quarta-feira, 25 de maio de 2011

Para Ana


"Ana, qual tua angústia mais profunda? De que são feitos esses olhos de pedra tão bem esculpida? Qual o nome da tua fome? Qual a fala bandida que te azucrina, antes de te apaixonar? Onde em tua face delicada cabe a indelicadeza dos teus chamados tão medíocres? Qual lado de verdade existe em suas mãos tão afoitas e sadias?

Ah Ana! eu não sei se de te me livro, se em ti me derramo a me perder sem qualquer limite.

Onde no teu corpo tão miúdo, cheio de respostas sem perguntas, mora a sensatez? Quais das partes de ti é uma mentira daquelas absolutamente levianas?

Ah Ana! acho que todo teu mal encerra em teus lábios tão astutos e violentos. Cala-te uma noite de suas lamúrias, depois te digo onde mora tamanho perigo no teu existir.

Qual das cores é tua? (se de eterno colou-se o negro da tua pele robusta!) Qual das tuas censuras são de fato eternas venturas? Onde em ti está aquela sagacidade tão menina de querer e ter sem medidas? Nos teus cabelos há força ou desvios?

Ah Ana! conheço-te pelo faro bandido, banido de suas roupas quando dormes. Se te tenho nua, seu corpo mora pecado-ternura-solidão.

O que abrigas senão falhas e sonhos, cascalhos e poesias mastigadas, escritas em guardanapos tão vagabundos como a intenção de quem te rouba sorriso tão doce? O que te fascinas tanto na vida para que de gana sobreviva assim, violenta e absurda? O que te faz ser tão cheia de nada e ainda sim ser tão repleta de si?

Ah Ana! Eu não te entendo. Não entendo o amor que me come as vísceras todas as noites que de ti meu corpo chora saudade. eu não sei, e prefiro, de fato, morrer contigo sem qualquer entendimento."

domingo, 15 de maio de 2011

Ode à Narah


"Não temas, Narah. Nem tudo está perdido. Não temas a noite tão escura quanto sua alma.
Não temas, minha cara, esta noite passa. o amor também. derreta sua cobertura de carne e verá que no fundo só existe chumbo. estanho. aço.
Sei que tens coração tão leve, gestos tão delicados. mas não se assuste com minha paixão tão escancarada. vivo de um escarneo que não compreendo, só disfruto.
Não temas. É ainda cedo para que clames qualquer inocência na minha fala. já estou suja de amores urbanos. não temas. a melodia suave que sinto quando te vejo é só prelúdio. começo.
Não temas em viver com o vigor da última hora. a dor da última gota. o desespero do último trago. Não temas. Afinal, viver exige coragem. viver o amor então...(?!!) ultrapassa.
Não temas, caríssima, deixe que o verbo do amor corroa suas articulações, seus lábios, sua língua. É desse veneno tão doce que precisas para sua cura.
Não temas, menina. Tão doce, tão linda! Isso é a vida urgente que tanto falei. Vejo esse desejo romper os limites da sua carne, da sua ternura. querendo saltar para o lado de fora. querendo avançar sobre a ponte onde há um abismo.
Não se limite a deixar suas palavras em diários esquecidos, explore todos os gostos dos verbos e dos sujeitos. alimente-se da vida latente que existe debaixo desse corpo tão sinuoso e impreciso. frágil?
não!
depois , bem depois pensar em desistir."