de um discurso amoroso II
"...Estou tentando ser razoável. Apesar de não ter certeza se no amor somos capazes de medir. Sim. Eu disse no amor. E por que não seria? Nesta hora não podemos julgar. Uso apenas a distração. E estar distraída é amar com enorme surpresa.
O amor passou por aqui. Deixou vestígios nos fatos. Impregnou na roupa e nos cabelos, nas páginas, nos olhos. Calou a lucidez da interpretação. “- Será que em algum momento fui clara?” e de alguma forma se alastra por suas telas e tintas.
Você pode ouvi-lo? Você pode reconhecê-lo vasculhando suas coisas? Ainda que resguardado pela cólera, pode senti-lo? Espero que não guarde um trunfo na manga. Lembre-se que estou apenas me confessando, estou livre do julgamento. Nem empreste juízo a minha fala. Estou louca.
Ouço o amor dizer seu nome. Vejo que ele descortina a bondade e desajeitado ele ocupa os espaços das coisas vazias. Provo do seu veneno. Arrisco-me. Como sempre fiz, estando ou não ao seu lado. E de novo me assombro. O amor comeu minha sanidade, ensinou-me a tranqüilidade de seus gestos e convidou-me a cometer um assassinato.
Não sacuda a cabeça, desaprovando ou embaralhado, lembre-se que lido agora apenas com a invenção. Neste caso é simples, preciso apenas cortar o cordão umbilical. Ou os pulsos. Isso depende da lente que se olha agora.
Vejo que o amor com sua fome invade teus olhos também, sinto que comunga da mesma sensação. O gosto de morangos na boca, talvez algumas borboletas no estômago e as mãos trêmulas. Encaro tua face desfigurada. Seus olhos não mentem. Minhas mãos despencam a ribanceira da maldade. Meus olhos choram e a lágrima, fogo, lava ou queima. Talvez a dualidade seja o caminho menos doloroso e salto!
***
Os sinais eram claros, poros em erupção, a língua amassada, os dentes afiados propondo o acidente. Assim me senti diante da ameaça do amor. E mesmo assim me arrisquei, me propus ao vôo, quis conhecer a profundeza. Não sei se de lá voltei outra. Sei que troquei a lente. Mas entendo que não só no amor, acho que o único estágio que é absoluto é o da mudança. Estamos sempre precisando trocar a lente, estamos sempre em mudança contínua. Assim me rendo, ponho-me a disposição do precipício e me atiro.
Vejo no amor pessoas mutiladas. Auto-flagelação. Talvez certa demência necessária. Portanto uma grande distorção na lente. Ou do olhar. Precisão esta que não conheço hoje depois de ter tido o amor como visita. Há certo deslocar das coisas. Ele é uma visita que ocupa e dilata os espaços, causa violência surda.
Aqui, ainda da janela, vejo-te na organização caótica que se instalou depois da visita. Papéis espalhados pelo carpete. Cigarros apagados com força em cinzeiros de barro. Os discos revirados sobre o sofá que agora pouco estava intacto. As telas que frias parecem tremer pelo estágio de queimadura. Vejo você num canto, tentando acender o centésimo cigarro, rabiscando nas paredes traços que apenas ocupam ainda mais o espaço. Será assim o dia da tua morte? É necessário morrer para que o amor se instale?
“- O que você ainda pode ver?”
- Vejo nós dois. Mutilados."
Fragmento de um discurso amoroso I
"...Não se preocupe se tudo que te digo for quase incompreensível, sentir ultrapassa entendimento. É por isso que mais uma vez digo; interpretar é inventar segundo minha vontade. Portanto escolho minha verdade.
Nossos fatos não passam de invenções. Precisamos interpretá-los para que possam existir. Assim como faço. Lanço a minha luz sobre tua fala e eis que ela vive. Não dou à mínima para suas mulheres nuas. Tenho a minha nudez escancarada. Por isso aprendi a lição inexistente daquela noite. Porque dei voz às mudas coisas que você não percebia. Porque dentre elas fui a única a acreditar na alma das ações daquele momento.
Sobre mim tu despejavas seu egoísmo, eu em ti era só fúria. Egos dilatados, absolutamente excitados e no fim um orgasmo libertador. Depois de você não pude fazer amor sem chegar ao extremo do sentir. E neste momento o mais impressionante é que não sentimos nada. Apenas a ausência de qualquer sensação e isso também deve esbarrar na morte, de qualquer forma, de qualquer jeito, porque por algum motivo o sexo é estar à beira da morte. É uma entrega desmedida, como morrer.
Vejo seu cigarro queimando. Não sei se você está lendo o jornal. Ouço a música suave que grita no silêncio da sua sala. “- Por que o silêncio é tão mortal para você?” “- Ocupa teu silêncio com tua existência!” Ordem. Misturo o caos com a ordem. Não sei qual de nós é mais invisível agora. Não te alcanço somente me aproprio das suas coisas, que voltam por qualquer motivo a existir para mim. Alguns discos empilhados em ordem alfabética. Alguns pincéis novos ainda embrulhados, guardados na última gaveta da escrivaninha. Alguns cigarros metodicamente dispostos à mão. O cesto com os jornais, o jornal do dia. A xícara vazia. O cheiro do verniz que vem lá do segundo andar. As telas frias. As cortinas cerradas. O frio costumeiro do ateliê. Suas mulheres resmungando qualquer barulho. Assombro-me!
- Por que estou a observar-te como se por trás de uma janela?
Não temos mais idade para segredos, então me abro!
Olho para o estalar das coisas e ainda me impressiono. Questiono de fato a existência delas o tempo todo e quanto mais me aproximo da natureza das coisas mais entendo que nosso desejo de construí-las extrapola as medidas do humano."
sexta-feira, 23 de abril de 2010
Da ponte
e um insenso de Uva (para acalmar)
...
eu vim para contar sobre a leveza dos passos. para me perder nessa longa ponte.
vim falar de uma certa liberdade inventada. aquela que você me ensinou que existe.
vim falar da cor dos seus olhos que me esperam sempre no final desta ponte.
no final de uma manhã tão inebriante como esta.
vim falar de como caminhar contigo, eterno fascínio, me enfeita os cabelos e os dias.
vim falar da vontade de andar contigo do meu lado, das nossas mãos sempre cruzadas uma na outra, numa complicidade a ser vista de longe.
também vim falar da vontade de atravessar essa ponte de olhos fechados, porque meu corpo conhece o exato caminho que leva até sua cama. até seus carinhos.
mas não posso, tenho que ter calma. preciso alongar os passos, para que de saudade eu te torture um pouco.
eu vim para soprar no teu ouvido canção mais secreta que me inunda de alegria. e acender aquele cigarro depois da nossa deliciosa transa, banhada de pecados e promessas que fazemos e cumprimos tão bem. em tão longos anos.
eu vou por esta ponte. ela me ensina domar a saudade de ti. inventa-me paisagens para que por elas me perca, antes de deitar nos teus braços, e me esquecer de tudo.
vamos caminhar juntos por um instante. traçar o mesmo caminho. pés e corações afinados, no mesmo rítimo.em singela sincronia.
vamos juntos para que você experimente as sensações de quando sozinha vou por ela ao teu encontro.
vim por esta ponte. e tu no final dela vens de encontro comigo!
