quinta-feira, 8 de abril de 2010

Das meninas


No som "Luíza"
e um incenso de Rosa.


Elas sabiam o valor daquele instante. Seria um em tão pouco tempo que teriam juntas. Elas conheciam portanto o valor do segundo. Suspiravam afoitas tantas saudades e lembranças a encher a boca de um gosto doce e firme. Encorpado. Teriam poucas horas para decifrar a palavra que jamais seria dita. O olhar que por vezes se perdia no infinito que nascia na janela. As mãos silentes e perigosas queriam ousar por caminhos que desconheciam.

Elas sabiam por quanto tempo estariam alí. Sentadas num abraço. Envolvidas por almas completamente perdidas. Queriam encontrar qualquer desculpa para que aquele momento jamais terminasse. Se queriam. Isso deveria ser o sufiente para que dali a pouco não acontecesse o abandono. Mas não era. Necessidade não era motivo. Tentavam se refazer da perda. Embreagavam-se de medo e amor. Porque já havia passado a paixão. Tentavam um amor manso. Mas selvagens jamais se renderiam.

Elas. Duas. Como se em uma vivessem desesperadas. Queriam como criança a subserviência de um beijo demorado. Do prazer prolongado. A súplica era tão imunda como a vontade. Elas sabiam. Perdiam-se numa mistura que não se descreve a olhos tão despreocupados como os nossos. Nunca poderíamos advinhar. Entender. Sempre seriam incompreendidas. Porque dentro delas faltava essa mansidão para que se entendessem também. Era tarde para que tentassem. Rendiam-se. E isso bastava para que se perdessem de novo. Para que seus corpos, dilatados e quentes, servissem de cama, de escora uma para outra. Para que suas razões fossem esquecidas e somente o sentimento prevalecesse. Somente o desejo que as movia.

Elas eram desconhecidas. Despudoradas. Atracavam-se numa guerra que mais parecia interna. De egos. De fomes. De línguas. Viviam assim, sem saber por quanto tempo. Mas viviam. De certo modo, peculiar a olhos alheios e curiosos. Não temiam senão a elas mesmas.

(Elas. Elas que num fim de manhã adoçaram a minha observação saliente. Elas, que de tanto amor e medo, sujaram minhas páginas de sangue. Elas, que destemidas e infinitamente desconhecidas, causaram surdo impacto no meu silêncio tão surdo e na minha fala tão cortante.)

Meninas, vejo ainda muito caminho....Sejam felizes!

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