quarta-feira, 21 de abril de 2010

Mudez

Roubas minha fala cantada. Minha palavra encantada. O meu silêncio de qualquer paz exacerbada. Roubas meus olhos causando cegueira eterna... Entre retinas e visões, amores, ardores, paixões.Roubas gemidos que minha língua estala. Queres mordida. Fala desmedida que roubas som, sem escrúpulo. Roubaste. Sem que eu tivesse controle. Meu corpo exercício da tua reflexão, já responde estímulos, palavras que me tiraste quando cega entraste por aquela porta.Roubas meu estado de graça. Ensina-me o vôo da tua liberdade azul. Logo eu, tão atrelada às vírgulas, explicações, hoje, hoje estou muda. Imersa no silencio dos fatos consumados. Roubas assim meu desejo, minha lucidez, minha pele, minha escuridão. E até minha morte você rouba.Roubas verso por verso, meu reverso. Atrela a minha queda ao teu estado cego... Roubas então minha vontade e eu me entrego. Deixo-me ser roubada para recuperar no teu ventre tão veraneio, todas as sílabas do meu desejo. Me deleito. Delicio-me. Gosto do estado mudo. O sentir por dentro. Remoendo, repuxando. Improvável ação para quem é da fala, do grito. Do gemido. Para quem é do assombro a fala manda e desmanda. Te atropelo. Tu me assaltas.Roubas então também meu silêncio. Aquilo que eu pensava ser apenas meu. Rouba o segredo, a fórmula mágica. Mete-se em mim em recantos que só eu sei o caminho da volta. Você, atrevida, vai... Trilha estradas que são regidas por minha fala sensorial. Muitas vozes, agora emudecidas. Porque tu roubaste não só o som, mas a palavra em sua forma mais bruta. Mais cruel. Dentro da flor do meu querer.Atentas então para o que te imploro gozando de uma loucura, de um tesão, de um roçar das peles. Atentas para o arranhão que talvez seja cicatriz da noite anterior. Atentas para o ruído sensorial do corpo que você implica forma. Pois não há mais ruído, apenas existência.Em sua severidade absurda, roubaste não só o dom da fala. Mas também as falas das noites tropicais. Essas secretas, solfejadas, e desejadas falas que tu tomaste apenas para ti. Mais nada. Despertou em mim depois daqueles todos os gemidos, certo silêncio e fúria.Então na tua cegueira mora demasiadamente a minha mudez. Parada. Estática a um estado de espírito. O mesmo. Igual em desejo e medo. Igual em entrega e labirintos.Atentamos então para os recados da pele, suas memórias, sinais que emitem fogo. Atentamos então para o ruído que nos impulsiona. Que nos torna livres e cada vez mais presas. Ele é multicolorido, e a-z-u-l.

3 comentários:

  1. Terminei de ler com uma sensação estranha...


    quanta i-n-t-e-n-s-i-d-a-d-e!


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    Que interessante Cinema&Letras. Morro de vontade ir para essa área. Fazer uma junção :)

    A Paixão G.H. eu li há tempos, e confesso que não entendi nada. Rs.
    Não sei se por causa da pressa que tinha que ser entregue, ou porque não "raciocinei" mesmo.
    Água Viva eu li há tempos. Achei de uma surrealidade que só... é fantástico cada linha dele.

    Esse "instante IT" que Clarice tanto fala.
    Ainda não li todas as suas obras.

    Mas, este ano, ganhei um presente um presente maravilhoso de aniversário, que foi o livro de Benjamim Moser - Clarice,

    Você deve conhecer. Estudiosa dela como é :)
    Eu espero ter tempo de ler todas as suas obras e aprofundar meus conhecimentos Clariceanos.

    Há muitas coisas por trás daquilo que pensamos só ser um "enigma clarice"


    Acabei viajando aqui, rs.
    Um bom dia =) Depois volto para terminar de ler seus textos.

    Até,

    Jenifer

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  2. Nosssa... que honra!

    obrigada.


    ahhh, você pediu o e-mail, eu tinha esquecido.
    E já ia esquecendo novamente...


    Jenifercarmo18@yahoo.com.br

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  3. Menina,
    eu tinha alguma coisa para lhe dizer... e me esqueci =O

    rs.


    Ando com a mente em outro mundo.


    Ahhh, chame Caio de bacaninha não, rs. Assim você fere a amiga aqui. Gosto por demais dele :)


    Depois passa lá no Reino e lê a carta que ele escreveu para Hilda, contando do seu encontro Lispectoriano.


    Boa tarde,
    depois venho calmamente para ler seus posts.

    Pelo visto, o dia hoje, lhe foi de muita inspiração :)

    Até.

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