quarta-feira, 10 de março de 2010

Alguma coisa sobre nós**

Primeiro era preciso acreditar na liberdade, não adiantava sonhar. Era preciso o gosto da verdade na boca. Que se misturasse com o café ou a fumaça. Mas era preciso o gosto.
Era preciso que as correntes não apertassem tanto, que se deixasse o passo solto, a palavra ainda mais bamba, para que sorrateira ela quisesse ocupar um espaço maior. E nunca partisse.
Era preciso se deixar levar pelas tardes infinitas dos olhos, tão castanhos quanto as folhas de um outono nascente. Era preciso salvar a lua e deixar que ela falasse um pouco ao coração. Porque a noite era o ensaio da sua morte. Para que o sol depois a renascesse feito fênix, das cinzas mais obtusas.
Depois era preciso amar com o amor sem reservas, um amor de dentro, e junto dele construir outros pré-sentimentos, nunca julgamentos. Porque isso mataria o amor com tiro certeiro.
Era preciso coragem para seguir adiante, perceber as flores pelo caminho, apesar do deserto ser árido e doloroso. Apesar do sol na cara e do calor quase mordaz. Era preciso coragem para caminhar junto, ainda que por muitas pedras e feridas viessem.
Era preciso sentir a força sobrehumana da palavra proferida para que mais tarde o silêncio fosse entendido, fosse desvendado e povoado com velocidade e destreza.
Era preciso fumar mais um cigarro e ouvir mais uma música, era preciso desarrumar os cabelos, perfumar o corpo com o cheiro indizível de cada um, era preciso mais um pouco de prazer, de gemidos, de sussurros. Era preciso alguma lágrima que ficou engasgada. alguma palavra que ficou torta, algum sorriso esquecido. Ainda era preciso acreditar na liberdade do passo. Os pés caminhariam sempre juntos. E o espírito sempre estaria por perto, rondando. Sempre.
No fim o que era de fato preciso era não ter fim, ser um final de começos eternos, para que a paixão viesse em todas as horas enfeitar a magnetude do amor ainda mais puro!

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