terça-feira, 3 de novembro de 2009

Alma de Chumbo***

Minha alma é de chumbo e segredo. Não sei por que você insiste em dizer que sou borboleta, asas e liberdade. Estou atrelada à realidade, passos de ferrugem marcam os espaços percorridos. Sou ácida, tão doce como maracujá azedo, feita do pó do asfalto, alma de chumbo e segredo!
Ainda que dissesse livre, correntes prendem o vôo de Ícaro dos meus pés. Estes caminhos obtusos incapazes de ditar qualquer destino plausível.
É uma alma pesada, tesouros e papéis, mel e sangue, ainda que um pese mais que o outro. Portanto, junte o acaso de todos os fatos e pense como sou cinza, poeira de vento. Maleável, corrompida, como vidro bruto transformado em mosaico, tangível e bela, intolerante e abusiva.
Minha alma de quinhentos anos, aromas e sabores, vertigens e segredos, ah alma de chumbo, dentes de aço, nervos de rosas, sopra-me e verás bomba de Hiroshima em alto relevo.
Chumbo e segredo, alma preta, corpo branco, calçando os pés empoeirados com aquele all star laranjado de tempos atrás.

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