quarta-feira, 21 de abril de 2010

Do morango e da vodka


Estou bêbada. Completamente bêbada. Esqueci até mesmo de tirar os sapados depois que cheguei em casa. Esqueci-me na cama. Deixei-me nas águas quentes daquele chuveiro morno no banheiro de ladrilhos coloridos. Me deixei apenas por um instante na esquina. Esqueci que já era alta madrugada quando tomei o último gole. Esqueci que não podia esquecer que aquela era minha derradeira chance de parecer real. De fato, de me tornar real, mas, deixei de lado a sobriedade, deixei de lado todos os recalques que ainda fazem de mim presa, atrelada a uma loucura que poucos compreendem. Hoje, nesta noite só de estrelas cadentes, estou bêbada de uma paixão que pulsa e repulsa dentro de mim, de uma paixão que não tem medidas, que não é precisa que apenas existe.E estando assim, cores, formas e cheiros me fazem maior que apenas a dimensão do meu corpo. Fazem-me grande, inevitavelmente ocupando espaços que não sei se posso pertencer, e estando assim, dilatada, diluída, estou em lugares desconhecidos, desconexos, que me enchem de medo, mas que também me excitam. Podendo invadir ainda mais espaços, agora falo de espaços reais, a sinuosa curvatura do seu pescoço, por exemplo, me faz deixar aquela lucidez ainda mais divertidamente louca, onde derramo minha súplica, onde imploro por um sussurro um pouco mais alto, onde bem de leve deslizo sobre a ossatura de seus ombros e ali me deixo, demoradamente sem escrúpulos.Hoje estou bêbada. Entorpecida pelo cheiro do morango que derrete no fundo da boca, desesperada por mais um pouco de sabor, alço vôo quase que definitivo para dentro de um estado de graça, que celebramos toda vez que em mim tocas.Hoje estou como quem sempre está, desperta para as coisas que só em mim vivem reais, como se levantasse de um pesadelo no meio da noite, como quem acabou de perder o último trem. Estado definitivo, primeiro e único, impreciso e provável, previsível.Hoje estou embevecida de um porre de realidades paralelas, e veja, daqui onde estou posso apenas tocar todas as palavras que escrevo, senti-las seria pedir um pouco demais.

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