terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Lilás...

No som Alquimia
e um incenso de Uva, para delirar!*
No céu da boca, um caramelo, talvez para excitar!**

(...)


Aliás, eu devia me deixar levar pelas formigas. Seria lenta a viagem. Observaria os detalhes. Poderia ver com olhos de amor e de fome. Poderia conhecer o cheiro mais doce das maçãs e das uvas. E talvez sentir o gosto mais áspero de algns sentimentos que me rondam tão noturnamente como a lua. Tocaria com a ponta dos pés as flores mais altas e assim nomearia a liberdade. Estaria dilatada e retornaria ao estado primeiro da matéria, o barro.


Aliás, eu deveria amar com o coração mais duro e com olhos mais atentos. Seria grande o caminho a percorrer e daria tempo de descobrir todas as faces desse amor que me rouba tanto para dentro das coisas e me faz escapar de mim com tanta precisão que não consigo descrever, mas sinto. Cavalgaria sobre a manhã de olhos fechados e deixaria morrer em mim todos os raios vermelhos do sol. Talvez mergulharia minhas mãos sobre rios insondáveis e experimentaria deitar sobre mim num campo de flor lilás, uma ou muitas, não importa, eu estarei morta.


Aliás...eu devia caminhar num deserto de flores do campo, e de repente ser resgatada por aqueles olhos tão azuis como um céu de primavera parisiense. Assim estaria livre, à medida que me prende. Essa enfim é a liberdade que desejo desesperadamente. A primavera escreveria seus versos e eu, solta num vestido laranja, dançaria sobre as pragas. Isso levaria a um outro delírio, que depois conto, agora não, ainda é cedo!


Aliás, eu deveria desejar só as coisas simples. O café da manhã, o beijo mais doce na boca, o cigarro aceso entre os dedos. O olhar a me invadir e libertar, assim, tão despreocupado quanto apaixonado. Deitar sobre aqueles ombros tão grandes e esquecer de carregar o peso, esquecer que a dor embora latejante é apenas fagulha. E que o amor transcede a loucura.



Aliás, eu devia apenas me deixar levar por todas essas canções, esquecer o significado da palavra pronunciada e me perder tão doidamente na imensidão do silêncio, que no fundo está sempre povoado.

Aliás, eu devia me calar, para que você pudesse ler meus olhos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Atente-se para o Indizível: