terça-feira, 3 de novembro de 2009

Deslizes Casuais**


Na sala há um relógio que conta as horas do esquecimento. Na parede um retrato ausente aponta um instante ou será alegria? Anos de ferro. Passando roupas amassadas, vítimas do desejo, hoje secam ao vento no varal da loucura de um sábado quase sem sol.
No quarto, mentiras de uma vida feliz, sobressaltos, assombros de um passado traído, dispensado, esquecido. Nas bocas palavras sem cor vazam pelos cantos minando ainda a única certeza. Os olhos cicatrizes vivas da realidade falida, vitrio como aquela jarra que enfeitava a mesa, cheia de flores secas, anuncia a descoberta, falta de sorte ou acaso, não sei!
Nas mãos calos de solidão pulam contando histórias malditas, ainda cheias de fantasmas, sonhos, ilusões. No peito que antes vibrante, canções da fuga inundam propostas inversas da vida. O homem a mascar o fumo no portão. A mulher, dedos furados, sangrando o bordado para a neta que vai casar.
O tempo marcado pelo esquecimento, marca relógio do tempo, final. Quem será a vítima? Sábado à tarde, borboletas voam direção, rumo ao infinito. No quintal plantas que morrem pelo sal das lágrimas derramadas no fogão!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Atente-se para o Indizível: