quarta-feira, 16 de junho de 2010

Do ato


um frio arrepiando, palavras quentes a derreter na língua um caramelo. a brisa, embriagada ao som de qualquer jazz volta-nos ao primeiro estágio de encantamento. mãos afoitas caminham procurando porto, segredo, desejo. olhos cheios de uma lágrima ausente nos embarga a soluços de um amor atrasado.

(...) fazia tempo que não nos amávamos.

viscos, salivas e surpresas tonteiam as sensações banhadas de um vinho esquecido na garrafa no chão. a cama, quente, definitivo esconderijo de quem ama, acolhendo qualquer gemido agudo ou mudo. abafado por qualquer jura que certamente será esquecida.

(...) fazia tempo que não nos entregávamos.

papéis pelo chão, cortinas cerradas, beijos robados entre dentes e pedidos, abraços que se perdem na intenção de acolhimento, somos devorados. esquecemos o tamanho da nossa certeza, desejamos navegar por mares desconhecidos em nós. precisamos nos afogar. para que de qualquer paixão morramos sobre a tarde e a noite que começa lá fora tão branda.

(...) fazia tempo que não nos esquecíamos assim.

os corpos em volúpia tremem a escuridão das sombras do quarto, não haverá mais palavras, não haverá mais desculpas, silêncio e som numa mistura a calar nossas verdades absolutas. teu corpo morada da minha vitalidade, meu corpo, seu esquecimento, abertos, inteiros, mordidos.

(...)fazia tempo que não nos desejávamos tanto!

qualquer melodia infeliz. qualquer cheiro que passasse despercebido. alguns sorrisos notados, algumas lágrimas amassadas, muitas sensações emboladas a nossos pés. em nossas pernas que já não andam, que roçam, esfregam-se seios e ombros, para que de prazer possamos banhar o instante.

algumas mentiras esquecidas na gaveta do criado mudo, a vela queimando a sálvia deixada sobre o tapete. as pétalas coladas ao suor do exercício anterior. e o amor, tão manso a comer nossos nomes, nossas peles, nossas vidas.

(...)fazia tempo que não me despia tanto!

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