quinta-feira, 11 de março de 2010

Das coisas que gosto I**

Eu gosto das balas de caramelo e do batom mais vermelho que o sangue mais vivo.
Eu gosto de andar descalso e dançar na chuva. Porque sou feita da poeira destes instantes.
Gosto de sentir o salto antes da queda e ficar suspensa nessa inexatidão que me faz tecida de muitas vidas.
Gosto de voar, ainda que a asa esteja quebrada. E o vôo esteja parcialmente comprometido. - estou livre com o pensamento e isso me fascina!
Gosto de brigadeiro e sorvete de abacaxi. Prefiro coca cola a guaraná. Estas certas preferências fazem de mim tão normal que até sorrio.
Eu não gosto de chuva, mas dançar sobre ela é alguma coisa de cinematográfico que ficou em mim.
Eu não gosto de beijos roubados, mas as possessões afoitas e desesperadas me fazem virar o juízo desesperadamente.
Eu não gosto de frio, mas cobertores são ótimas companhias para esses dias e namorados também...ainda que a solidão da cama devolva certa liberdade para o corpo.
Gosto de pular amarelinha e cantar cantigas de roda, balançar as saias de fita e pendurar uma flor nos cabelos me faz romântica ainda que contra a minha vontade. Mas são coisas que gosto.
Gosto de gostar do arco-íris, das lagoas e dos rios, embora não goste nem um pouco de mato, a relva serve apenas para ser testemunha do sexo.
Gosto de cabelos curtos e saias abaixo do joelho, revelam uma sensualidade que se esconde. Este jeito de seduzir é delirante.
Gosto de línguas e dedos. O prazer pode estar sempre vinculado a fala. Sexo verbal é o que de fato me fascina. Embora as continuações do ato me levem a um gozo profundo.
Gosto de ser mulher por causa dos esmaltes vermelhos e dos vestidos. Gosto de ser menina por causa das guloseimas da infância. Extremos e opostos, é disso que sou feita. Minhas tecituras são reversas, inversas, extremas. E gosto de ser tão contraditória.
Não gosto do silêncio. A palavra precisa ser empregada sempre. Sou feita do verbo. E dele desdobro em tantas vidas que nunca exatamente sei precisar qual delas de fato sou e qual delas vibram apenas os meus fantasmas.
Gosto de estradas compridas, de noites enluaradas, estrelas cadêntes, perfume de jasmim, rosas vermelhas e cartas de amor.
Gosto de verdades inventadas, falas desconexas, metades inteiras, espelhos sem reflexos, horas à fio no telefone. Isso tudo faz de mim uma mulher tão grande a não caber dentro de mim, assim explodo. Extrapolo. Uso o meu eu-lírico, para poder ser ainda mais o que de fato não falta, sobra.
Gosto de poesia, novelas e música. Gostos das paredes brancas, assim ficam mais fáceis de virarem telas multidimencionais, completamente virgens a criação, intervensão. Gosto desse estado de construção permanente. Sou pedra, que rola, que descansa, que vai arrastando para outros caminhos, milhares de pés vão caminhando comigo.
Gosto de amar com paixão. Sou absolutamente passional. Cometeria um crime de amor. Aceito todas as verdades que o amor oferece. Invento-as também. Assim, amar ultrapassa o limiar do humano e isso me empresta certa salvação e ternura.
(...)

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