terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Olhos


Eu queria poder não chorar, não sentir a falta, a fala tão suficante e destemida.
Eu queria poder não engolir tantas pedras, tantas mentiras, miados noturnos.
Eu queria nunca encontrar aquele bilhete, aquela conversa, aquele desejo
queria que tudo ficasse estagnado, suspenso,
para que eu pudesse respirar um pouco mais aliviada, com um pouco menos de dor.
Eu queria que esses olhos não fossem os meus,
queria que essa fala desmanchasse na imensidão dos dissabores da língua,
eu queria convencer-me de que meu esforço terá validade.
Mas é tarde para que a lágrima não escorra, muito tarde para que ela não brote.
Mais tarde para que ela, viva e tão quente não derrame sobre meu rosto
toda a palavra que evito!

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