Martha Manga***
quinta-feira, 22 de abril de 2010
Do Gozo
Nosso Jeito
Céu da boca
quarta-feira, 21 de abril de 2010
Mudez
Do morango e da vodka
Para você, depois da chuva
Do corpo
Palavras que sou
sábado, 17 de abril de 2010
Do que ainda precisamos
e um incenso de Alecrim
e dos nossos pés há de brotar caminhos seguros para que possamos seguir juntos.
e de nossas mãos há de semear ventos, que sejam de tempestades a colheita para que juntos aprendamos a plantar.
e de nossos braços há de minar sempre esperança para que possamos juntos carregar o novo passo a seguir.
e de nossas bocas, miúdas palavras há de jorrar para que sejam de breves e eternos anos nosso tão desejado futuro.
e de nossas peles, suor que há de sair, para que de desejo morramos sempre. Ainda que mortos de fome. Porque de desejo é preciso viver.
e que nossas salivas há de plantar sementes de verdade cativa para que de carícias nosso coração viva, sempre.
e de nossos beijos que nasça flor mais bonita que existe, para que nem de longe as lutas nos impeça de querer vencer. porque de amor é preciso viver.
e nossos abraços há de vivificar a certeza, para que possamos em longos e dourados anos, querer ainda mais um ao outro, fonte inesgotável de sonho. porque de amor e de sonho é preciso que vivam.
e que de nossos olhos, seus de um verde-azul tão mar e meus, secos como as folhas de um outono perfumado, há de sempre crescer o eterno, para que de amor vivamos, porque de amor é preciso viver.sempre.
Completamente apaixonada por você,
eu te amo!
Ela
e um incenso de Sândalo (pra tentar não ser careta, nem covarde!)
...
ela tinha nos olhos a tristeza das almas mais pesadas.
ela tinha na mãos a paixão mais dolorosa e a mais sangrenta.
ela tinha nos dedos e na garganta cortes profundos, enxergava-se quase alma.
ela tinha no lugar do coração um rio, tão doce quanto os versos que esquecia pela metade.
tinha no caminho pedaços de panos e bandeiras que nunca deixou de levantar, mesmo que em vão.
tinha a esperança tatuada em qualquer lugar escondido, que sempre encontrava, no momento certo, mesmo parecendo tarde.
ela tinha mimos e afagos, como lembranças das mini-certezas que carregava no peito, mas temia estar sempre enganada.
tinha muitas palavras, talvez para povoar a imensa solidão que sentia. Ou para extrapolar qualquer medo que ousasse ser maior que o desejo. isso jamais saberíamos.
ela tinha muita fome. pouca coragem. algumas migalhas. desejava o deserto com flores liláses. e uma certa inquietude a desmanchar os arranjos mais perfeitos.
manchava a página de uma lágrima escura. os resquícios míninos da maquiagem bem cuidada. nos guardanapos deixava apenas a sombra do batom sempre vermelho a rabiscar os lábios.
tinha muito medo, ou nenhum, porque não se sabe como é temer o nada. o vazio irreparável. ainda que de flores silvestres povoasse sua palavra cantada, sofria do eterno não-saber-o quê.
por isso tinha os olhos tristes. por jamais poder de verdade conhecer sua dor. por jamais poder nomeá-la.
por isso precisava do verbo. para experimentá-lo. para que de qualquer coisa soasse a tão selvagem batida.mas qual seria mesmo a melodia?
ela tinha pequenos sorrisos. e uma felicidade a tatear com as pálpebras. fechar os olhos era um exercício doloroso. quase insuportável. era preciso que vigiasse a vida. para que não morresse sem aviso prévio.
ela era feita das urgências. e do amor.
Da falta
Da ternura
e um incenso de Flores do Campo (para enfeitar)
"Ela dançava como quem escutava suas vozes interiores. Parecia não ter medo do mundo nem da maldade. Ela simplesmente dançava, como quem entende o coração pulsante daquele instante mágico.
Ela tinha verdade nos olhos e sua pele suava todo o sentimento que não cabia do lado de dentro. Estava enfestada de anjos, ria dos demônios do seu espírito, porque alí, estava em estado de pura graça.
Conhecia sua fome, tinha sede de pequenos delitos. Seus delírios misturavam ao balanço suave dos seus longos cabelos pretos. Amava com o amor puro. Desejava com ofuscantes raios vermelhos nos olhos. Nas mãos tinha a coragem de guiar e nos pés a febre mais que humana de caminhar.De sempre ir seguindo.
Ela dançava a felicidade. Exaltava com o coração puro as belezas do mundo. Chorava por vezes de certa alegria mansa. Ria de si. Embrulhava os outros como presentes. Carrevaga-os consigo como patuás de sorte. Vivia intensamente o momento, para que de saudade morresse depois.
Ela tinha nos olhos qualquer brilho de menina, sendo uma mulher inteira. Feita a mão. Em todas as curvas. Pedia em versos mudos que apenas não a julgassem, porque ela apenas vivia. E não existe critério para julgar a vida. Ela fazia desenhos no ar, qualquer pedido como a propagação da paz e do amor. Exaltava a lua e se sentia filha da mãe natureza, que a concebia todos os dias.
Ela tinha todas as cores. Vestia-se de ideais e não se intimidava em travar todas as lutas por eles. Era firme e mesmo assim parecia, assim de longe, uma flor da manhã, desabrochando enfeitada com orvalho da madrugada. Conhecia o mistério que rondava todos os corações. Floreava histórias que lhe pareciam tristes, para dar certa leveza ao mundo.
Ela dançava com o mundo, ao som de um coração cheio de esperança. E eterna ternura.
segunda-feira, 12 de abril de 2010
Dos empréstimos
" Te emprestei as cores. As rudimentares. Como a minha fala. Te emprestei a palavra, para que dela forjasse o sentimento bruto, ainda a pedra que pulsa.Te emprestei o verbo de ação. Concomitante com meu passo sujo. Te emprestei a liberdade de criar para que dela abusasse o destino e a sorte.
Te emprestei os papéis, para que neles desenhasse não só as sombras, mas os rios de risos que por vezes nos envolvia um sábado. Te emprestei a verdade para que dela omitisse metades. Diante disso tu tão solene e evaziva, devolveu-me em sonhos e recados.
Te emprestei a coragem, a falta da vergonha, a imprecisão dos dias e o tempo, para que disso tudo você apenas colorisse o instante do adeus. Para que enfeitasse a saudade e me envolvesse em ondas tão coloridas como o arco-íris.
Te dei a matéria prima para que transformasse em amor. Para que dela ousasse o beijo ou a fala. Transformou-me em figuras muito abstratas. Devolveu-me forma sem que delas eu realmente pudesse fazer-me. Te dei a bruta flor do querer para que dilapidasse na melhor síntise que te caberia. Te ensinei como me amar. E hoje entendo como te amar me faz tão viva. Tão pulsante. Tão bonita!
quinta-feira, 8 de abril de 2010
Do que te ofereço
Sou inteira porque fui refazendo metades. Sou então metades inteiras que no fundo simbolizam categoricamente um estilhaço a ranger dentes e músculos. Os ossos já nem falo mais. Sustentam um corpo que não ostenta. Suporta.
Queria mesmo era ter asas. Sair da superfície. Deixar que meus pés esqueçam os calos provocados pelas pedras da estrada. Mas sempre estou atrelada ao chão. Minhas asas são outras. desconheço a capacidade de voar com asas. Fujo com o pensamento. Inconstante e improvável. Temido por muitos, amado por poucos. Mesmo assim, queria saber voar. Ser borboleta tão colorida quanto meu luto.
Sou um agrupamento de sombras, de sobras, de luz, de raios solares. Tenho o cheiro da primavera e algum tom seco das flores do outono. Talvez sejam meus olhos. Eternamente tristes e curiosos. Sou toda uma trama natural. Não comporto enquadramentos. Respiro uma liberdade que não se alcança. Talvez porque não exista. E inventá-la é uma forma de me livrar das tantas prisões.
