sábado, 29 de maio de 2010

Das minhas negações


Não me venha falar absurdos. Hoje estou abstrata. Intensa. Desnuda.
Não me venha falar em saudade. Com ela tomei até o último gole ontem.
Não me venha com tristezas. Respiro qualquer felicidade.
Não me venha com mentiras. Hoje quero a verdade escancarada. Rasgada. Bruta.
Não me venha fazendo manhas. Estive burra, hoje estou vacinada.
Não me venha querendo abrigo. Minha alma está ao relento. e gosto desse conforto da liberdade que experimento.
Não me venha falando baixinho. Estou com o grito atravessado. e quero sentí-lo na língua. dançando.
Não me venha com doces. Estou curtida no amargo.
Não me venha com graça. Perpasso pela danação. pelo pecado. pela condenação.
Não me espere. Porque de faltas vou desenhando-me.
Não me ligue. Mandei cortar os telefones. os pulsos, impulsos.
Não me faça perguntas. Ao incerto devo minhas escolhas. minhas renúncias.
Não me comprometa com suas razões. Sou feita de sentimento puro. e não sei navegar por precipícios sem que meu coração esteja em abundância fúria.
***
Não é que esteja apenas negando, não! estou apenas tentando evitar que depois você me diga como fui cruel.
ainda te espero sentada, com o velho cigarro de sempre. ouvindo aquele blues que você tanto gosta. cheirando aquele cheiro que você tanto se excita.
ainda quero-te como sol, casa, morada, descanso. mas não posso ser passiva a pedidos tão violentos. tão apaziguadores. minha alma bruta não resistiria a tuas lapidações. estaria perdida caso você me deixasse. como agora. ainda não chegaste.
o tempo vai engolindo as minhas esperanças. e eu vou negando para poder não chorar.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Aquela menina


"...ela tinha qualquer coisa de triste nos olhos. mas caminhava mesmo sem saber para onde. engolia com certa dificuldade a comida e os sonhos. olhava para o céu com uma esperança velha. empoeirada. parecia que jamais havia acreditado que seria feliz. ela ainda roía as unhas e fechava os olhos quando sentia medo. nisso havia certo lembrar de coisas acontecidas.

não acreditava em fadas, mas adorava se perder vendo borboletas voar. talvez quisesse ter asas. segredo que não podia contar. se comovia com o amor mas jamais se preparou para recebê-lo. tinha receio de se machucar ainda mais. optava pela paixão sempre. aquela que colore as roupas de sangue e suja as mãos de lágrimas. mas se atrelar a isso era mais humano que amar sem que deveras fosse amada.

ela jamais teve bonecas, vestidos rodados, carinhos e perfumes. aprendeu que precisava ser pura. ter a cara lavada e coragem. porque de qualquer forma, sempre estava nua. e viver sempre nua era correr riscos todos os dias. depois de tanto tempo não perdeu a vontade de ser feliz, mas sabia que o preço poderia ser alto, mais alto do que já pagava para empurrar a infelicidade para fora de sua casa todos os dias. ainda sim queria saber como era sorrir despreocupadamente. coisa que jamais pôde fazer. mesmo quando recebia migalhas. não se lamentava pelo fato de não ter esteio, porto, colo, abraço. sua miséria era maior que a expectativa de que tudo em algum momento passasse. ela conhecia profundamente as frustrações dessa espera. e desistira de lutar contra essa condição. preferiu caminhar com a salva da realidade. sobreviver. era muito mais importante que preservar o sonho. o tempo havia lhe ensinado que era preciso levantar sem que houvesse mão estendida. compaixão. e ela, menina tão doce, não se quiexava. emudecia sua fúria amassando a dor nos dentes, como a mascar um chicele que acabara o gosto fazia tempo.

precisou endurecer para que não morresse. jamais perdeu a ternura. mas isso ficava em camadas profundas debaixo da pele. só saltava pelos olhos quando se esquecia observando a lua. escapava um sorriso amassado. que logo era engolido. pela fome. pelo peso dos dias.

jamais duvidou que precisava crescer. atropelar os sabores de uma infância falida. rendeu-se a intermitência da vida adulta. alinhou a coluna para que erguida pudesse caminhar por vilas que não conhecia. era a vida. sua condição mais humana. seu estado mais bruto. enchia-se de uma coragem a comover olhos desatentos. e seguia. porque era preciso. porque era destino.

ela tinha nos olhos qualquer coisa de triste. e vivo. a cativar ilusões que ela mesma desconhecia..."


quinta-feira, 27 de maio de 2010

"..."

Existe em mim uma inexatidão expantosa. capaz de arrancar rubores na face de quem me olhe com mais paciência. Nunca fui capaz de definir se menina ou mulher. se flor ou borboleta. acho que muitas vezes pedra. tomando forma conforme o passo.
Fico entre a luz e a sombra. o ato e a criação. o que me dá direito de ser apenas um ideal. jamais uma realidade de verdade ou mentira. posso misturar ficção. atrelo-me a essa ilusão de que nada é como de fato mostra-se.
POr isso sou incompreendida. Por relativizar muito mais que pontuar. conheço mais das vírgulas. pontos finais não fazem parte da minha história, que preciso escrever todos os dias. Existo entre o espaço de duas vígulas, com a certeza de uma reticência. Tenho qualquer coisa que abomina o fim. tenho qualquer coisa que já é o fim. Parte de mim abre asas, a outra parte encerra. fecha os olhos. não sei quando sou noite ou dia.
Rabisco tentativas de identidade. sou toda felicidade. muitas vezes estado de graça. venho de qualquer paraíso. mas de repente desconheço pedaço que me completa. sou guerra. choro. vela. vago por distâncias que não cabem meus passos. perdida. como a procurar abrigo em dia de chuva.
Escuto canções que me fazem flutuar. adoro doces que me adoçam. brinco como criança de castelos e areia. derrubo meus sonhos. sobreponho outros. Vejo a lua, canto. peço qualquer proteção. tenho medo de escuro porque gosto das cores fortes. vibrano como meu desejo. Sou feita de qualquer ilusão passageira. e não tenho medo de passar. morrer também é mudar de estado. sofrer metamorfose é grande segredo.
Peço que de leve me observe. e diga com qualquer palavra o que sou. porque também sou feita disto. daquilo que me escapa aos olhos.

Das minhas faltas


"Falta-me o cigarro aceso entre os dedos para me ajudar a engolir esse bolor de luto que se aproxima cada vez mais violento e duro.
Falta-me.
Junto dessa falta, a ausência de qualquer coisa, qualquer palavra viva, anunciação de qualquer promessa, cumprimento de qualquer mandato. Estou atrelada ao nada. Aquele vazio oco, de onde escorrem fantasmas. Pouco me foi dado durante todo esse tempo. Com esses restos, fiz qualquer coisa que achei ser poesia. Qualquer coisa que me deixasse menos muda. Menos silenciosa. Menos desajeitada com as minhas mãos e língua.
Falta-me o ar, que por vezes invadia os pulmões cansados renovando qualquer esperança tardia. Pelo que sei, estar a espreita de qualquer sentimento é negar a distração do acidente. e ser previsível é algo que jamis seremos. estamos condenados ao acaso, seja como for.
Dos meus dedos, trêmulos, ainda saem caminhos que tento não seguir tão desordenadamente. Dos meus pés ainda reconheço a fome de vagar por lugares tão incertos, a me deixar nua. Dessa minha nudez, que por vezes, embora jamais concordasse, revejo todas as pedras que me atiraram e as cicatrizes, que embora, ainda restam, observo como quem esqueçe de lembrar de tomar qualquer remédio para ajudar a suportar a dor. (conviver com a dor, de certo modo, conforta!)Das minhas mãos, onde carrego como em conchas todo o meu sentimento, resta-me a segura, a desidratação de todos os prelúdios. Carrego nelas a inexatidão da minha vida.
Falta-me um pouco de calma. Olhos menos atentos, menos apavorados. Porque nesta escuridão, nada como um canto de acalanto. que jamais ouvi, mesmo escutando as melhores músicas. Estou em estado equatorial. balanço entre tantas verdades inperfeitas. desenho em qualquer canto de mim rastros, quero ser seguida. desvendada. mesmo que aos poucos. confluir salivas. palavras. qualquer sensação que me faça viva. ou me mate. porque morrer também tem seu mistério profundo.
Esqueci de deixar qualquer luz acesa. para que quem quiser não errasse o caminho do abismo que se desmancha gradativamente. no meu deserto murcham-se as flores daquele lilás tão vibrante. sintonizo com o arco-íris. num luto tão barulhento quanto aos gemidos ensaiados por vezes em braços tão estranhos e familiares. já não sei render a essa luxúria. o prazer me devolveu o silêncio e a língua cansada. como meu peito, que já não reconhece batida. palpita. engasga. o amor tem dessas preguiças. ainda sim esqueci de deixar qualquer sinal. para que pelo menos pelo perfume alguém venha e me siga. tenho pressa de ser tudo. embora me confunda em cores e semitons, tão inventados como meu sorriso.
Falta-me qualquer razão. qualquer buraco razo onde eu possa me deixar por algum segundo escondida, esquecida. estou exposta até as víseras. e meu coração já é chão. esteio por onde piso.
Sofro desse vazio irreparável. repleto de tudo. numa constante guerra de dois mundos. eu sofro de todas as coisas e estando assim, sofro ainda mais de nada. porque não conheço outra maneira de mentir. de deixar que minha verdade fale.
de repente me calo, engulo qualquer vestígio de ilusão, amor, sonho; me preparo para mais um mergulho. que não conheço, mas que de qualquer forma, me salva."

terça-feira, 25 de maio de 2010

Do Escrever



"Eu escrevo porque não sei fazer outra coisa senão ouvir palavras dentro de mim. Escrevo simplesmente porque me render é mais fácil que resistir. é mais intolorente que suportar. Por isso escrevo também, porque não conheço outra forma de ser mais irresponsável e intolerante. Latente. Pulsante.

Escrevo porque não cnheço melhor e pior remédio para minhas pestes. e não conheço maior segredo que domine todas as minhas bestas. por isso também é que escrevo, para que de silêncio eu jamais morra, para que de ausências eu esteja resguardada;mesmo que na companhia dos meus fantasmas. de suas vozes falsas, de suas verdades postiças.

Escrevo, portanto. escrevo para que de amor eu possa colorir os dias, e de raiva semear minha morte. escrevo para que de saudade jamais morra. e morrendo que deixe registrada num bilhete, sobre a cabeçeira.

Também escrevo sem motivo algum. apenas pelo hábito tão vil de deixar que a fala escorra pelo canto das unhas. que depois de salivá-las, elas possam molhar qualquer papel. qualquer coração. qualquer olhar perdido que divague por minhas loucuras.

Escrevo por falta de coragem. ou por audácia. para que de rancores meu coração jamais feneça. ou murche. como o de muitos que encontro caídos. Por isso também, para que eu não caia sozinha. que leve para dentro do meu abismo todos aqueles que em mim falam. porque jamais pude dar ao verbo vida sozinha.

Escrevo para que de febre não morra. e se morrer, que fique clara a falta de jeito. escrevo para me salvar da morte. para me salvar de mim. dos outros. de tudo."


**em homenagem ao Blog "Por que você faz poema?" do Herculano.


Escreve


"Escreve no meu corpo qualquer carícia sua.
deixa em mim qualquer vestígio seu.
qalquer desejo que conheço e realizo, mesmo quando cansados esquecemos a janela aberta e nos amamos para o mundo.

Escreve no meu corpo qualquer arranhão, qualquer mordida. deixa que de leve minha lembrança depois me devolva a incrível sensação daquele momento.

Escreve no meu corpo sua palavra mais bonita. mais sincera. mais safada. mais desmedida. porque em nós quando na cama, nunca sobemos medir qualquer gemido.

Escreve no meu corpo sua saudade mais aguda. para que de lembrança eu morra a tua espera. para que de desejo eu sufoque qualquer pedido. para que de amor eu viva a tua chegada.porque em nós existe qualquer sintonia de dor. muitos pedidos de desculpas.

Escreve no meu corpo teu desejo mais profundo, para que de confusões, delírios e fugas, nos encontremos sempre.

para celebrar o amor que deveras sentimos um no outro.

"...o que me resta é a memória da sensação de sua carícia. "


Nos olhos


Te olho nos olhos
e você reclama que me perco no razo da tua profundidade.
Te olho nos olhos
como quem busca porto em alta tempestade.
Te olho nos olhos
com a pureza dos passos de criança aprendendo a caminhar.
para ver se me ensinas o caminho, para que eu não caia.
Te olho nos olhos
com desejo de que me salve.
que arranque de mim aquele mal e me devolva sorrisos. sem que me cobres nada.
Te olho
como quem busca um outro mesmo olhar.
qualquer comprometimento com a farsa.
dentro de ti sei que pulsa o mesmo. a ânsia de te encontrar em mim.
Te olho nos olhos
e você desvia.
meus passos, meus dias, meus caminhos.
vou contigo porque me guias.
estou contigo porque estou segura.
Te olho nos olhos
quando me sangra o peito de uma dor incrível.
e teus olhos, tão azúis e verdes, mistura que tanto me fascina,
me cura.
Te olho nos olhos
querendo te dar mais amor.
e sou imensamente surpreendida!

Do que sou


Sou feita em pedaços. enxerga-me com qualquer multifacetamento que nunca entenderá.
Sou feita de detalhes e retalhos. bordada com linhas coloridas num mosáico negro.
Sou feita em pedaços. cosuturam-me em alinhavos frouxos, porque de amor morro sempre.
Sou feita de lugares e pessoas. sombras e sobras. noites e tantos dias. secos como minhas mãos.
Sou assim, um agrupamento de respostas sem perguntas.
uma sequência inexistente. um dispertar violento. uma calmaria passageira.
Sou assim, música ao longe. verbos decrescentes.
um conjunto de minicertezas e mentiras. uma ótica obtusa e desfocada.
Sou feita de eventos. primaveras e lua nova.
Sou feita de sal; ora com leve acentuamento de douçura.
Sou feita de ritimos, embora o silêncio me ensine o valor de uma nota.
Sou feita dessa deformidade de sentidos e motivos. acredito piamente nessa desordem de valores e censuras.
Sou assim mesmo, quadros sem foco.
verdades sem encaixe.
nunca busquei o exato. sofro de inexatidão. como minha existência.
So uma súplica, um pedido. um desejo.
nunca pude entender a vida sem esse valor dionisíaco.
para quê existem os prazeres se são condenados?
Sou assim, esse eterno mar de prazer e dor. sem qualquer culpa.
Sou feita então dessa necessidade de muito.
Sou feita do excesso. do exagero. porque tranborda em mim uma fome inesgotável de ser tantas. de ser muitas.
para que um dia, talvez, me encontre uma. e seja todas, sem menor a menor culpa.

Da Espera


"ainda estou esperando. esperando que alguém venha me buscar. que alguém com um sorriso tímido me encontre para um diálogo de palavras murchas e olhares indiscretos.
ainda estou esperando, com certa angústia e saudade. com certo medo e desejo. espero por este dia como quem planeja a própria fuga. atenta aos segredos escondidos nos detalhes.
Vigio o telefone, escrevo bilhetes, molho as flores do jardim, fumo o último cigarro do maço e espreito pela janela qualquer sinal aberto. qualquer caminhar parecido. qualquer detalhe pequeno que me levaria a esperança de ser você, atravessando a rua e vindo me buscar.
ando no vale de minhas (in)certezas. caminho com minhas milhões de ilusões. coloro as unhas e os lábios. invento histórias de amor. compro flores para ninguém e acrescento palavras no meu silêncio que muitas vezes tem me deixado nua. tudo isso para ver se a ânsia da espera seja domada por qualquer sentimento bonito. por qualquer ternura.
mas ainda estou esperando. buscando qualquer paz, qualquer guerra, qualquer pecado, qualquer samba, qualquer renúncia, qualquer concessão, para que de ilusão eu me enfeite a esperar tua chegada.
ainda espero pelo dia em que todas as nossas verdades serão castigadas, e que nos reste apenas o delíro da mentira. que saibamos viver dessa fantasia que chamamos de amor. porque de loucura é feita a maior sanidade. e precisamos estar preparados.
arrumo meus cabelos, perfumo minha casa, verifico a profundidade dos meus abismos, para que mais tarde, depois da tua longa espera, saibas caminhar em mim, saiba encontrar minhas mãos. saiba entender a secura dos meus olhos, saiba amar com aquele amor de tanto tempo.
ainda espero pela hora marcada. pelo rabisco no caderno, espero por qualquer briga besta, por aquele olhar tão sério e tentador de sempre. espero pelo último trago juntos. espero por nossa transa tão sufocante.
ainda estou esperando. com a boca encharcada de perguntas, com os olhos cheios de declaração, com o corpo frouxo, com a alma ereta. porque é desse amor que quero morrer. que quero viver. mesmo que seja tarde, meu amor."

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Do meu observar


Passei por ti sem que me notasse. Era tão pequena quanto a lágrima que escorria de leve, ao canto dos olhos. Passei por ti, tentando não ser notada. e não fui. precisava desse prelúdio do anonimato. do silêncio. queria prestar atenção em ti sem que teus olhos roubassem minha paz tão dolorosa.
Pela primeira vez te vi. com olhos de medo, de fuga, de sonho. com mãos de fantasia a procurar no meu corpo caminho. pela primeira vez te encontrei nu, completamente perdido em meus cantos, ora doces ora tão complicados e machucados. te vi com o coração preparado, em esteio, para um amor que nascia do fascíneo, da palavra cantada. do sussurro numa madrugada fria.
Passei por ti, tão despercebida como aquelas margaridas que nascem na rua do hospício. brutas, nascem no chão, no asfalto, prestes a uma beleza que ninguém observa, mas que existe. assim queria ver-te, num momento sem testemunhas, sem cúmplices.queria ver-te numa beleza bruta. a flor do seu querer, desabrochando viva....e vi...vi com tanta ternura que desse delírio fui rendida.
Em teus olhos tamanha poesia. tamanho desespero, tamanho encanto...tamanho fascíneo.
e depois que bem de longe pude te observar, quis que tua ternura me arrebatasse, quis respirar do ar de teus pulmões. beber de tua saliva tão doce e amarga. tão quente e tão fria. quis amar-te com um amor inventado, quis cobrir-te com minhas realidades, quis, depois de passar e nem ser notada, ser fotografia viva em ti, tão pulsante quanto tuas mãos a tatear meus espaços, meus pecados, meus gemidos.
e depois de tanto me perder no observar, deixei que me levasse para bem perto, bem ao teu alcance, para que de amor, ainda mais vivesse e morresse, sendo de qual forma fosse, em ti, contigo e para ti.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Das Tentativas


"eu estou tentando manter a calma. estou tentando deixar o coração mais leve. menos apertado. estou tentando.
estou tentando ser menos dura, tentando olhar com certa doçura para as dores. estou deixando as lágrimas fluirem. deixando que os sorrisos enfeitem quando sentidos.
estou olhando mais para o céu. me deixando inundar das coisas bonitas. bebendo da fonte que me emprestou a vida. estou tentando acreditar no futuro. nas promessas. estou tentando não me perder nas dúvidas. tentando acreditar mais nos sonhos.
estou tentando ouvir outras canções. tentando dançar outra melodia. para que talvez o destino mude. estou tentando olhar com mais ternura. tentando trazer nas mãos um pouco mais de poesia. e no silêncio da minha fala cansada, estou tentando impregnar mais segredos; para que de mistério eu seja salva.
estou tentando não deixar o frio me deprimir. estou caminhando mais. vivendo mais. talvez procurando alguma fuga. estou tentando.
Vou me perdendo e encontrando neste rosa-céu, tão incrível. lembrando de versos de amor, me convencendo de que a vida é tão incrível quanto morrer amanhã. desconfio dessa nossa perecível natureza. nos condena e nos salva. até quando seremos assim, eternos?
Vou me perdendo em esquinas de medo, de tantos delírios e vou me encontrando no silêncio obtuso das escolhas que faço. Tento não pensar em como seria se não estivesse tão disposta ao acidente. temos essa incrível vantagem, estamos sempre na mira. estamos sempre a beira do ataque. do salto. do tiro. e isso talvez seja o mais estimulante, estar sempre a frente de qualquer prelúdio.
estou tentando não chorar. e nem sentir a ausência de tudo aquilo que era tão bom.
estou tentando respirar com mais paciência. para que o ar em voltas me envolva tão nua quanto minhas certezas."

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Bem de Leve

bem de leve, chega e me leva.
bem de leve, me abraçe.
deixa que sobre teus ombros eu derrame minha fúria. meu medo. meu delírio.

bem de leve,
escorregue as mãos sobre meus cabelos.
demore-se na carícia da nuca, para que eu me sinta tão desejada quanto desejo.

bem de leve,
me ponha no colo,
extenda no exercício de me fazer chorar. para que de alegrias morra em teus braços.

bem de leve, me beija.
e neste beijo entregue-se,
para que de amor, eu me enfeite e viva.

bem de leve, me aqueça;
porque está frio meu amor,
e meu corpo já não resiste sem o seu.
"Me abraça, porque está nos teus braços a minha salvação!"

terça-feira, 18 de maio de 2010

Das Meninas


"Ao doce, ao amargo, ao sal de nossas lágrimas, ao sorriso doce que saía de nossas bocas, um salve!"
Meninas, o tempo passa.Equilibrávamos em sapatos boneca, usávamos saias rodadas e enfeites de laços nos cabelos. Tomávamos sorvete com o compromisso de sujar, dançávaamos em meio a jujubas e chocolates, deixávamos o algodão doce derreter no céu da boca e depois, bem depois, ainda queríamos mais e mais dequela infância de gestos inocentes e incríveis.
É meninas, o tempo passa. Nos faz dançar em compassos tão diferentes quanto nossas geniosas escolhas. Passa e nos leva. Pesa e fica, nos ensina o valor das nossas lembranças, nos obrigando a saudade delas. passa e nos leva. distraidamente vamos dançando seu ritimo, esquecendo de quanto já caminhamos para longe das festas de balão e lembrancinhas.
E vendo esta fotografia, tão recente, daquele encontro inesperado, vejo que maduros estão nossos olhos, machucados estão os nossos corações, doentes estão nossas mãos de afeto, vejo, ainda que sobre uma nuvem passageira, o quanto o sabor da infância nos faz falta. O quanto a ilusão de ser grande, fora cruel.
Meninas, que saibamos derreter a amargura do crescimento, que possamos caminhar livres, como for, para longe da ficção que criávamos em brincadeiras de ser grande, que possamos arrancar beleza do fundo de nossos olhos e despejar nessa vida pulsante que nos assombra tão violentamente. Que sejamos fortes, ainda de sapatos boneca. Que possamos colorir de rosa aquele negro do luto que fomos obrigadas. Que as descobertas do hoje sejam em nós tão fascinantes como as travessuras...
para que assim possamos resistir....
para que assim possamos viver um pouco mais.
para que assim, de qualquer modo, valha a pena ter crescido tanto.!
*saudade das nossas bonecas mudas. palavras as vezes machucam!

Do outono ao seu lado


("Meu amor, venha ouvir Beatles comigo!")
Espero que neste dia, eu esteja livre e possamos caminhar pela calçada de folhas secas e conversarmos sobre as nossas escolhas.
Mas, não deixe de vir, para que nossos corações nos fale de como ainda nos amamos e como seremos felizes, mesmo tão distantes.
Meu amor, esqueça o tempo, somos jovens, temos tempo, e venha ouvir Beatles comigo. Será delicioso dividir a mesma xícara de café, o mesmo gosto, a mesma fúria depois de tanto tempo longe, depois de tanta saudade acumulada. Depois de tantas misérias vividas.
Venha, mesmo que por poucas horas, para que tenhamos lembranças depois. Para que eu possa lhe escrever uma carta e você responder num cartão postal, seja de onde for.
Ah, meu amor! Venha ouvir aquela linda melodia que tanto me escorre dos olhos, que tanto me obriga a pensar em você tão longe, tão ausente. Venha, antes que esse tarde que tantos falam, realmente chegue para nós e nossos nós não sejam mais possíveis em laços de fitas coloridas. Venha, para que dos teus olhos eu roube mais uma chance, mais uma dúvida, para que de sua boca, mais um beijo, e de suas mãos mais um toque, e de seus braços, mais uma palavra roubada e escondida.
Venha, meu amor, que te espero vestida com aquela canção mais doce, mais farta, com os panos mais leves e mais curtos, para que em mim percas o motivo, a cabeça, o juízo.
Ah, meu amor, venha ouvir Beatles comigo, aolha-me em teu braço mais firme e vamos juntos celebrar esta tarde que cai tão bonita e azul sobre nossas cabeças. Sejamos por um instante livres, limpos. E gozemos de qualquer coisa que de fato desejamos, porque precisamos ser despudorados, meu amor! Venha, que te cabe aqui, no colo, nas coxas, nas mãos, nos olhos, no peito. Vem que te recebo intacta, com o mesmo sabor de cereja de antes. Com o mesmo cigarro de sempre, com a mesma mordida no canto da boca, de sempre!
Venha, proponha-se a este desfrute de um outono tão grandioso, tão falante, tão. Disponha-se a mim, nem que só por este instante.
("meu amor, espero-te mais m pouco, depois durmo e fico tão triste, caso não chegue.")
M.

