quinta-feira, 17 de março de 2011

Escombros III


Os dias foram entrando casa a dentro. As palavras foram mofando de tempos em tempos. As frutas da geladeira deixaram o doce amargar. As folhas começaram ficar amarelas. O sentimento mudou de lugar como qualquer móvel da casa;
Os meses passavam com o chegar dos sêlos das cartas que vinham de longe. Nunca mais houve diálogo. deleitávamos ou fugíamos em monólogos extensos. Era fácil saber quando já era noite; a palavra adormecia.
As horas foram nos devorando. os cabelos e a barba crescendo feito grama regada por chuva. a esperança vai mudando de cor. vai se refugiando de um verde-azul que anda longe. perdido? (!?)
As verdades vão se dissipando num espaço chamado vazio e a alegria vai incomodando. Parece que ser triste é ser-humano. condição.
Soletrar palavras é denunciar qualquer desespero que não grita; geme. escrever torna-se impossível porque palavrear coração é tarefa que foi dada a poetas. (não sou?!) devagar vou deixando que a saudade traga de volta qualquer vestígio ou pista de que felicidade existiu. e sorrio. mesmo que neste sorriso aja mais tristeza que vontade.
no fundo,
adormecer é mais difícil que pensei."

6 comentários:

  1. Suas palavras são tão ternas! Abrigam forças, vobtades, desejos...
    Bj, Mell.

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  2. Não sei porque dizem que palavras é coisa de poeta. Eu acho que palavras é coisa de quem sente, por dentro e por fora, como você por exemplo que exibe de forma lúcida e surreal essa tristeza que te abraça e se agigante, roubando-te o sono.
    Sei lá, eu gosto de estar triste, não é sempre que isso acontece, mas a tristeza me permite uma interiorização, um encontro lá dentro, intimo e pronto. Fico por lá e quando saio, sou outra...
    bacio

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  3. Bom dia filha amada, as sensações que vão sendo seguidas em suas palavras a mim são únicas. Vejo as imagens que o texto cria, sinto a alma que não grita com a voz, mas abafada escreve. Também gosto desta tristeza, nasci assim, e desde muito pequena tinha necessidade de solidão. Pomovo em mim mergulhos profundos porque chegar nos primeiros metros do precipício talvez não me deixaria voltar para fora. Tenho que mergulhar no mais negro profundo até o baque no chão. Posso ficar dias e dias lá, bem dentro de mim, para aprender mais quem sou, e volto sabendo pouco porque tem muito a ser encontrado em outros mergulhos. Te amo filhota, amo tua escrita como se estivéssemos sentadas no sofá, tomando café, "fumando" e conversando sobre a vida e sobre nós. Beijos minha amada Mell, filha nascida no coração.

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  4. então sorria moça
    e não deixe de escrever... talvez grande poetas são aqueles que não se nomeiam como tal.
    e eu vejo lindas poesias em tuas palavras.

    beijos

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  5. ''Parece que ser triste é ser-humano. condição.
    Soletrar palavras é denunciar qualquer desespero que não grita; geme. escrever torna-se impossível porque palavrear coração é tarefa que foi dada a poetas. (não sou?!) ''

    Ah você é , nao discuta, aceite a condição de ser poeta , de ter magia quando escreve , de ter esse poder de nos prender e nos fazer sentir como se vivesse essas letras escritas por ti

    eu acho lindo quando a gente se põe toda pra fora assim desse modo , como voce fez agora. LINDO é pouco , isso ainda nao tem nome . Só nao quero que aceite a condição de ser triste como a maioria é, mas se a tristeza bater ( o que é inevitavel ) derrama ela no papel , esperneia nele , mancha , até sair a tinta toda e só sobrar felicidades (L)

    Um beijo Mell

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  6. É tão incrível ler alguém que escreve como se fosse sobre você! Adoro ler o seu blog!

    Um beijo Mell, ótima quarta-feira

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