Não me importo. Atrelo-me a alguns significados. As palavras são minhas irmãs mais velhas, tenho-as como referência. Defino-me na difícil trama. Esfacelo-me. Entrelaço-me. Para que do chão o salto seja menos razo. que vasculhe profundezas ainda não exploradas. de dentro. de fora. porque nunca seremos unilaterais. eu não. sou o plural. preciso ser múltipla, para que eu possa ser única!
Avanço em direção ao inverno, na alma alguns resquícios do outono incrível que te conheci, nos gestos, ainda restos do que inveitei para ti. Que o frio me liberte do verão sinuoso que vivemos juntos. Porque também sou liberdade. Não me cabem prisões. só as noturnas.
Sempre serei esse emaranhado de sensações e palavras. Alguma música também, que sopre em ouvidos distintos qualquer nota funda de saudade. Porque há em mim também certa melancolia. Mesmo que calma, estarei sempre vinculada ao acidente. Eu, você, nós. Sempre. costuro-me em ti com esses extremos e assombros. aceitas?
(no som "lástima", incenso de flores silvestres e na boca um certo pavor. com amarguras)Das meninas
Elas sabiam o valor daquele instante. Seria um em tão pouco tempo que teriam juntas. Elas conheciam portanto o valor do segundo. Suspiravam afoitas tantas saudades e lembranças a encher a boca de um gosto doce e firme. Encorpado. Teriam poucas horas para decifrar a palavra que jamais seria dita. O olhar que por vezes se perdia no infinito que nascia na janela. As mãos silentes e perigosas queriam ousar por caminhos que desconheciam.Elas sabiam por quanto tempo estariam alí. Sentadas num abraço. Envolvidas por almas completamente perdidas. Queriam encontrar qualquer desculpa para que aquele momento jamais terminasse. Se queriam. Isso deveria ser o sufiente para que dali a pouco não acontecesse o abandono. Mas não era. Necessidade não era motivo. Tentavam se refazer da perda. Embreagavam-se de medo e amor. Porque já havia passado a paixão. Tentavam um amor manso. Mas selvagens jamais se renderiam.
Elas. Duas. Como se em uma vivessem desesperadas. Queriam como criança a subserviência de um beijo demorado. Do prazer prolongado. A súplica era tão imunda como a vontade. Elas sabiam. Perdiam-se numa mistura que não se descreve a olhos tão despreocupados como os nossos. Nunca poderíamos advinhar. Entender. Sempre seriam incompreendidas. Porque dentro delas faltava essa mansidão para que se entendessem também. Era tarde para que tentassem. Rendiam-se. E isso bastava para que se perdessem de novo. Para que seus corpos, dilatados e quentes, servissem de cama, de escora uma para outra. Para que suas razões fossem esquecidas e somente o sentimento prevalecesse. Somente o desejo que as movia.
Elas eram desconhecidas. Despudoradas. Atracavam-se numa guerra que mais parecia interna. De egos. De fomes. De línguas. Viviam assim, sem saber por quanto tempo. Mas viviam. De certo modo, peculiar a olhos alheios e curiosos. Não temiam senão a elas mesmas.
(Elas. Elas que num fim de manhã adoçaram a minha observação saliente. Elas, que de tanto amor e medo, sujaram minhas páginas de sangue. Elas, que destemidas e infinitamente desconhecidas, causaram surdo impacto no meu silêncio tão surdo e na minha fala tão cortante.)
Meninas, vejo ainda muito caminho....Sejam felizes!
terça-feira, 6 de abril de 2010
Da organização
domingo, 4 de abril de 2010
Da despedida
e um incenso de Saudade.(porque no fundo era tudo que sentiria dela)
"...Os cabelos perfumados ao vento era a melhor lembraça dela. Aquela música que tocava em seu carro também. A flor que sempre atrás da orelha direita, deixava no ar sempre aquela imagem da menina que em dias de chuva pensava em andar pelas ruas descalça e feliz.
