quarta-feira, 28 de outubro de 2009

**Vício Novo**

Hoje perdi as palavras, elas não me saem da boca, nem dos dedos, como ontem. Deve ser pelo novo excercício que me ponho, amar exige exclusividade.
Hoje minha língua caminha em outra direção, desvenda o silêncio que sai de ti como alguma promessa, nem sei o tamanho daquilo que tem me feito sentir. Sei apenas dos estragos, o que já é muito.
Hoje, depois de acordar e ver-te arrumando todos os fatos para que eu deixasse de acreditar na noite, percebi que tudo para mim fora valioso demais para ser violado e que você não havia dado tanta importância. Então entendi que havia coisas que nasciam de concepções diferentes, sentimentos vazam de forma estranha a cada um, por isso talvez, eu tenha perdido a palavra.
Hoje esqueci o cigarro aceso e a palavra foi morta, brutalmente assassinada na ausência do seu cheiro, das suas mãos sobre mim, do pior jeito descubro que amar também é estar só.
Descobri que tudo é uma questão de entrega e que eu havia me entregado demais. Que na verdade, me entrego demais. Não tenho medo dos excessos, eles são o que realmente me transborda. Aquilo que de alguma forma me mantém atenta, viva. Mas o preço era alto demais e não acreditei.
Hoje, depois de arrumares as malas, ligar aquele carro velho e dar a partida sem olhar para a cama, sem constatar os estragos, eu pude entender que em mim nascia alguma saudade e em ti, sobrava pavor. Mesmo assim, procurava seu olhar para uma última verdade e o que pude alcançar foi mais uma vez o silencio.
Não sei se foges, se esconde, se assim está de fato se expondo, apenas conheço tudo aquilo que me causou e isso já é o suficiente. Não sei se vai voltar implorando um abraço, um beijo que sua língua me roubou ontem à noite, não sei se revogará seu direito de amar quem lhe pareça mais amável, só entendo que as malas diziam do nosso fim.
Hoje perdi a palavra e viciei em olhar pela janela, a espreitar sua amarga e deliciosa chegada, mas as horas passam, o dia se alonga e sua partida ainda é mais clara que hoje cedo, antes do sol.
Viciei em contar teus beijos, aqueles que de arrepios marcavam minha nuca, viciei em teus olhos que viam não o amor chegando de leve, mas aquele que anunciava partida. Viciei em contar-te os cabelos, os medos, à beber em ti aquilo que havia me alimentado durante anos e ainda desejo, mas não posso.
Hoje esqueci o valor da palavra e me perdi na ausência que de ti senti quando cedo vi seu bilhete sobre a mesa que dizia que nada mais era real. Hoje perdi a palavra e a cabeça.

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