sexta-feira, 2 de abril de 2010

Das feridas



No som "Insensatez"

e o cheiro da dor que exala dos poros mais surdos.



"eu me perdi. não sei onde coloco todo o amor que sinto. eu me perdi de amor. me perdi na dimensão profunda do seu verde-azul. esqueci de me preservar das dores. quis amar sem qualquer reserva. amei. amo. por isso me perdi. por não ter tido coragem de me esconder um pouco, de deixar uma das malas prontas e partir antes que fosse tarde demais.

eu me perdi e meus pés não sabem mais caminhar como antes, meus olhos insistem em olhar para trás.

minha palavra ainda derrama declarações de um amor que já não domino. sinto tão desesperadamente a alterar o ritimo do meu coração.

estou terrivelmente sufocada de dor e tristeza. de saudade, de lembranças; estou terrivelmente mutilada. espelhos se partem. estou procurando por mim. estou em estilhaços. os assombros são maiores que antes.os estragos também.

continuo perdida. o voo dessa vez alça estar longe, terrivelmente longe do porto. estou transbordando nada, o vazio dilacera. a mudez sobressai a palavra que parece não respirar mais, a cegueira;enfim.

o estágio anterior ao amor. a letargia. a falta de chão. de pão; da fome. estou definitivamente perdida. não alcanço tua chegada e vejo que de mim você já partiu. o último trem partiu, levou junto algumas roupas coloridas, alguns maços de cigarro, alguma palavra. muitos sorrisos, levou a esperança.

talvez na tentativa de me salvar eu realmente me machuque. acaba que no fundo você tem razão. acaba que no fundo só existe certo sufocamento, e da minha pele o cheiro mais evidente ainda é o de sangue pisado. De gotas de lágrimas anteriores. o ferimento ainda arde, talvez isso nos acopla a certa lembraça de um dia realmente ter existido, vivo; res-pi-ran-do! Não sei. A imprecisão faz de mim certo não saber das coisas todas, não ingenuidade. que é outra coisa. é estar limpa. e eu já me sujei demais.
talvez as asas na hora da queda não se abram, e o tombo não seja tão razante, estou ainda na superfície. a profundeza foi alterada pelo estado da falta. continuo perdida. desconheço os caminhos, respondo apenas por minhas escolhas. e pelo amor, que me escolheu assim tão despreparada e desumana. Não encontro mais palavra. o verbo foi se deitar. a ação do sujeito está impedida por um adverbio de tempo. ou de lugar. ou de modo. seja como for, a única tentativa era adjetivar a dor, mas ela me deixou sem qualquer argumento.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Atente-se para o Indizível: