quinta-feira, 11 de março de 2010

Em cores**

Sou feita em cores.
Sou feita de segredos e verdades inventadas.
Sou feita em cores quentes e vibrantes.
Cores de cores, prelúdios da cor.
Selvagem.
Sou feita de pedaço de sonhos
falas e subterfúgios,
silêncios e gritos.
Num vermelho ferrugem a corroer os ossos e as mãos.
As peles e as línguas.
Sou feita de uma beleza que pousou de longe,
de uma desarmonia sincromática que devolve ao feio o estado de primitivo.
Em cinzas.
Sou feita em cores florescentes.
No amor sou toda em cores, de azuis bandeira, até aquele alaranjado que enfeita as telas de Àlmodovar.
Sou esse emaranhado de cores e visões.
Estou sempre embaraçada nas fotografias e nos reflexos das cores.
Sou feita de um arco-íris tão infinito quanto o sonho que carrego no peito.
Sou feita do pó dos sonhos...um pó que parece ter a cor de carmim.
Como da minha boca.
Sou feita em cores mesmo quando estou em resolução preto-branco.
Ser dualidade é também ser negativo.
Ser negativo é ser também preto-branco.
Ter polaridades extremas é aceitar a grandeza que somos ainda que pequenos diante do mundo.
Portanto estou em resoluções infinitas.
Transformo-me segundo a paixão.
Transfiguro-me segundo a vontade.
Poluo espaços com meus espasmos multicoloridos.
Sou feita de sangue e tinta.
Numa aquarela tridimencional.
Multilateral e essa classificação me lembra o verde.
O verde azul dos teus olhos que também sou.
porque sou ocupando espaços.
porque sou ditalata.
porque sempre vejo com lentes de aumento.
porque nunca sou só superfície.
Sou feita em cores.
Cores e alguns sabores.
Sabores que embora doces,
carregam sempre aquele final de amargo como chocolate.
Então:
cores, sangue, tinta, gume, sabores, chocolate.
Numa exatidão tão precisa quanto o arrastar do tempo nas folhas coloridas.

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