sexta-feira, 28 de maio de 2010

Aquela menina


"...ela tinha qualquer coisa de triste nos olhos. mas caminhava mesmo sem saber para onde. engolia com certa dificuldade a comida e os sonhos. olhava para o céu com uma esperança velha. empoeirada. parecia que jamais havia acreditado que seria feliz. ela ainda roía as unhas e fechava os olhos quando sentia medo. nisso havia certo lembrar de coisas acontecidas.

não acreditava em fadas, mas adorava se perder vendo borboletas voar. talvez quisesse ter asas. segredo que não podia contar. se comovia com o amor mas jamais se preparou para recebê-lo. tinha receio de se machucar ainda mais. optava pela paixão sempre. aquela que colore as roupas de sangue e suja as mãos de lágrimas. mas se atrelar a isso era mais humano que amar sem que deveras fosse amada.

ela jamais teve bonecas, vestidos rodados, carinhos e perfumes. aprendeu que precisava ser pura. ter a cara lavada e coragem. porque de qualquer forma, sempre estava nua. e viver sempre nua era correr riscos todos os dias. depois de tanto tempo não perdeu a vontade de ser feliz, mas sabia que o preço poderia ser alto, mais alto do que já pagava para empurrar a infelicidade para fora de sua casa todos os dias. ainda sim queria saber como era sorrir despreocupadamente. coisa que jamais pôde fazer. mesmo quando recebia migalhas. não se lamentava pelo fato de não ter esteio, porto, colo, abraço. sua miséria era maior que a expectativa de que tudo em algum momento passasse. ela conhecia profundamente as frustrações dessa espera. e desistira de lutar contra essa condição. preferiu caminhar com a salva da realidade. sobreviver. era muito mais importante que preservar o sonho. o tempo havia lhe ensinado que era preciso levantar sem que houvesse mão estendida. compaixão. e ela, menina tão doce, não se quiexava. emudecia sua fúria amassando a dor nos dentes, como a mascar um chicele que acabara o gosto fazia tempo.

precisou endurecer para que não morresse. jamais perdeu a ternura. mas isso ficava em camadas profundas debaixo da pele. só saltava pelos olhos quando se esquecia observando a lua. escapava um sorriso amassado. que logo era engolido. pela fome. pelo peso dos dias.

jamais duvidou que precisava crescer. atropelar os sabores de uma infância falida. rendeu-se a intermitência da vida adulta. alinhou a coluna para que erguida pudesse caminhar por vilas que não conhecia. era a vida. sua condição mais humana. seu estado mais bruto. enchia-se de uma coragem a comover olhos desatentos. e seguia. porque era preciso. porque era destino.

ela tinha nos olhos qualquer coisa de triste. e vivo. a cativar ilusões que ela mesma desconhecia..."


3 comentários:

  1. Essa semana foi bem corrida querida. Tive seminários, prova... Quando o semestre está para encerrar, tudo caí na mesma data, semana... Fico louca, rs.



    E você, está melhor?
    Ia entrar no msn Msn para falar contigo, mais estava tão cansada ontem, deitei cedo e acordei mais cedo ainda.

    Espero que esteja bem :)

    Obrigada pela presença lá no Reino.
    ele reluz muito quando você aparece.

    Cuide-se,
    até!

    Jenifer

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  2. dona moça,
    cadê você?


    está melhor?
    estou preocupada com sua saúde... quando puder, me manda notícias :)

    um beijo.

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