segunda-feira, 7 de junho de 2010

De nenhuma certeza

"A voz apaixonada dirigia a janela uma canção sem qualquer conforto. Era tarde a hora da espera. Era tarde para que de amor morressem. Era muito tarde quando ao telefone a voz se despediu com um beijo tão doce a sentir o gosto de uma cereja tão pura do outro lado da linha.
Essa mesma voz, que agora cantarolava na janela, minutos antes, em súplica, jurava um amor que acabara antes mesmo de nascer. Eram imaturos demais. Pequenos demais para se deixarem levar pela grandeza da ausência do outro. O frisson da saudade abalara não só o coração e os olhos, mas a certeza de que tudo estava tão bem como haviam deixado da última vez que se viram.
Não havia mais esperança de encontrar a casa arrumada, os móveis e os sentimentos nos mesmos lugares, antes deixados, era tarde, para de fato conhecer a porosidade da qual escapavam as lágrimas. Sentiam apenas. e não se demoravam a abarcar num abraço que não sabia se de despedidas.
Era sempre assim antes da chegada. Não se podia ter a certeza de que tudo estava como era. Mudavam de estação. Tremiam por motivos opostos. Sempre.
A voz apaixonada do outro lado da linha não esperava canção alguma. A moça na janela, sonhando o beijo roubado de dias atrás não fiava na certeza de outra chegada. Era assim que viviam, entre lembranças e saudades, canções de despeidas. O amor em bruta flor, revogando um espaço para que de fato nascesse.
Estavam tão longe e tão perto a trepidar os olhos quando em cima da mesa via a fotografia do beijo. Não entendiam aquela distância. Fartavam-se de esperanças vís. Mas lutavam, de qualquer forma para que de tudo, aquele sentimento que crescia, mesmo sem saber o nome, vivesse neles. habiatando palácios desconhecidos e cheios de vento."

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