quarta-feira, 21 de abril de 2010

Palavras que sou

Palavras me dão forma. Corpo. Decência. Me vestem com aquela nudez mais bonita. Mais erótica. Palavras são a minha noite escura, meu advento, meu refúgio. Palavras são minha forma mais verdadeira de ser. Elas definem meus estados, obrigam-me as confissões. Me dão de comer. Me dão aquilo de que necessito. Alimentam minha dor, destroem minha culpa.Palavras são partes do meu corpo, da minha alma colorida. Falam das nebulosas impressões da vida, expressam amores que carrego. Dão de comer meu delírio. A minha febre. Assim, mais uma vez, palavras sou. Corpo, alma, desejos e redenções. Atrelo a elas todas as chances de vida,de sobrevivência, pois a morte já é. Nada podemos senão aceitá-la. As palavras não, procuram espaços. Definem e contornam sentimentalidades. Assim, atrelar à vida a palavra é apenas um exercício de observação. De concordância. Nada de fantástico. Apenas, constatações.Palavras dão forma a minha nudez. Aquela nudez parada. Do estágio inicial. Humana. Palavras vestem meu silêncio, meu medo, colocam as vírgulas no lugar certo. Atentam-se para os pontos finais. Desdobram deslocamentos de parágrafos, para mais tarde recuperá-los vivos. Por isso sou palavra. Porque posso escrever contando minhas asperezas e doçuras. Porque posso assinar no final, sabendo ser poeta da minha própria existência.Palavras denominam, denunciam, dilatam. Inflamam, iludem... Renascem. Palavras são meu jeito mais simples de ser. Ser neste imenso rio-mar que transborda. Que me enche de delírio. Que me faz Livre!

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