domingo, 16 de maio de 2010

Da lembrança da tarde


"...porque de repente, a tarde ficou perfumada, e me fez lembrar dos velhos tempos, daquele tempo onde corríamos pela areia e deixávamos as ondas nos arrastarem por horas incontáveis no hoje.
porque de repente, a tarde ficou leve e a lembrança de como éramos inteiros e felizes me fez perder a hora, me fez esquecer do presente tão pulsante e só.
porque de repente, a tarde coloriu o céu de um amarelo tão incrível, que me fez chorar a saudade dos olhos todos que viam caminhos tão paralelos quanto os de agora.
porque de repente, meninos, aquela amizade tão grande, que carregávamos no peito tão jovem e arfante, tão grande e iludido, transformou-se apenas numa memória de parede. de porta- retrato.
porque de repente, a sensação de estar só nesta tarde tão doce, me fez lembrar da gente, brincando naquela praia tão bonita, onde esquecíamos do futuro que nos aguardava tão ferino..."
(esta tarde me causa certa febre, certo pavor, certa fúria, certo medo;)

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Nós



"Sempre estive a procurar por você dentro de mim. Vasculhei todas as gavetas, todas as roupas que deixei ao avesso, em todos os bilhetes que nunca entreguei, em todos os versos que li.

Sempre estive a sua procura dentro do meu deserto, nas minhas flores da janela, sempre no último trago do cigarro que apagava com certa renúncia naquele cinzeiro azul. Sempre estive a esperar-te vivo, com estes olhos a confundir meus delírios, a me deixar sempre nua. Sempre busquei a ti em minhas rezas e romarias, em meus desabafos e fúrias, em meus gestos e gemidos, em minhas descobertas e fugas. Sempre;

Sempre estive a rondar-te por dentro, fui construindo sua fala tranquila, suas mãos de pecado e ternura, sua respiração tão doce e segura. Sempre busquei a ti, em todas as canções de roda, em todas as festas de São João, nas colchas de retalho sobre minha cama, sempre. Sempre me perdi em labirintos noturnos a procurar-te em qualquer esquina, em qualquer canção, em qualquer praça, banco, rua, escuro. Desenhava em mim pedaços de te que foram se formando aos poucos, fiz, de certo modo seu auto-retrato, bordei em sangue, em verso, em amor. Um amor que esperava, com certa paciência. Com certa demência.
Sim, sempre busquei a ti, num exercício de calar minha dor mais funda, de povoar meu deserto mais árido, mais improdutivo. Busquei-te para regar as flores liláses que se firmam na intensidade do que sou, olhos a dentro.
...
e encontrei-te depois de um tempo, tão inesperadamemte que o assombro me fez amar-te imediatamente. desesperadamente....
e hoje, aqui estamos, de mãos dadas,caminhando para dentro e para fora do sempre que te esperei, fumando aquele mesmo cigarro da minha espera, ouvindo canções a nos despir no sexo, na transa, no amor, estamos aqui, rendidos um ao outro porque outro dia sem que eu esperasse veio de ti uma deliciosa confissão: "a ti tmbém sempre esperei e aqui estamos!"
Eu te amo!
M.
(no som "Vieste" , um incenso de Lua, para nos abençoar, nas mãos toda uma semente a germinar flores silvestres, nos olhos aquela lágrima de saudade e desejo, que sempre escorre quando me tocas com profundidade e na boca, seu gosto que se impregna em cada fio de cabelo meu, em cada poro aberto, que exala vontade maior ainda de te ter!)

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Do Roubo


"Que me roubem tudo. Os ossos, os músculos, a fala. Que me levem os beijos, os sarros, os gemidos. Que me levem a língua ferina, safada, pequena. Que me roubem tudo, o prazer e o pecado. O verbo bandido. A ação inventada. A cor dos meus olhos e seu brilho.Que me roubem o frio também. Que me deixe desnuda. Nua. prestes a cometer absurdos. Prestes a respirar sem qualquer culpa.

Que me roubem. Não me importo que levem tudo. A coragem, a saudade, a ausência. O destino. Não me prendo a desejos tão pequenos. Sou livre. Livre de qualquer conjulgação. Não estou no imperfeito. Nem perfeito. Estou no meio, como sempre estive. Que me roubem o passado, o presente, o futuro. Que me deixem apenas vestígios. Cheiros. Gostos. Assim saberei seguir...com muito pouco, para que de novo invente tudo.

Que me deixem farta. Que façam estalar meus ossos, meus nervos, meus gritos. Que me roubem da garganta qualquer palavra bonita. Não me importo. Tenho o dicionário no estômago. Vou diregindo com o tempo e vomitando aos poucos aquilo que de fato roubaram de mim.

Que me roubem tudo. Me deixem sem nada. Sem tudo. Essa busca interminável pelo preenchimento é exatamente onde se revela a vida. Procurarei outros vales. Desertos de flores ainda mais coloridas. Céu ainda mais azul. e um sol. para que me cure de qualquer frio. de qualquer resquício do que fui.

Gosto desse enorme quebra-cabeças, de me reiventar a partir de outro. Da mesma em mil outras fôrmas. Não tenho medo das descobertas. Sou essa essência calada. Desmedida. Por isso que não me importo que levem tudo.


(no som "Sangue latino", sem incenso para deixar só o meu perfume e na boca, gosto de café, bem quentinho, para amansar o frio.)


Da mais doce espera

Essa moça sou eu, na gangorra. Sim. Sentindo o vento desse inverno tão perigoso na cara, nos cabelos. Sim. Sou eu esperando-te. Eu, de ponta a cabeça. Remexendo em sentimentos que não sei se inventei ou se de fato, existem. Sei que os carrego comigo. e isso me basta.
Essa moça, de razões absurdas e unhas coloridas, busca domar suas bestas na madrugada secreta do mês de maio. Fuma, sonha. Não dorme porque acha que fechar os olhos é perder tempo demais...e como ela gosta de ficar acordada!
Essa moça, de emoções violentas, de paixões sangrentas, de amores em silêncio, que balança como quem dança com outro corpo melodia de cama, de sexo, de entrega, sou eu, a esperar-te tão charmoso, tão discreto, tão silênte. A moça, que toma cafés diferentes, que cheira alfazema depois de escrever qualquer segredo, que inventa palavras, para esconder sentimentos, sim, essa sou eu, na gangorra a tua espera. Tão intranquila como o último telefonema pela madrugada, que sem querer nos deixamos perdidos por sementes que ainda não floriram....
Essa moça, cujo o laranja do céu desenha tatuagens eternas em sua alma, cujo o sonho maior é ser de fato livre, é alcançar qualquer mistério para que de vida encha seus dias, bem, essa moça, tão desajeitada e desarmônica, que balança nesse balanço tão solta, sim, sou eu numa tarde de frio esperando-te chegar de qualquer viagem, de qualquer compromisso, de qualquer história....para que juntos possamos rir.
Sim, essa frenética e descompassada menina, mulher, por vezes escondida, sou eu....vestida de sonho e poesia, tentando encontrar qualquer sopro de vida, na vida, qualquer justa adequação para os meus verbos imperfeitos....sim, essa sou eu, desmemoriada e vagante, florescente e enferrujada, feita de carvão, barro, flores e espinhos, sim, esta menina, tão confusa e muitas vezes assustada, sou eu....que ouve bossa nova, que esquece os dias, que respira primaveras coloridas a tinta aquarelada, essa menina te espera...tão breve, tão só, tão pura!

Venha ouvir aquele disco comigo, balançar em qualquer gangorra ainda que em desequilíbrio.
Venha, não espere que a saudade seja grande, que a lágrima por algum motivo escape.
Venha antes, para que juntos possamos sorrir vendo o fim de uma tarde tão grande como a desse inverno.
Venha para causar ternura e espanto!
Venha!

M.

terça-feira, 11 de maio de 2010


Da partida

Amanhã cedo vou partir. Levarei meus livros de poemas, que você sempre quis começar e nunca teve tempo de ler.
Amanhã cedo vou pegar a primeira viagem. Levarei o maço de cigarros quase vazio, que você fumou depois de fazer amor comigo. como todas as vezes.
Amanhã cedo vou partir. Guardarei na mala só um pedaço do amor que contruimos e que se perdeu sem que tivéssimos de fato culpa.
Amanhã cedo, bem cedo, antes de você acordar escreverei um bilhete tão mudo que a palavra deixada será apenas ausência. Acho que não caberá qualquer outra palavra, nenhum outro verbo.
Arrumarei a mala sem que você perceba que chegou o fim. Para que só sintas a falta quando o trem já tiver partido. Será menos dolorosa a nossa despedida.
Lembrarei de todas as canções que escutamos juntos, do céu estrelado, das juras de amor, das inúmeras vezes que me perdi dentro dos teus olhos. Da janela do vagão, escutarei na vitrola do pensamento aquele grito ensurdecedor da Janis, que você tanto gosta, que tanto abomino. acho que esta será a lembrança mais viva. O som perturbador dela e nós dois, sentados na varanda vendo a lua cheia.
A garrafa vazia debaixo da rede, do relógio em cima da cama, suas mãos pregadas nas minhas costas, sua respiração ofegante e intranquila, suas cismas e seus afetos. Tudo isso estará comigo. Seja coomo for.
Mas, amanhã cedo vou partir. Ainda que não sofra por essa despedida. Ainda que ame tua verdade como única. Irei. Meus pés já trilham outro caminho.
Talvez nos encontremos algum dia. Talvez não. Talvez essa despedida seja tão fácil e tão breve, a não saber contar no tempo. Talvez não.
Mas amanhã estarei de pé, pegarei a primeira viagem. Deixarei tua casa, tua vida. Bordarei na camisa uma saudade que carregarei sempre. Deixarei meu perfume para que de alguma forma também não fique esquecida.

**Não se esqueça de pintar aquele verão tão tropical, que me falou ontem a tarde, será dele a lembrança mais absurda!

Um beijo!

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Do convite


Venha caminhar comigo. Esqueça por alguns instantes o peso dos seus ombros e ande comigo por esta estrada que celebra a primavera.
Esqueça as palavras duras, as lágrimas que derramou ontem, esqueça o quanto sofrer nos torna menos sensíveis, e caminhe comigo rumo a uma liberdade que conhecemos. Que nosso coração entende!
Saia do quarto, abra as janelas, vista-se com o melhor vestido, colora os lábios de um carmim mais vivo, mais intenso. Solte os cabelos para que o vento os beije carinhosamente. Saia. Pinte as unhas de um verde vivo. Dance qualquer melodia que venha de dentro; tome um café escutando aquela música preferida. Sinta o perfume das flores, que se abrem para que você passe.
Venha andar comigo., fumar aquele velho cigarro, conversar aquelas velhas falas enferrujadas de carinho e saudade. Venha catar as folhas do chão, desenhar na areia nomes que serão levados pelas ondas do tempo. Venha para que tentemos aprender que o tempo é o nosso amigo de óculos, que usa aquele chapéu engraçado e nos faz rir quado deveríamos chorar.Venha, vamos em passos curtos, longos, demorados, para que de algum modo possamos alongar o instante mágico que nos envolve agora.
Venha com as mãos vazias, com os olhos cheios de coragem, com as palavras mais ocas, venha, ainda que nua de desejos e sonhos, para que nesta estrada reconheçamos outros novos ou velhos ideais. Esteja preparada para o acaso, para o destino, para o trepidar violento dos dias. Das tempestades. Do sol. Venha para que a mãe natureza te refaça outra. Multicolorida. Multifacetada. Para que de vida, sejamos banhadas.
Esqueça as fotografias, elas serão consumidas, esqueça a ferida, que será cicatrizada. Esqueça a falta de coragem. Que em algum tempo será revigorada por um sorriso. Esqueça a ausência, que será povoada. Coloque os óculos escuros, aquele, bem laranjado, para que possa mudar o foco. Ver com outras cismas. Ame, sem que amar seja condição de troca. Deixa que a esperança lhe ensine o caminho a seguir.
Venha, mesmo que por uma hora, por uma tarde. Sigamos juntas, ainda que carregando fardos pesados demais. Seremos de algum modo aliviadas. Respiremos a primavera. Deitemos num chão de folhas coloridas, para que o céu estrelado nos leve a lugares que nunca poderíamos ir.
Venha.Venha, para que o coração possa falar. Seja como for.
(No som "Tears in heaven", um incenso de flores para viajar e na boca, qualquer gosto de morango, para adocicar.)

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Menina


Menina,


Espero-te com algum medo e felicidade. Preparo-te o quarto, lençóis e véus, para que descanse depois de longa caminhada.

Sinto-te cada vez mais perto. Sim, meu coração treme, não sei se de esperança ou de amor. Queria mistura tão doce. Sinto-te no íntimo tão pequenininha, escondida, sofrida, triste. Tento amar-te sem resalvas, apesar de tudo. Amar independe de condição. Simplesmente sente-se e quando nos damos conta. Eis que o amor já é imenso. Transbordante.

Lavo e passo seus vestidos de um rosa tão profundo, deixo os sapatos de lã a sua espera na primeira gaveta, Quero que quando chegares, seja eu a primeira a aquecer-te no peito até os pés. Dar-te o conforto que ainda não teve. Que ainda não tem. Saciar sua fome com meus olhos embargados de carinho. Acalmar seu choro, cantanto canção tão menina. Chamar-te de filha. Dar-te nome tão lindo, como aquela canção que vais conhecer um dia.

Arrumo sua chegada quem espera com espera longa. Intranquila quanto a sua chegada. Mas com o coração atento ao seu chamado. Peço-te perdão. Ainda que certas culpas jamais sejam aliviadas. Deixo-te meu enorme carinho. E minha vida. Para que a sua estrela possa brilhar num céu de maio tão profundo como meus olhos.

Desejo-te caminhos perfumados e floridos. Mesmo que por vezes espinhos dancem sobre seu destino. Em algum momento lembre-se do amor. Que pedras e flores sejam sua companhia. Que cante qualquer melodia. Que o sol ou a chuva acariciem seus cabelos quando pensares que tudo está perdido.

Menina, entenda que sinto tanto. Sinto muito.

Entenda que em algum momento estaremos juntas. Livres, dançando tão levemente, sobre o barro do qual nascemos, nos tornamos vivos. e quando isso acontecer, em paz, estaremos mudas!


Amo-te com o amor mais puro!

M.

Ao homem que amo


Meu amor,


Suas palavras me acertam com certa mácula. Procuro nos teus olhos qualquer sinal de verdade. Mas encontro apenas sonho.

Suas mãos me levam para certo maravilhamento que não descrevo. Sinto. Entrego-me ao seu desmedido toque e me a-lu-ci-no!

Teu beijo, tão doce e feroz, arranca-me a alma como se para o lado de fora, exposta, contasse-lhe segredos que não revelo, mas que você insiste em se apropriar deles. Para que no íntimo mais secreto, eu também seja sua.

Seu corpo, quando pesa sobre o meu, num ritimo acelerado, convence-me de que a sincronia existênte entre nós ultrapassa qualquer combinação melódica. Inventamos a nossa música. Nos deixamos atentos aos sussurros. Criamos nossa (des)armonia.

Seu sono, tranquilo e silencioso, quando observo, leva-me ao desejo de cavalgar contigo. Vasculhar os cantos do seu país tão desconhecido. Desejo navegar em tuas águas tão limpas. Causa-me delírio o teu sono profundo. Vejo dançar sobre teu rosto um menino tão puro.

Seus cuidados, atenções e compartilhamentos me enchem de alegria. Sinto que posso descançar ao teu lado, adormeço em teu ombro porque em ti tenho a calma que busco. A paz que tantas vezes me foi negada.

Me entrego sem qualquer culpa. Amo-te sem qualquer medo. Poque amo-te com um amor maior que compreendo. Que alcanso. Mas que sinto.

Seus olhos, desse verde-azul tão fascinante ah! esses DE-LI-RO! Danço lá no fundo, abrindo cada vez mais sua pupila. Entrando cada vez mais fundo para dentro desse coração tão humano e sensível que me abriga.

Eu te amo. Perto ou longe.

Seja como for.

M.

(nos som "eu te amo" e um incenso de Sândalo. Na boca o seu gosto, que o vento dessa manhã tão fria me trouxe assim que abri os olhos e senti sua ausência tão profunda!)

Carta ao Tom


Querido amigo,


Ando sem coragem para dizer a palavra mais humana. Estou com medo de acertar qualquer coração apaixonado. Resguardo-me na intensidade das horas, carregando um silêncio sem fim. Engolindo pedras que ainda não dissolveram dentro de mim.

Sinto-me repleta de tudo e nada. Numa mistura a emudecer e a provocar febres. Minhas crises tem cido agudas e a persistência do vazio anda me enlouquecendo.

Seus hibiscos continuam florindo, há uma certa naturalidade na vida dessas flores. Alimentam-se de lágrimas e são cada vez mais bonitos e vermelhos. Parecem sangrar comigo. Mas de uma maneira muito mais delicada. Muito mais humana.

Esperei por dias sua chegada, seu telefonema, alguma carta, mas, entendo que a vida não tem brincado de infância contigo também. Resta-me lembrar das tardes que dividíamos o algodão doce na praça e os intermináveis sorvetes na rua do meio.

A sua lembrança miúda me faz pensar em como somos inesquecíveis...em como deixamos retalhos, remendos em outras pessoas. Bordamos com cada um o desenho que achamos mais sincero. Embora nem sempre somos encarados como verdadeiros.

A saudade manda dizer que está por um fio. Que anda corroendo por fora. Já que por dentro, valsa tão triste a se perder de vista, sem qualquer sinal de calmaria. Os dedos já escorrecam com dificuldade. Escrever-te é uma tortura imensa. Apelo para a distração, deixo que a caneta escorregue. Que escreva sozinha. No pulso do impulso. Porque não posso.

Precisa vir logo. O jardim sente imensa falta de suas mãos poéticas, a acariciar suas folhas e flores. E meu coração sangra por qualquer nota desarmônica que sua intensidade arranca do piano. Ele também está mudo. Não posso comprometê-lo com minha falta de dom.

Queria sair caminhando sem qualquer rumo. Ouvir qualquer instinto, caminhar por qualquer ponte, estrada. Parar em qualquer esquina, tomar qualquer coisa que fosse doce. Molhar a boca de palavras tropicais. Para que no inverno elas possam ser meu alento. meu acalanto.

Mas continuo dançando com as horas. Esperando qualquer impulso. Qualquer sinal. Continuo intacta aos abalos que tremem minha alma e me desnudam.


Ps: espero-te para qualquer acidente.

Com enorme carinho.

M.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Do encontro que sempre temos

"Encontro-te na mesma hora bruta de sempre. No mesmo lugar, para que de rotina nossos dias se encha e transborde.
Espero-te com a mesma fome e o mesmo medo. Com a estranha sensação de que serei devorada. Na mesma hora marcada há anos atrás, quando ainda brincávamos de descobertas.
Encontro-te com a mesma febre. anti-térmicos não sutem efeito. Queimo de um desejo inventado. Assim como suas mãos, trêmulas, ainda, buscam qualquer conforto em minhas curvas.
Espero-te com a fala cansada, imprecisa, pungente. Recebo-te ainda quieto, num silêncio absurdo. Que até hoje não sei se de fuga ou entrega. não importa. Nunca nos importamos muito. Queremos apenas saciar nossa euforia. Queremos sempre apenas o gozo mais profundo, para que por alguns intantes nossas almas se tranquilizem. Ainda que vivamos em tempestades infindas.
Espero-te com o mesmo vestido, com o mesmo olhar distraído. Com o mesmo frio, com a mesma pergunta. Para que de cotidianos, nosso desejo dure. Estarei confusa como na primeira vez. Me entregarei com a mesma fúria. Te receberei com o mesmo sorriso, a mesma malícia. Porque você também vem assim, com as mesmas resalvas, com os mesmos gestos. Com a mesma fome, com a mesma língua.
Atearei fogo em seus projetos e tu, impiedoso, matará em mim a sede de um suspiro. Trocaremos carícias perdidas. Porque estamos perdidos. Faremos amor como sempre. Num exercício de fixar a mesma sensação, o mesmo gemido. Precisamos dessa repetição. Somos fantoches. Acreditamos no ensaio dos corpos. Talvez para calar qualquer outra emoção que não conhecemos e temos medo. Talvez por apenas ser cômodo amar sem tanta loucura.
Esperto-te. Sem qualquer medo de que não apareças. Porque sei que estás tão à minha espera quanto eu a tua. Sofremos pela mesma necessidade. E isso nos faz ainda mais juntos.
Na mesma hora. No mesmo lugar."

( no som, um jazz muito antigo, um incenso de Morango para nunca esquecer e na boca, a mesma bala de caramelo de sempre, para excitar!)

Do amor mesmo doente

"Era áspero amar-te. Doia como se dói aqueles arranhões da infância. Ardia. Parecia que bordávamos em carne viva qualquer sentença a nos tornar cada vez mais presos. Estávamos condicionados ao cárcere , sem que a memória pudesse ser refúgio da liberdade. Não pensávamos, sentíamos desmedidamente.
Era doce, ainda que muito violenta a forma que nos amávamos naquele quarto. Rancores e afetos, mordidas e beijos tão demorados. Não sabíamos se morríamos enfim de amor ou de ódio. Suas mãos tateavam em mim qualquer paraíso, qualquer renúncia, em ti, com a ponta dos dedos, eu buscava qualquer certeza morta, qualquer carinho escondido, qualquer verdade inventada. Nossos olhos perdiam-se entre o azul e o castanho, nma mistura de almas confusas e apaixonadas. Desesperadamente.
Em nós existia qualquer coisa de fuga, de esconderijo, qualquer coisa de urgente, embora jamais pudéssimos saber que coisa era esta exatamente que procurávamos. Estávamos atrelados numa costura firme, em gestos demorados e doentios. Éramos dois em busca de um encontro único. Ainda que a unidade estivesse comprometida. Inutilmente.
Queríamos amar com um amor maior. Com menos silêncio, com menos surdez. Com mais música e menos pedidos. Queríamos que esse amor acontecesse de qualquer forma, mesmo que para isso fosse preciso esquecer de fato quem realmente éramos. Para findar numa existência múltipla, porém única.
Era farta a fome, a sede, a coragem da entrega. Era insondável as medidas que nos cabiam. Parecíamos, enfim, perdidos dentro desse nós que construimos sem saber ao certo onde começávamos e terminávamos. Bebíamos de uma fonte inesgotável de ilusão. Que secou. Que nos deixou imundos. Que nos deixou saciados. Em estado de overdose.
Extrapolamos a capacidade de entender o que de fato havia nascido em nós. Estávamos completamente loucos. Doentes, em estado terminal. e isso não foi suficiente para que acabasse. Ainda sim fundíamos cada vez mais, misturavam-se ainda mais nossas dores, nossos desafetos. Nossos carinhos eram sangrentos e nossa fala já estava perdida. Gozávamos motivos desconhecidos, mas ainda sim gozávamos. Estávamos irreparavelmente amaldioçados pela paixão que concebíamos. e ainda sim, seguíamos. Presos pelos pés. Correntes nos dentes. Gume nas línguas. Ainda que um dia possamos estar livres.

Ps: Eis que por isso acaba, precisava que o teu amor me libertasse do silêncio, que juntos pudéssimos ter dançado sua incrível melodia, mas não, não pude dançar sua felicidade!

Ainda sim te amo!

segunda-feira, 3 de maio de 2010

De uma despedida

Ao som de "Insensatez"
e um incenso de Alfazema. (para doer menos)

"Estou indo, talvez cedo demais, talvez tarde;não sei. Sei que vou. Com a respiração ofegante e o coração machucado. Refaço as malas e deixo as chaves sobre a mesa. Não deixarei bilhete. Apenas ausência. A falta de palavra. O não-verbo. porque em mim se desfez a ação. voltei ao luto. estou atrelada a dor e não posso mais.
Estou indo. Na cabeça uma canção antiga. no pulso ainda aquela fitinha amarrada com os desejos inventados. no coração a enorme falta de tudo, como sempre foi. sempre. Vou sem a paz que em teus braços busquei. e tive. por algum tempo. vou, porque não quero que o amor morra. que a fogueira se apague. então, antes que seja tarde, vou. para que mais tarde o encontro seja definitivo. ou não seja mais. seja como for.
Estou indo mesmo querendo ficar. precisando ficar. mas indo. escolhas esfaceladas. pisando na ponta dos pés para que nem barulho eu faça. mesmo quando quente a lágrima escorre. vou. mesmo sabendo que nos seus braços tenho a calma. ainda muitas bestas a domar por aqui. estou perdida, cega. e por isso também vou. para que não leve de ti o mais bonito. engolindo o soluço rouco, vou. para te devolver a paz. porque estou em guerra.
Estou indo, ouvindo a canção da despedida. ouvindo sua fala abafada em súplica para que eu fique. mas indo. a estrala será de enormes percalços. sem ti, ainda contigo nos olhos, nas mãos, ainda mais difícil. mas vou, para que depois não fique tarde!