sábado, 17 de julho de 2010

Thereza


"Thereza queria um amor que não desse trabalho. Que ela não precisasse cuidar. Queria que ele apenas existisse e mais nada.
Não queria ter de inventar pretextos. Não queria ter que escrever cartas e dar telefonemas saudosos na madrugada. Queria o amor puro. Livre como o azul do céu da primavera. Livre como folhas soltas de papel em branco ao vento. Assim era como Thereza queria amar. Sem o compromisso da fala cansada, dos beijos roubados, das dores da ausência, do sufocamento da convivência. Thereza queria amar apenas. Deixar-se solta neste estado ímpar do amor. Quer a embreaguez do primeiro encontro. O tesão do primeiro beijo. Quer a multiplicidade do olhar. A sua negação e afirmação, ao mesmo tempo.
Thereza queria alcançar a graça. Queria amar de longe, desinteressadamente. Queria a aventura do esquecimento, a falsa sensação do poeta. Thereza queria saber fingir amar. Sem ter febre. Sem ter angústia. Sem se entregar ao trabalho meticuloso da química dos corpos. Ela queria apenas o amor. Queria apenas amar o invisível, o intocável, o improvável. Thereza queria o estado e não a ação. Amar era mais importante que ter por quem morrer desse amor.
Ela queria o amor de silêncio. A bruta-flor do querer. Queria apenas querer, não se tratava de necessidade. era apenas desejo. Amar sem ter trabalho. Amar sem assumir romances. Histórias de amor eram sempre chatas. Queria apenas descobrir o amor. Desfrutá-lo sem dividí-lo. Talvez amaria a si, criaria dentro dela uma outra, para que assim pudesse representar a figura falsa do ser amado. Queria amar sem ter motivos. Sem dar presentes. Seu querer estava em participar da essência do amor e não de seus desdobramentos.
Thereza queria amar. Amar como criança que não precisa de razão. QUe apenas ama. Como o vermelho que é só vermelho.
Inebriada de esperança Thereza assim esperava, sem saber que de amor já vivia. que de amor já se alimentava."

4 comentários:

  1. essa é uma versão interessante para o Amor que as Therezas possam se multiplicar.

    Beijos flor,

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  2. Sugestivo o nome da personagem...suscita bons trocadilhos!

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  3. Como já disse Drummond

    Amor é dado de graça,
    é semeado no vento,
    na cachoeira, no eclipse.
    Amor foge a dicionários
    e a regulamentos vários.

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