sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Alguém

"ela dizia não ter nome. dizia não saber amar porque aprendeu a lidar com o coração ainda cedo, quando amou e não viveu. ela disse que preferia a noite que o dia. falava das estrelas sem sonho. sem encantamento. ela dizia que não queria colo. não queria carinhos. que não queria abrigo. morava em qualquer canto de qualquer esquina que fosse-lhe necessária a permanência. ela tinha um olhar que desassossegava qualquer homem ou mulher que nela parasse os olhos por poucos segundos. ela era uma espécie de fetiche, de fantasia, de mulher femme, de beleza agreste que fazia sofrer os outros sem sofrer em si.
de fato nunca ouvi seu nome, por isso, qualquer nome concedia a ela sem que ela mesma percebesse. ela queria se libertar mas se prendia mais. se expunha ao óssio e ao ofício com a mesma precisão dos gestos e sentidos. cabia em versos e em xingamentos. ela dizia se importar com poucas coisas. cigarros, dinheiro e qualquer outra coisa que lhe dava um ar longe de alegria.
depois, sentava para se expôr como numa fotografia até o ponteiro indicar o fim. pegava a bolsa, ajeitava os cabelos e ia-se porta a fora querendo encontrar qualquer outro que deixasse que ela escoasse seus excessos doloridos. "

3 comentários:

  1. Muito bom!

    Eu ia adorar cruzar com essa garota por aí... Tem traços parecidos com os meus...

    Valeu pela visita. Estou te seguindo ;)

    Beijo!

    ResponderExcluir
  2. Quando comecei a ler me identifiquei muito, me sinto assim. Belíssimo texto, muito inspirador!
    Beijos!
    Taty

    ResponderExcluir

Atente-se para o Indizível: