terça-feira, 4 de maio de 2010

Do amor mesmo doente

"Era áspero amar-te. Doia como se dói aqueles arranhões da infância. Ardia. Parecia que bordávamos em carne viva qualquer sentença a nos tornar cada vez mais presos. Estávamos condicionados ao cárcere , sem que a memória pudesse ser refúgio da liberdade. Não pensávamos, sentíamos desmedidamente.
Era doce, ainda que muito violenta a forma que nos amávamos naquele quarto. Rancores e afetos, mordidas e beijos tão demorados. Não sabíamos se morríamos enfim de amor ou de ódio. Suas mãos tateavam em mim qualquer paraíso, qualquer renúncia, em ti, com a ponta dos dedos, eu buscava qualquer certeza morta, qualquer carinho escondido, qualquer verdade inventada. Nossos olhos perdiam-se entre o azul e o castanho, nma mistura de almas confusas e apaixonadas. Desesperadamente.
Em nós existia qualquer coisa de fuga, de esconderijo, qualquer coisa de urgente, embora jamais pudéssimos saber que coisa era esta exatamente que procurávamos. Estávamos atrelados numa costura firme, em gestos demorados e doentios. Éramos dois em busca de um encontro único. Ainda que a unidade estivesse comprometida. Inutilmente.
Queríamos amar com um amor maior. Com menos silêncio, com menos surdez. Com mais música e menos pedidos. Queríamos que esse amor acontecesse de qualquer forma, mesmo que para isso fosse preciso esquecer de fato quem realmente éramos. Para findar numa existência múltipla, porém única.
Era farta a fome, a sede, a coragem da entrega. Era insondável as medidas que nos cabiam. Parecíamos, enfim, perdidos dentro desse nós que construimos sem saber ao certo onde começávamos e terminávamos. Bebíamos de uma fonte inesgotável de ilusão. Que secou. Que nos deixou imundos. Que nos deixou saciados. Em estado de overdose.
Extrapolamos a capacidade de entender o que de fato havia nascido em nós. Estávamos completamente loucos. Doentes, em estado terminal. e isso não foi suficiente para que acabasse. Ainda sim fundíamos cada vez mais, misturavam-se ainda mais nossas dores, nossos desafetos. Nossos carinhos eram sangrentos e nossa fala já estava perdida. Gozávamos motivos desconhecidos, mas ainda sim gozávamos. Estávamos irreparavelmente amaldioçados pela paixão que concebíamos. e ainda sim, seguíamos. Presos pelos pés. Correntes nos dentes. Gume nas línguas. Ainda que um dia possamos estar livres.

Ps: Eis que por isso acaba, precisava que o teu amor me libertasse do silêncio, que juntos pudéssimos ter dançado sua incrível melodia, mas não, não pude dançar sua felicidade!

Ainda sim te amo!

2 comentários:

  1. acho que nunca me encontrei em tais palavras...
    como agora.



    e então moça,
    em qual classificação colocou meu amado Caio F.? rsrs.


    já melhorou o "bacaninha" rs.


    ando com tantas coisas Lispectorianas para postar no reino, mas ando meio cabeça.


    obrigada pela visita :)
    é bom lhe encontrar por lá ^^


    esse café literário está amarrado, rs.
    beijo.

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  2. Ô moça,
    precisa se desculpar por nada não.
    Nadinha :)


    e eu não fiquei nem um pouco chateada. Estava só brincando.


    Obrigada sempre por aparecer lá no Reino.
    Suas visitas são de uma alegria grande para mim :)

    E esse café, que dia saí? Rs.
    Eu ando bebendo pouco café, daqui a pouco largo de vez, e não bebemos nada hahaaha.

    Beijão e u ma boa tarde!

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