quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

coração leviano

"...e amar deveria ser assim, como fazer coraçõez de papel e pendurar no varal..."

Suponha!


Suponha que eu já tenha esquecido qualquer palavra...
e que o meu silêncio é a vaga sensação de que tudo já foi dito.
Suponha que enlouqueci
e que minha razão seja intranquila para alguém tão metódico e afinado.
Suponha mais uma vez que minha música é apenas barulho
e que as cordas estão ainda mais desafinadas.
Suponha também que o amor venha para mim em superficialidade
e esuece de cobrar as juras de uma fidelidade inexistente.
Suponha que falar da paixão seja para mim doença
e entenda que não existe sentido nas falas desconexas da minha escrita.
Seja apenas aquilo que eu te empreesto...
apenas a sombra
assim será muito mais fácil...
tanto para sua suposição lógica
quanto para o meu delírio!!!!

Vagas 1 ***


"Tenho o cego desespero quando abrindo a página percebo que ainda falta um pedaço....de mim!"

Comunicado!*******


Tenho a impressão de que o tempo passou...
estive sempre a escrever-te cartas e pensamentos.
Tenho a nostálgica sensação de que meu coração se afundou em mim
e que seus batimentos respondem a outro chamado,
não pulsa como quem anda apaixonado!
Tenho a imensa sensação de estar sempre sozinha
e que a xícara está sempre vazia...
Isso passa?
Precisamos inventar outro nome para a solidão
e isso sim é urgente!

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Escrevo-te na intenção de desvendar-me. Pintar quadros de uma existência que precede a essência e que forjamos todos os dias. Faço poemas para os outros, tendo de mim mais ou além do que sou, mas faço e escrever-te é tentar atirar contra mim mesma. Somos feitos da mesma matéria. Retalhos da mesma carne. Somos dois multiplicados, ora subtraídos, diluídos em outros e existindo de novo.
Proponho-me ao exercício da interpretação. Excluir os fatos para subordiná-los como conseqüência do que somos. E assim abro margem para divagações. Misturamos-nos, temperados pela mesma dor e o mesmo sangue, numa universalidade que nos faz únicos diante dos outros. Assim também te proponho ao experimento do olhar, calcular desmedidamente as ações e depois assumir não só os ricos como também as falhas.
Depois do café, do cigarro e do banho, tomando aquela velha sensação que de tudo já havia sido dito, mergulhei no espelho da fatalidade e deixei que o silêncio não culpasse os culpados. Separei os fatos, diluí com tinta e pimenta e puxando da terceira gaveta um bloco de folhas em branco, uma caneta e comecei o momento intranqüilo da confissão. Não sabia ao certo a quem endereçaria, talvez a mim ou a você, que no final, era a mesma coisa. Sempre fizemos um em dois, longe daquela figuração romântica. Estava certa, tudo aquilo e isso que despejo, vomito ou simplesmente confesso não havia um endereço para chegar, para ser recebido, apenas existia enquanto vivo. Talvez fosse para os olhos famintos de quem precisasse de algo para devorar, talvez fosse para alguém que engoliria as palavras como pedras para que pouco a pouco fossem dissolvendo e ganhando sentido e pensar assim insuflava a determinação de ir até o fim e suportar a conseqüência.
Mas ainda sim escrevo pensando que você era o endereçado, que você em algum momento, no trânsito, na cama, em algum deserto, leria com olhos de medo esse desalinho todo que provocou por tão longos anos. Penso na sua invisibilidade, em suas mãos muda a tatear em mim sentido, em sua fala pequena a agredir minhas ações e lembro como era difícil existir com você por perto.
Pronto. O silêncio outra vez a manchar a ocorrência dos fatos. Entrego-me, fazer isso é a única coisa que me resta. Deixar que minha interpretação avançasse sobre nossa realidade construída. É impossível não existir antes. E ser essa imensidão me faz mergulhar cada vez mais fundo na profundeza dos meus e teus olhos, que não vejo, mas imagino. Pronto, mais um tiro no escuro, com vítima certa, apesar de tudo. Falar dos teus olhos é falar em abismo, de uma escuridão, que hoje esclarece os fatos, que os desmontam primeiro, para depois me possibilitar interpretá-los sem culpa, mas nunca sem medo.
Foi por causa dos teus olhos, hoje, especialmente mais misteriosos e calmos amendoados como os meus cabelos, que deixei de ver em ti o caminho fervoroso dos meus dias. Esses olhos que roubaram os meus gritos de prazer ou de dor, olhos miseráveis, a espreitarem o meu acidente. Olhos luminosos a escurecerem minha fala, por eles é que não pude lutar, por causa do repleto vazio que nele abriga. Naquele vazio que vem de um nada maior, um nada que é tudo, que denuncia que dilata como a pupila prestes a se apaixonar. Foram esses olhos, eterno apocalipse, que favoreceu o acontecimento fatal, apenas a olhadela desinteressada do teu assombro que em mim retumbou como desmoronamento. Isso apenas me basta. A lembrança desse olhar faz-me recolher por um instante as palavras, como se estivessem espalhadas no chão e guardá-las sob a custódia da ignorância ou da culpa, ou seria do medo? Não sei.
E despejando aqui sobre os olhos daquela interpretação que disse antes, penso que na sua suposta organização limpa, tomando um drink, depois de ouvir um bom clássico, é a mim que involuntariamente vais recorrer. É o caos apoteótico da minha existência que o fará companhia nas longas noites que faz dos teus dias. São nas alegorias da minha personalidade que você, tão metódico e categórico, recorrerá para calar a desordem que se aproxima a cada dispontar da minha ausência.
“- Não se preocupe, será o nosso segredo. Não irei maldizer da tua fraqueza maior, estou apenas interpretando”. Apenas dando a razão liberdade para que seja mais simples ou complexa, dependendo da dimensão e da altura que se olha. Não se assuste com a certeza, certezas sempre foram falhas e perder é um vício. Não se limite a pensar também que tudo é apenas um enorme esforço do meu inventar, embora goste das engenhosas invenções, sei o limite entre o real e a fantasia. O que houve entre nós sempre esteve antes no meio desses dois extremos. Daqui de onde olho é o que posso ver. Talvez eu tire os óculos e mais tarde veja com mais compaixão e menos zelo.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

E depois de tanto causar dissabor, penetra subtamente no meu reino, onde palavras têm muito mais cheiro, muito mais a dizer, que verbos, sujeitos e predicados, mas para isso, primeiro mastiga, mastiga bem e depois venha e me prove*!
(Leminsk)



Quando nada mais se pode, convite o silêncio para tomar uma xícara de café, será ele responsável pelos próximos longos anos de conversa*!!!

(Clarice Lispéctor)

terça-feira, 24 de novembro de 2009


Não existe ninguém por trás do sorriso, tudo que está vendo é apenas um tremendo esforço de ser.
Não existem palavras que eu fale que já não foram medidamente calculadas e desmedidamente sentidas, as falas são esgotadas ao longo do tempo.
O relógio da paciência marca fim do jogo embora o coração grite querendo alguns segundos de prolongamento.
Não há mais nada além dessa fotografia, sua face a me desnudar com as flores, como sempre quis e eu sempre neguei, apenas a última lembrança, esta que desejou desde o primeiro instante e que nunca pude dar, talvez por mero prazer em negar, ou apenas, por vergonha de assumir que de fato transitava do inverno para a primavera, mas agora não preciso ocultar nenhum segredo, não há necessidade de deixar mistério, portanto receba a fotografia como uma despedida.
Não existe aquela imensa sensação de vazio que sempre deixava quando partia, agora a sua ausência revela o quanto estive em paz e que era você responsável pela desorganização dos meus sentimentos.
Não existem mais fatos a comentar, cartas a responder, nem mesmo pedidos a serem negados, o que resta é apenas o que deve existir no fim, o final.
Guarde a imagem que deseja dentro de uma garrafa, atire ao mar quando perceber que tudo não passou de um breve delítio tropical, de nós dois, e só.
Não se mate e não me procure, nada mudará o fim, eu dava as cartas e esta é a última, me desculpe pela razão encharcar a página desta última dedicatória, mas foi assim que terminou para mim, com excesso de realidade e nada da imensa fantasia.

Procurei motivos para não te deixar
Não encontrei.
Procurei motivos para te amar mais
Não pude entender o motivo dessa procura.
Procurei retalhos que nos emendassem mais
Encontrei sobras, falta de espaço.
Procurei razões que me afastassem
Milagres que não aconteceriam
Palavras que jamais pronunciaria
Propostas que jamais aceitaria;
O que encontrei afinal
foram restos de uma construção inacabada
e um coração encharcado de amor e chuva*
***************************************

domingo, 15 de novembro de 2009


Desenrola o fio, fio e filme...
e depois me diga...
o que tanto enrola???

