quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Em ti, o mar****


Estou tentando fotografar o perfume. Estou tentando. Experimento para que você possa antes de ver, sentir. Prefiro que invente a imagem. Já disse que prefiro o gesto. Parece que você esquece. Por isso prefiro tentar a fotografia. Assim talvez se perca nessa imagem descolada de tempo que os relógios contam.
Tento fotografar o que a palavra provoca em ti, para provocar mais. Mas você não deixa. Você oculta o segredo todo para que eu continue inventando instantes e palavras.
Esse ofício que me empregas me mata como me dá vida. Me dá de comer, ainda que prefira a fome. Não resisto. Entrego-me ao banquete e desenovelo a palavra para que você se satisfaça. Mas ainda desejo fotografar o instante. Para que possas um dia rever tudo aquilo que te prometi. Cumprir já está fora do meu alcance. Apenas desejo instaurar o instante da palavra que te ofereço. E fotografar teu sentir será presente para minha retina cristalizada no teu nome.
Fotografo tuas mãos, elas me lembram o mar. Ondas perigosas. Gosto desse desafio. Gosto do temer. Gosto da sensação do frio. Suas mãos são como as ondas, agarram-me para que ti não me esqueça. Ressaca minha palavra. Para que depois eu deite na areia úmida do seu corpo e deseje navegar. Deseje navegar sempre.
Por isso tento num intento profundo fotografar o perfume. Ele me fará mar também. Ventania na tua costa. Para que se esquecer perfume que sou, passas lembrar no instante outro.
Então vigio o instante do clicar. Precisa ser preciso. Precisa ser instintiva a fotografia do cheiro para que na hora marcada pelo agora, tu naquele mar outro que te engole viva, sintas o me chamado, antes do abismo.

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