quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Minha verdade


Não se assuste com as minhas verdades, elas são igalhas do que sou. Claro que me entorto, retorce em mim caminhos que convidam ao fim. Será que houve começo em algum momento?? Eu não sei o que do muito eu fui, sei apenas que existo porque tenho corpo. Tenho sangue que transborda, que ocupa espaços que nem sei ao certo se sçao meus ou dos outros. Sei apenas que existem e que eu os ocupo com minha fala, com meu cheiro, com a minha estranha forma de me dilatar!
Não se assuste se minha presença for estranha sensação de medo, fantasmas são meus amigos mais sinceros. Descanso sobre eles todas as minhas febres. Sinto muito, sinto tanto se ao perceber minha presença já for tarde, ela é apenas aparição em noite de lua cheia.
Não me importo com as risadas desmedidas, assombradas que me recebem, conservo o choro porque nele há exata medida do que sou. A lágrima vulcânica refelte o deserto que me faz refazendo todos os dias.
Não se assuste então se te digo como sou assim tão imprecisa, incompleta, afinal, completude é sonho de hipócritas. somos em essência incompletos, a sempre pedaços que faltam e espaços que sobram. Minhas verdades são assim mesmo, face oposta do bom gosto, do bom senso. Estas são qualidades que não pude ter.
Não se assuste então, espreite pela janela silenciosa, desvende toda a minha visão dos fatos, para que mais tarde possa severamente me dizer adeus, despedidas que para mim começam quando nos propomos ao encontro. Não me importo com aquele adeus apaixonado, eles servem como consolo da solidão.
Proponho-me as verdades inventadas, elas cabem dentro do meu coração, que já não bate, mas que razoavelmente bombeia o sangue que vai jorrando, que vai preenchendo, dando algum sentido a sentido nenhum que já existe!

Rabisco***

Falta.
Falta um pedaço. Falta cigarro. Ópio.
Confusão.
Falta roupa. Coragem. Decência.
Falta papel.
P-A-L-A-V-R-A. Explicação.
Falta silêncio. Sobra vazio. Sobra nada. Falta tudo.
Falta chuva. Solidão, bebida.
Água. Sangue. Gume. Veneno.
Antídoto contra tentação.
Falta cama, sobra tesão. Falta beijo. Sobra boca. Sobra espaço. Falta pouco. Um muito complicado que descomplica situações.
Falta muito pouco. Exagero. Sobra falta. Falta excesso. Falta abrigo.
Comida.
Falta a falta. Falta e sobra tempo.
No fundo fica sempre faltando.
O gole fatal.
O gesto
Final.
Falta estar repleto. Sobra um enorme
Transbordar.
Enorme d-e-r-r-a-m-ar rio mar.
Que falta.
Falta a fala desmedida,
Demasiada espera de completar.
Falta você em mim como
Sobro em ti.
Falta pouco, falta tanto, falta muito.

Sobre o nosso fim***


Ele apagou o cigarro e a única certeza que tive foi que havia também apagado todo aquele sentimento que em nós nos fazia grande. Eu continuei fumando, em mim ainda morava nosso deserto, nossas palavras inféteis.
Já nele, que depois do cigarro apagado, passou as mãos no meu cabelo, o sol havia parado de queimar, já não éramos espelho refletindo opostos, éramos estranhos, mas até aí nenhum frescor, apenas a confirmação do início.
Éramos apaixonados. Não nos cabia a paixão pelo outro, morríamos em nós mesmos. E isso dificultava o exercício. Isso fazia da nossa história final sem começo ou meio. Éramos egoistas. Medíamos a medida da entrega. Doáva-mos como quem somente empresta. Queríamos sempre a devolução.
E foi exatamente assim, no início da noite que sentados num banco de uma praça pequena nos dissolvíamos. Deixamos de existir e nossa existência imediatamene ganhou leveza. Ganhamos inesperadamente a liberdade!
Que venha o natal, presentes e reuniões, que elas sejam breve, antes que me matem de solidão.
Antes que o final seja em mim começo, até que de tanto sorrir, chore feito menino querendo colo.
Que venha então toda a palavra encantada que fulgura por detrás da festividade, que papai noel passe sim, me deixando cacos de vidro de presente, e que estejam devidamente embrulhados, para que eu me lance sobre o abismo tão aclamado do fim.
Que seja então como as crianças preferem, que a ilusão não se finde, e que a carruagem jamais perca a direção da chaminé...e que o bom velhinho sempre carregue presentes seja qual for o preço e o peso deles...

é asssimm que recebo o natal....
não que não goste das lindas mesas de ceias fartas e pouco paladaar...
apenas preciso e pressinto que este ano falta-me antes do presente o desejo!

Em ti, o mar****


Estou tentando fotografar o perfume. Estou tentando. Experimento para que você possa antes de ver, sentir. Prefiro que invente a imagem. Já disse que prefiro o gesto. Parece que você esquece. Por isso prefiro tentar a fotografia. Assim talvez se perca nessa imagem descolada de tempo que os relógios contam.
Tento fotografar o que a palavra provoca em ti, para provocar mais. Mas você não deixa. Você oculta o segredo todo para que eu continue inventando instantes e palavras.
Esse ofício que me empregas me mata como me dá vida. Me dá de comer, ainda que prefira a fome. Não resisto. Entrego-me ao banquete e desenovelo a palavra para que você se satisfaça. Mas ainda desejo fotografar o instante. Para que possas um dia rever tudo aquilo que te prometi. Cumprir já está fora do meu alcance. Apenas desejo instaurar o instante da palavra que te ofereço. E fotografar teu sentir será presente para minha retina cristalizada no teu nome.
Fotografo tuas mãos, elas me lembram o mar. Ondas perigosas. Gosto desse desafio. Gosto do temer. Gosto da sensação do frio. Suas mãos são como as ondas, agarram-me para que ti não me esqueça. Ressaca minha palavra. Para que depois eu deite na areia úmida do seu corpo e deseje navegar. Deseje navegar sempre.
Por isso tento num intento profundo fotografar o perfume. Ele me fará mar também. Ventania na tua costa. Para que se esquecer perfume que sou, passas lembrar no instante outro.
Então vigio o instante do clicar. Precisa ser preciso. Precisa ser instintiva a fotografia do cheiro para que na hora marcada pelo agora, tu naquele mar outro que te engole viva, sintas o me chamado, antes do abismo.

**Vício Novo**

Hoje perdi as palavras, elas não me saem da boca, nem dos dedos, como ontem. Deve ser pelo novo excercício que me ponho, amar exige exclusividade.
Hoje minha língua caminha em outra direção, desvenda o silêncio que sai de ti como alguma promessa, nem sei o tamanho daquilo que tem me feito sentir. Sei apenas dos estragos, o que já é muito.
Hoje, depois de acordar e ver-te arrumando todos os fatos para que eu deixasse de acreditar na noite, percebi que tudo para mim fora valioso demais para ser violado e que você não havia dado tanta importância. Então entendi que havia coisas que nasciam de concepções diferentes, sentimentos vazam de forma estranha a cada um, por isso talvez, eu tenha perdido a palavra.
Hoje esqueci o cigarro aceso e a palavra foi morta, brutalmente assassinada na ausência do seu cheiro, das suas mãos sobre mim, do pior jeito descubro que amar também é estar só.
Descobri que tudo é uma questão de entrega e que eu havia me entregado demais. Que na verdade, me entrego demais. Não tenho medo dos excessos, eles são o que realmente me transborda. Aquilo que de alguma forma me mantém atenta, viva. Mas o preço era alto demais e não acreditei.
Hoje, depois de arrumares as malas, ligar aquele carro velho e dar a partida sem olhar para a cama, sem constatar os estragos, eu pude entender que em mim nascia alguma saudade e em ti, sobrava pavor. Mesmo assim, procurava seu olhar para uma última verdade e o que pude alcançar foi mais uma vez o silencio.
Não sei se foges, se esconde, se assim está de fato se expondo, apenas conheço tudo aquilo que me causou e isso já é o suficiente. Não sei se vai voltar implorando um abraço, um beijo que sua língua me roubou ontem à noite, não sei se revogará seu direito de amar quem lhe pareça mais amável, só entendo que as malas diziam do nosso fim.
Hoje perdi a palavra e viciei em olhar pela janela, a espreitar sua amarga e deliciosa chegada, mas as horas passam, o dia se alonga e sua partida ainda é mais clara que hoje cedo, antes do sol.
Viciei em contar teus beijos, aqueles que de arrepios marcavam minha nuca, viciei em teus olhos que viam não o amor chegando de leve, mas aquele que anunciava partida. Viciei em contar-te os cabelos, os medos, à beber em ti aquilo que havia me alimentado durante anos e ainda desejo, mas não posso.
Hoje esqueci o valor da palavra e me perdi na ausência que de ti senti quando cedo vi seu bilhete sobre a mesa que dizia que nada mais era real. Hoje perdi a palavra e a cabeça.

**Noite**


Acordei. Palavras metem-se na minha cabeça. As falas não repetem. São ecos de um sonho ruim. Tento levantar, as pernas estão enterradas na areia movediça da consciência. Não tenho passos, os caminhos noturnos soam como pedido. Tenho medo, pressa. Mas é preciso arriscar uma saída. Acordei. E não tive tempo de digerir os seus sussurros na noite anterior, sua fala delirante, seus desejos sombrios. Não me contenho e acendo outro cigarro, o ópio liberta. Mas minhas asas estão presas. O que posso senão querer voar? A liberdade está em mim atrelada a um estado de consciência. Portanto, asas desmancham a ilusão do vôo. E assim vou longe, encontro-te na esquina do meu querer, onde descalço esperas por um beijo quieto, doce, algoz. Torturas minha fala elevando sentidos que nem posso sentir, a superficialidade do gesto me obriga a sair, tentando esquecer que tudo soa apenas como um enorme esforço de ser nada. Nosso mal é ainda querer sem esperar a hora, sem nos dar conta de que tudo precisa ser velado, como nossas vozes, dentro de um imenso silêncio de palavras. Acordei. E a noite insiste em prevalecer em mim. Os versos de um poema fazem viver em mim aquilo que conheço, mas não classifico. Apenas vivo. Numa urgência de sentir o trepidar do mundo. Calar o meu nada. Amansar as ondas do meu mar. De qualquer forma, amansar também minha loucura. Acordei. E nem mesmo posso gritar, palavras me foram roubadas, assim, existo parcialmente, engolindo aquele veneno que me exige ser inteira. Evito sentir aquele cheiro de primavera, mas as flores nascem arrebentando os passeios públicos. Os passeios onde brotam as margaridas e os amores. Evito respirar, mas o ar frio da madrugada sufoca meu esforço e eu sobrevivo. Tenho medo, mas o silêncio estonteante dos teus olhos glorificam a minha paz.