"...para que depois em dissabor possa te devolver o paladar da palavra EFEITO"
"Sobre a arte de entender quem somos"

Sobre a palavra**


Meu Deus do céu, não tenho nada a dizer. O som de minha máquina é macio.Que é que eu posso escrever? Como recomeçar a anotar frases? A palavra é o meu meio de comunicação. Eu só poderia amá-la. Eu jogo com elas como se lançam dados: acaso e fatalidade. A palavra é tão forte que atravessa a barreira do som. Cada palavra é uma idéia. Cada palavra materializa o espírito. Quanto mais palavras eu conheço, mais sou capaz de pensar o meu sentimento.Devemos modelar nossas palavras até se tornarem o mais fino invólucro dos nossos pensamentos. Sempre achei que o traço de um escultor é identificável por um extrema simplicidade de linhas. Todas as palavras que digo - é por esconderem outras palavras.Qual é mesmo a palavra secreta? Não sei é porque a ouso? Não sei porque não ouso dizê-la? Sinto que existe uma palavra, talvez unicamente uma, que não pode e não deve ser pronunciada. Parece-me que todo o resto não é proibido. Mas acontece que eu quero é exatamente me unir a essa palavra proibida. Ou será? Se eu encontrar essa palavra, só a direi em boca fechada, para mim mesma, senão corro o risco de virar alma perdida por toda a eternidade. Os que inventaram o Velho Testamento sabiam que existia uma fruta proibida. As palavras é que me impedem de dizer a verdade.Simplesmente não há palavras.O que não sei dizer é mais importante do que o que eu digo. Acho que o som da música é imprescindível para o ser humano e que o uso da palavra falada e escrita são como a música, duas coisas das mais altas que nos elevam do reino dos macacos, do reino animal, e mineral e vegetal também. Sim, mas é a sorte às vezes.Sempre quis atingir através da palavra alguma coisa que fosse ao mesmo tempo sem moeda e que fosse e transmitisse tranqüilidade ou simplesmente a verdade mais profunda existente no ser humano e nas coisas. Cada vez mais eu escrevo com menos palavras. Meu livro melhor acontecerá quando eu de todo não escrever. Eu tenho uma falta de assunto essencial. Todo homem tem sina obscura de pensamento que pode ser o de um crepúsculo e pode ser uma aurora.Simplesmente as palavras do homem.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

"Sobre teus olhos" **

Teus olhos me devoram desumananos.Esse par de olhos negros que não enxergam bondade, apenas desejam escárneo. São eles, assim, perigosos, vertiginosos e molhodos que me fascinam, mesmo sendo tarde.
Teus olhos, hoje, depois de me ver apagando mais um cigarro do dia, procuravam em mim, depois de tudo, com alguma doçura o amor que tanto dei e que você negava. Amor este que se foi com o equinócio do mês passado. São esses teus olhos, brilhantes e secretos que me fez ontem a tarde chorar feito criança pequena de saudade ou de medo, não sei. Foi a lembrança execessiva deles à procurar em mim sossego, assombro ou paz que bem tarde, bem tarde, derramei sal sobre todas as cartas que escrevi e não entreguei que agora vão se desmanchando com o resto do sentimento que sobrou.
É assim, como num quadro, numa fotografia que imagino teus olhos, revelando todo o pavor por trás da beleza. Em aquarela, sangue e suor, seu corpo é desenhado e concebido, assim, ainda deitado do meu lado a segurar as minhas mãos abandonadas no espaço do abismo que nos fez e faz cada vez mais sozinhos. Porque somente assim, nú e de olhos abertos, exposto como obra de arte é que faz sentido para mim a paixão que vivemos alguns dias e que me arrastou durante anos. Assim, apenas assim, desse jeito apaixonado e rasgado, como sempre fui e serei.

Ps: Nunca acreditei na verdade que teus olhos exaltavam, e você nunca pôde entender o valor real das minhas palavras, eis os nossos erros.
Imperdoáveis.

Perdoe apenas a indiscrição do meu observar.

domingo, 8 de novembro de 2009

Sexo ** Zélia Duncan*


Sexo é integração

Não é abuso

Não é serviço

Seu corpo forte e bonito

Não é só por isso, pré-requisito

para mim é satisfação.


Pode ser

Pode ser bom

e pode ser

Pode ser não

Mas pode ser


Carinho é sensação

Não é capricho

Nem disperdício

Mas suas mãos de veludo

Nem sempre dizem tudo

Mas meu corpo quer saber.


Pode ser

Pode ser bom

e pode ser

Pode ser não

mas pode ser


QUANDO O SEXO ACABA

TUDO DESABA

É UMA QUESTÃO DE CONSTRUÇÃO


Pode ser

pode ser bom

e pode ser

pode ser não

mas

pode ser...

quinta-feira, 5 de novembro de 2009


Refrigera dor

Congela dor

Para que depois possa mastiga-la

...

Tritura dor

Ventila dor

Liquidifica dor

Para depois engoli-la com um pouco de água e pimenta

...

Zela dor

Maquia dor

Eleva dor

Para que antes de senti-la seja

...

Multiplica dor

Escorrega dor

Condiciona dor

Para que depois possa refazê-la em pano e linha, colcha.


e antes que me diga, já sei.

Trsite,

doente,

mas absolutamente necessária.

De repente estava num deserto, não sabia se meus passos eram direção ou dimenssão, estava apenas ali, de corpo inteiro, sem a mesma coragem de antes, mas com a mesma ousadia.

De repente, palavras eram companheiras de sol, de lágrima, de sal, e a música era apenas a que escutava em ecos dentro de mim...

De repente, os olhos já não viam, era como se em espécie de encantamento eu estivesse apenas ali, sem ter a certeza de que partilhava de um corpo diferente naquele espaço todo, parecia que éramos um em comunhão com o universo.

De repente, estrela e lua brilhavam ofuscando qualquer alcanse de visão e ali sentia filha, filha de uma mãe gigante, de uma mãe que carrega todos no colo, e que não só acolhe, como desvenda, ensina, destrói até.

De repente, minhas mãos eram barro e em minhas costas grandes asas batiam rumo a liberdade tão desconhecida...e meu coração saltava, como se dentro de um sonho caíssemos sobre a cama, suados.

De repente, tão de repente, que parecia apenas delírio...

e o mais assustador,

era a realidade, bruta, como a flor do meu querer.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Amork**


Voa coração de pedra, voa

Voa longe, feito bicho engaiolado,

Voa buscando liberdade...


Voa

direção oposta,

contra-mão

Voa longe,

espaços

ocupa

refrigera, voa...


Voa coração distante

de encontro a tua tão sonhada liberdade

Voa ao longe

de encontro ao desencontro

que se vê nas tuas frestas...


Voa,

zela dor

refrigera dor

ventila dor,

para depois

ressurgir das cinzas que ficaram soltas num espaço firme...


Voa

Voa para lembrar da prisão

Voa

Voa pra só depois dizer

que vai apenas encontrar

o pó da estrela que somos

em outra dimensão


...

Amanhã***


Amanhã vou cortar os cabelos. Vou dizer tudo àquilo que um dia tive medo. Vou contar aos meus filhos histórias com finais felizes e vou sorrir vendo uma borboleta pousar numa flor qualquer do jardim.Amanhã vou fumar o último ópio, descrevê-lo e desisti-lo. Vou entregar aos donos todas as minhas verdades e pedir que inventem outras mentiras para que eu possa viver para transformá-las.Amanhã vou abrir as janelas da casa, vou varrer todo o mal, esvaziaros copos e limpar todos os vestígios de uma noite insana. Vou pendurar as roupas no varal e deixar o vento balançá-las, assim o exercício diário se torna mais fácil.Amanhã vou arrumar as malas, comer as maçãs, esquecer os vidros do carro aberto, e lembrar que ainda posso ir a duzentos por hora. Vou comer chocolate, recordar a infância e pedir colo à minha mãe.Amanhã vou esquecer que tenho agenda, horários e compromissos, para me perder na imensidão do teu olhar. Vou comprar uma nova música, tomar um pouco d´água, cantar com os passarinhos e só deixar o meu coração dizer.Amanhã, bem cedo, vou esquecer a morte, me entregar à vida como aquela doce criança, que de tanto amor, não vê tamanha desgraça...DA VIDA.Amanhã vou cortar os cabelos e me livrar do luto, estarei de verde, pronta para o mundo! Receberei as pessoas como se recebem os anjos e aprenderei ouvir sem que as interrompa nem um instante siquer.Amanhã deixarei a brisa levar-me a mares que desconheço, para só depois, bem depois, dizer qual será o meu refúgio.Amanhã vou cortar os meus cabelos, e estarei livre!

Ego***


O avesso de mim sou eu de novo! Rindo. Sou eu cheia de sorrisos e promessas. Transbordando esperança. O avesso de mim toma drink´s tropicais, mas não fuma. Reserva o prazer somente para os beijos. O melhor beijo. AQUELE que no lugar da língua, suga com os dentes.
O avesso de mim sou eu gozando. Extasiada de um prazer vivo. De um delírio ardente. Suspirando palavras de amor. Dizendo acreditar nele. Assim, do avesso sou divertida. Leve. Pluma no lugar do juízo. Diversão. Sou dia, sol brilhando forte. Retalhos de um filme engraçado. Futuro do presente bonito!
O avesso de mim sente na pele a brisa cheirosa do vento. Come amoras, de-li-ci-an-do! Brinca de dormir, se entrega ao sono, quando está com sono.
O avesso de mim Ama. O reverso odeia. O avesso, organização perfeita. O reverso, caos sem qualquer perfeição. O avesso comete pecados, o reverso, chora.
Mas o que somos senão mil faces de um mesmo lado? A grande questão é que alguns assumem outros egos, outros, escondem. Eu, mesmo que quisesse esconder, não conseguiria. Eles vazam das pontas dos dedos aos rabiscos possíveis feitos com a caneta.
O avesso de mim sou eu, de novo!

Meu Corpo


As horas passam. Meu corpo apodrece. Horas de caos me consomem. Os olhos tentam recuperar o brilho. Mas meu corpo continua apodrecendo. As horas silenciam meu medo. Meu grito sai como um pedido de desculpas. Não sei se existe algo a se desculpar. Mesmo assim, peço.
Meu corpo apodrece. E eu não tenho tempo. É como se escapasse de mim qualquer chance de sobrevivência. Ainda sim, respiro. Luto. Guerras são como dançar a dois. Perco-me nos passos cadenciados. Doce baile da morte.
As horas passam. Meu corpo encontra equilíbrio onde em espasmos soltas delírio. Perco-me na tua intensidade. Tu me completas de nada. Eu te alucino. Trocamos gozo e não sabemos exatamente de que gozamos. Estás perdido em mim. Eu encontro severas punições para o teu prazer.
Meu corpo apodrece. As horas calam tua ausência. Suspiros convertem nosso desejo. Ainda que desejar seja um exercício perigoso demais para nós. Meu corpo acaba a decompor seus motivos, seu abandono é compreensível. As horas continuam passando. O teu silêncio é um breve descansar para mim. Preciso dos teus espaços. Preciso do teu contágio. Mas você não sabe se quer se contaminar. Enquanto isso navego nas horas do meu vazio. Do meu precipício.
Espero pelo dia que meu corpo pare. Espero que as suas marcas em mim sejam apagadas a qualquer custo. Espero que nosso encontro seja breve; mas eu não tenho medo da espera.
As horas passam. Meu corpo, apaixonado, apodrece. E tu não sabes onde quer chegar com tudo isso. As horas continuam passando... E você não compreende que é preciso se decidir. Que é urgente que tenha coragem.
Meu corpo apodrece. Preciso calar tuas palavras em mim. Preciso cometer um crime. Preciso de me livrar dessa passionalidade que vivemos. Preciso esquecer que somos dois, para só depois deixar meu corpo deveras perder no seu. Mas não sei se consigo dissociar você de mim. Não sei se consigo desprender do significado que é ser nós. Preciso. Mas não sei se quero. Não sei se posso. Não sei se me é decente. Sei que as horas passam. Sei do trepidar das coisas em mim. Sei do que preciso para sustentar meu nada. Meu vazio.
As horas passam. E meu corpo, apaixonado, apodrece.
Nós não sabemos mais nada. Eu e você. Se é que podemos nos dividir em dois. Não sei se cabem dois de nós no mundo. Somos loucos. Incrivelmente loucos. Por isso precisamos comungar de um. Beber o mesmo néctar. O mesmo veneno. Engolir as mesmas palavras. Mastigar o mesmo amor. O mesmo ódio.
As horas passam. E meu corpo apodrece. Completamente atrelado a paixão que tu me causa. Apodrece também por isso, por aquilo. Por tudo!

Deslizes Casuais**


Na sala há um relógio que conta as horas do esquecimento. Na parede um retrato ausente aponta um instante ou será alegria? Anos de ferro. Passando roupas amassadas, vítimas do desejo, hoje secam ao vento no varal da loucura de um sábado quase sem sol.
No quarto, mentiras de uma vida feliz, sobressaltos, assombros de um passado traído, dispensado, esquecido. Nas bocas palavras sem cor vazam pelos cantos minando ainda a única certeza. Os olhos cicatrizes vivas da realidade falida, vitrio como aquela jarra que enfeitava a mesa, cheia de flores secas, anuncia a descoberta, falta de sorte ou acaso, não sei!
Nas mãos calos de solidão pulam contando histórias malditas, ainda cheias de fantasmas, sonhos, ilusões. No peito que antes vibrante, canções da fuga inundam propostas inversas da vida. O homem a mascar o fumo no portão. A mulher, dedos furados, sangrando o bordado para a neta que vai casar.
O tempo marcado pelo esquecimento, marca relógio do tempo, final. Quem será a vítima? Sábado à tarde, borboletas voam direção, rumo ao infinito. No quintal plantas que morrem pelo sal das lágrimas derramadas no fogão!

Alma de Chumbo***

Minha alma é de chumbo e segredo. Não sei por que você insiste em dizer que sou borboleta, asas e liberdade. Estou atrelada à realidade, passos de ferrugem marcam os espaços percorridos. Sou ácida, tão doce como maracujá azedo, feita do pó do asfalto, alma de chumbo e segredo!
Ainda que dissesse livre, correntes prendem o vôo de Ícaro dos meus pés. Estes caminhos obtusos incapazes de ditar qualquer destino plausível.
É uma alma pesada, tesouros e papéis, mel e sangue, ainda que um pese mais que o outro. Portanto, junte o acaso de todos os fatos e pense como sou cinza, poeira de vento. Maleável, corrompida, como vidro bruto transformado em mosaico, tangível e bela, intolerante e abusiva.
Minha alma de quinhentos anos, aromas e sabores, vertigens e segredos, ah alma de chumbo, dentes de aço, nervos de rosas, sopra-me e verás bomba de Hiroshima em alto relevo.
Chumbo e segredo, alma preta, corpo branco, calçando os pés empoeirados com aquele all star laranjado de tempos atrás.

Tarde, bem tarde***


E foi muito tarde, bem tarde, que abri as janelas para ver se encontrava minha liberdade. Meus pés calcados em sangue e poesia, caminhavam rua acima sem saber exatamente o caminho da chegada ou se de fato estavam partindo de algum lugar, meus ouvidos maculados pelos segredos mais escuros que ecoavam da música ao longe podiam apenas sentir o arrastar da melodia, a palavra, que antes saia em harmonia, agora lambe o chão de terra que me encontro. Não sabia se de fato encontraria a liberdade azul, sabia como quem sabe se terá ou não sol amanhã, que meus pés a procuravam desesperadamente e que estando amarrada por trás daquela janela, eu podia apenas tocar a imensidão que me propunha o salto...

Não sabia de que altura estava, sabia que a queda era certa, sabia de fato, que a realidade era esse pular, era esse arremessar para fora, ou para dentro, dependendo da dimenssão que se espera...sabia apenas que era necessária a coragem e esta tinha, então viver buscando a liberdade era apenas dar aquele salto...e me propus a pular.

As palavras finais antes do gesto eram simples, nada de heroísmo, eram apenas desabafos,

em breve estarei livre, mais nada!

**Chuva Quente**




E tarde, bem tarde, depois de assistir todos os fatos, é que vi a chuva violar todos os movimentos seguintes, é que vi toda a enxurrada de palavras que não disse.
Bem tarde, só depois do jantar é que senti o cheiro do vento trazendo a chuva que molhava ervas, rosas e brejos.Foi bem tarde, longe das horas claras que pude entender aquele bilhete que dizia dos anos, do medo, do tempo.
Logo, depois que a Lua desaminada deixou de enfeitar o céu e a madrugada descalça enfiou-se no meu ventre tropical, é que pude sonhar com aquele momento onde tudo em silêncio falava mais que o rádio esquecido há tempos ligado perto do fogão à lenha.
Prevendo aquela chuva, rasguei papéis esquecidos no passado, para que do lado dos sapatos não restasse pistas. E chovendo sobre as casas, lagos, rios, e chovendo sobre as cabeças, os vestidos, as sombrinhas, choveu em mim, chuva tão quente que no lugar do frio, acalanto. E no lugar do assombro, desejo! E chovendo uma chuva quente, tudo aquilo que não foi bom era derretido, desfeito, reconstruído. Numa mistura de cheiros, gostos, dissabores. Fazia-se vivo o que já era morto! Assim nenhuma cicatriz, nenhum resquício, nenhuma miséria escorria das frases mal feitas do diário da menina.
E quando o sol começou a ejacular raios de alegria, a tal menina dormia, sonhando com chuvas em dias de frio.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Minha verdade


Não se assuste com as minhas verdades, elas são igalhas do que sou. Claro que me entorto, retorce em mim caminhos que convidam ao fim. Será que houve começo em algum momento?? Eu não sei o que do muito eu fui, sei apenas que existo porque tenho corpo. Tenho sangue que transborda, que ocupa espaços que nem sei ao certo se sçao meus ou dos outros. Sei apenas que existem e que eu os ocupo com minha fala, com meu cheiro, com a minha estranha forma de me dilatar!
Não se assuste se minha presença for estranha sensação de medo, fantasmas são meus amigos mais sinceros. Descanso sobre eles todas as minhas febres. Sinto muito, sinto tanto se ao perceber minha presença já for tarde, ela é apenas aparição em noite de lua cheia.
Não me importo com as risadas desmedidas, assombradas que me recebem, conservo o choro porque nele há exata medida do que sou. A lágrima vulcânica refelte o deserto que me faz refazendo todos os dias.
Não se assuste então se te digo como sou assim tão imprecisa, incompleta, afinal, completude é sonho de hipócritas. somos em essência incompletos, a sempre pedaços que faltam e espaços que sobram. Minhas verdades são assim mesmo, face oposta do bom gosto, do bom senso. Estas são qualidades que não pude ter.
Não se assuste então, espreite pela janela silenciosa, desvende toda a minha visão dos fatos, para que mais tarde possa severamente me dizer adeus, despedidas que para mim começam quando nos propomos ao encontro. Não me importo com aquele adeus apaixonado, eles servem como consolo da solidão.
Proponho-me as verdades inventadas, elas cabem dentro do meu coração, que já não bate, mas que razoavelmente bombeia o sangue que vai jorrando, que vai preenchendo, dando algum sentido a sentido nenhum que já existe!

Rabisco***

Falta.
Falta um pedaço. Falta cigarro. Ópio.
Confusão.
Falta roupa. Coragem. Decência.
Falta papel.
P-A-L-A-V-R-A. Explicação.
Falta silêncio. Sobra vazio. Sobra nada. Falta tudo.
Falta chuva. Solidão, bebida.
Água. Sangue. Gume. Veneno.
Antídoto contra tentação.
Falta cama, sobra tesão. Falta beijo. Sobra boca. Sobra espaço. Falta pouco. Um muito complicado que descomplica situações.
Falta muito pouco. Exagero. Sobra falta. Falta excesso. Falta abrigo.
Comida.
Falta a falta. Falta e sobra tempo.
No fundo fica sempre faltando.
O gole fatal.
O gesto
Final.
Falta estar repleto. Sobra um enorme
Transbordar.
Enorme d-e-r-r-a-m-ar rio mar.
Que falta.
Falta a fala desmedida,
Demasiada espera de completar.
Falta você em mim como
Sobro em ti.
Falta pouco, falta tanto, falta muito.

Sobre o nosso fim***


Ele apagou o cigarro e a única certeza que tive foi que havia também apagado todo aquele sentimento que em nós nos fazia grande. Eu continuei fumando, em mim ainda morava nosso deserto, nossas palavras inféteis.
Já nele, que depois do cigarro apagado, passou as mãos no meu cabelo, o sol havia parado de queimar, já não éramos espelho refletindo opostos, éramos estranhos, mas até aí nenhum frescor, apenas a confirmação do início.
Éramos apaixonados. Não nos cabia a paixão pelo outro, morríamos em nós mesmos. E isso dificultava o exercício. Isso fazia da nossa história final sem começo ou meio. Éramos egoistas. Medíamos a medida da entrega. Doáva-mos como quem somente empresta. Queríamos sempre a devolução.
E foi exatamente assim, no início da noite que sentados num banco de uma praça pequena nos dissolvíamos. Deixamos de existir e nossa existência imediatamene ganhou leveza. Ganhamos inesperadamente a liberdade!
Que venha o natal, presentes e reuniões, que elas sejam breve, antes que me matem de solidão.
Antes que o final seja em mim começo, até que de tanto sorrir, chore feito menino querendo colo.
Que venha então toda a palavra encantada que fulgura por detrás da festividade, que papai noel passe sim, me deixando cacos de vidro de presente, e que estejam devidamente embrulhados, para que eu me lance sobre o abismo tão aclamado do fim.
Que seja então como as crianças preferem, que a ilusão não se finde, e que a carruagem jamais perca a direção da chaminé...e que o bom velhinho sempre carregue presentes seja qual for o preço e o peso deles...

é asssimm que recebo o natal....
não que não goste das lindas mesas de ceias fartas e pouco paladaar...
apenas preciso e pressinto que este ano falta-me antes do presente o desejo!

Em ti, o mar****


Estou tentando fotografar o perfume. Estou tentando. Experimento para que você possa antes de ver, sentir. Prefiro que invente a imagem. Já disse que prefiro o gesto. Parece que você esquece. Por isso prefiro tentar a fotografia. Assim talvez se perca nessa imagem descolada de tempo que os relógios contam.
Tento fotografar o que a palavra provoca em ti, para provocar mais. Mas você não deixa. Você oculta o segredo todo para que eu continue inventando instantes e palavras.
Esse ofício que me empregas me mata como me dá vida. Me dá de comer, ainda que prefira a fome. Não resisto. Entrego-me ao banquete e desenovelo a palavra para que você se satisfaça. Mas ainda desejo fotografar o instante. Para que possas um dia rever tudo aquilo que te prometi. Cumprir já está fora do meu alcance. Apenas desejo instaurar o instante da palavra que te ofereço. E fotografar teu sentir será presente para minha retina cristalizada no teu nome.
Fotografo tuas mãos, elas me lembram o mar. Ondas perigosas. Gosto desse desafio. Gosto do temer. Gosto da sensação do frio. Suas mãos são como as ondas, agarram-me para que ti não me esqueça. Ressaca minha palavra. Para que depois eu deite na areia úmida do seu corpo e deseje navegar. Deseje navegar sempre.
Por isso tento num intento profundo fotografar o perfume. Ele me fará mar também. Ventania na tua costa. Para que se esquecer perfume que sou, passas lembrar no instante outro.
Então vigio o instante do clicar. Precisa ser preciso. Precisa ser instintiva a fotografia do cheiro para que na hora marcada pelo agora, tu naquele mar outro que te engole viva, sintas o me chamado, antes do abismo.

**Vício Novo**

Hoje perdi as palavras, elas não me saem da boca, nem dos dedos, como ontem. Deve ser pelo novo excercício que me ponho, amar exige exclusividade.
Hoje minha língua caminha em outra direção, desvenda o silêncio que sai de ti como alguma promessa, nem sei o tamanho daquilo que tem me feito sentir. Sei apenas dos estragos, o que já é muito.
Hoje, depois de acordar e ver-te arrumando todos os fatos para que eu deixasse de acreditar na noite, percebi que tudo para mim fora valioso demais para ser violado e que você não havia dado tanta importância. Então entendi que havia coisas que nasciam de concepções diferentes, sentimentos vazam de forma estranha a cada um, por isso talvez, eu tenha perdido a palavra.
Hoje esqueci o cigarro aceso e a palavra foi morta, brutalmente assassinada na ausência do seu cheiro, das suas mãos sobre mim, do pior jeito descubro que amar também é estar só.
Descobri que tudo é uma questão de entrega e que eu havia me entregado demais. Que na verdade, me entrego demais. Não tenho medo dos excessos, eles são o que realmente me transborda. Aquilo que de alguma forma me mantém atenta, viva. Mas o preço era alto demais e não acreditei.
Hoje, depois de arrumares as malas, ligar aquele carro velho e dar a partida sem olhar para a cama, sem constatar os estragos, eu pude entender que em mim nascia alguma saudade e em ti, sobrava pavor. Mesmo assim, procurava seu olhar para uma última verdade e o que pude alcançar foi mais uma vez o silencio.
Não sei se foges, se esconde, se assim está de fato se expondo, apenas conheço tudo aquilo que me causou e isso já é o suficiente. Não sei se vai voltar implorando um abraço, um beijo que sua língua me roubou ontem à noite, não sei se revogará seu direito de amar quem lhe pareça mais amável, só entendo que as malas diziam do nosso fim.
Hoje perdi a palavra e viciei em olhar pela janela, a espreitar sua amarga e deliciosa chegada, mas as horas passam, o dia se alonga e sua partida ainda é mais clara que hoje cedo, antes do sol.
Viciei em contar teus beijos, aqueles que de arrepios marcavam minha nuca, viciei em teus olhos que viam não o amor chegando de leve, mas aquele que anunciava partida. Viciei em contar-te os cabelos, os medos, à beber em ti aquilo que havia me alimentado durante anos e ainda desejo, mas não posso.
Hoje esqueci o valor da palavra e me perdi na ausência que de ti senti quando cedo vi seu bilhete sobre a mesa que dizia que nada mais era real. Hoje perdi a palavra e a cabeça.

**Noite**


Acordei. Palavras metem-se na minha cabeça. As falas não repetem. São ecos de um sonho ruim. Tento levantar, as pernas estão enterradas na areia movediça da consciência. Não tenho passos, os caminhos noturnos soam como pedido. Tenho medo, pressa. Mas é preciso arriscar uma saída. Acordei. E não tive tempo de digerir os seus sussurros na noite anterior, sua fala delirante, seus desejos sombrios. Não me contenho e acendo outro cigarro, o ópio liberta. Mas minhas asas estão presas. O que posso senão querer voar? A liberdade está em mim atrelada a um estado de consciência. Portanto, asas desmancham a ilusão do vôo. E assim vou longe, encontro-te na esquina do meu querer, onde descalço esperas por um beijo quieto, doce, algoz. Torturas minha fala elevando sentidos que nem posso sentir, a superficialidade do gesto me obriga a sair, tentando esquecer que tudo soa apenas como um enorme esforço de ser nada. Nosso mal é ainda querer sem esperar a hora, sem nos dar conta de que tudo precisa ser velado, como nossas vozes, dentro de um imenso silêncio de palavras. Acordei. E a noite insiste em prevalecer em mim. Os versos de um poema fazem viver em mim aquilo que conheço, mas não classifico. Apenas vivo. Numa urgência de sentir o trepidar do mundo. Calar o meu nada. Amansar as ondas do meu mar. De qualquer forma, amansar também minha loucura. Acordei. E nem mesmo posso gritar, palavras me foram roubadas, assim, existo parcialmente, engolindo aquele veneno que me exige ser inteira. Evito sentir aquele cheiro de primavera, mas as flores nascem arrebentando os passeios públicos. Os passeios onde brotam as margaridas e os amores. Evito respirar, mas o ar frio da madrugada sufoca meu esforço e eu sobrevivo. Tenho medo, mas o silêncio estonteante dos teus olhos glorificam a minha paz.