O sorriso, que antes de ver pela ultima vez trazia um sol brilhante, hoje, antes de sair deixou a estranha sensação de ter sido o último. Os olhos marejavam. O coração parecia uma onda. As palavras eram barcos sem porto. Ela sempre chegava para iluminar. Mesmo que sua chama fosse escondida por debaixo de algumas incertezas. Mesmo que em escuridão estivesse sua palavra quase morta. Seu silêncio era capaz iluminar. de incendiar. porque mesmo falando pouco, seus olhos eram janelas escancaradas da sua alma.
Quando caminhava parecia voar. e sempre dizia que um dia estaria longe. que um dia precisaria partir. precisava brincar de construir o futuro. mesmo que este futuro fosse estranho e impreciso. Sempre pensei que para construir o futuro era preciso ir vivendo, jogando. descobrindo as peças principais. mas não, ela, a menina dos cabelos de sol, deixou-me esta lição. o futuro é apenas a construção do nosso hoje, porque ontem já pertence a um passado insondável. O agora é o futuro e eu sempre me esqueço disso. por isso sinto saudade, por isso sinto tanto.
ela fechou os olhos e ofereceu seus lábios. estava vestida de um vermeho escarlate. carregava uma bolsa e um livro. as sandálias eram as que compramos juntas em algum verão anterior. o engraçado é que ainda era verão. (eu não sabia quanto tempo havia então se passado entre nós.) Enconstada na parede suspirou porque tinha pressa. Uma pressa que sempre existiu em suas ações. em seu sentir. fiz um breve carinho em seu rosto. ajeitei a flor dos seus cabelos. alí parecia que o tempo passava rápido demais. apesar de não conhecer o tempo dela. e ter esquecido o meu.
O carro lá fora esperava por um destino que seria traçado em breve.
-então isso é o fim?
-é apenas isso. a nossa última despedida.
de repente o carro já não estava lá fora. e da janela pude ver apenas o sorriso que ficaria em mim até que começasse tudo de novo.
sexta-feira, 2 de abril de 2010
Das feridas
quinta-feira, 1 de abril de 2010
92 dias
Das minhas vontades
e um incenso de Sândalo (para enfeitiçar!)
"Beijo na boca bem de mansinho. Abraços aconchegante. Algumas declarações na madrugada ou no meio da tarde que venham falar do amor safado que sentimos.
De domingos inteiros na praça. De sorvete e pipoca, de algodão doce e mais beijos, no pescoço, na nuca, nas mãos, na testa.
De sábados engraçados com amigos em volta da mesa, de noites de afeto, de carinho, de vigília, de segredo.
Semanas sem rotinas, ainda que o cotidiano nos sejam válvula propolsora da realidade. Que inventemos qualquer sorriso diferente todos os dias.
Que as crianças durmam cedo, que façamos amor na varanda, no chão da sala, na rua, debaixo de um céu de estrelas. Que as crianças não durmam e que com elas aprendamos a namorar de longe, com os olhos e a fome.
Filmes embaixo do edredon, cafés em alta noite, brigadeiro na panela, carinhos que não terminam. Final de tarde uma caminhada longa. No chuveiro cheiro de erva-tão-doce a misturar-se a teus beijos e carícias. Nos livros, bilhetes que me façam lembrar da paixão, nos olhares, o amor a transbordar da alma tão encantada.
Palavras doces. Palavras a serem ditas no escuro. Algum arrepio no meio do trabalho;algum pedido atrevido via torpedo. Alguma resposta ao pé do ouvido. Muitas mordidas, alguns dedos sobre a pele a-rre-pi-an-do! Muitas saudades mesmo estando perto, do lado.
Que nas horas intranquilas o amor GRITE, que nas horas de paz o amor REINE. Que nas horas de dor o amor SUPERE.
Muito mais amor...porque é disso que minha alma é feita.
Eu te amo!