quarta-feira, 21 de abril de 2010

Do corpo


As horas passam. Meu corpo apodrece. Horas de caos me consomem. Os olhos tentam recuperar o brilho. Mas meu corpo continua apodrecendo. As horas silenciam o medo. Meu grito sai como pedido de desculpas. Não sei se existe algo a se desculpar. Mas mesmo assim, peço.Meu corpo apodrece. E eu não tenho tempo. É como se escapasse de mim qualquer chance de sobrevivência. Ainda sim, respiro. Luto. Guerras são como dançar à dois. Perco-me nos passos cadenciados. Doce baile da morte.As horas passam. Meu corpo encontra equilíbrio onde em espasmos soltas delírio. Perco-me na tua intensidade. Tu me completas de nada. Eu te alucino. Trocamos gozo e não sabemos exatamente porque gozamos. Estás perdido em mim. Eu encontro severas punições para seu prazer.Meu corpo apodrece. As horas calam tua ausência. Suspiros convertem nosso desejo. Ainda que desejar seja um exercício perigoso demais para nós.Meu corpo acaba a decompor seus motivos, seu abandono é compreensível. As horas continuam passando para mim. O teu silêncio é um breve descansar para mim. Preciso dos teus espaços. Preciso do seu contágio. Mas você não sabe se quer se contaminar. Enquanto isso navego nas horas do meu vazio. Do meu precipício. Espero pelo dia que meu corpo pare. Espero que as suas marcas em mim sejam apagadas a qualquer custo. Espero que nosso encontro seja breve, mas não tenho medo da espera.As horas passam. Meu corpo, apaixonado, apodrece. E tu não sabes onde quer chegar com tudo isso. As horas continuam passando... E você não compreende que é preciso escolher. Que é preciso se decidir. Que é urgente que tenha coragem.Meu corpo apodrece. Preciso calar tuas palavras em mim. Preciso cometer um crime. Preciso me livrar dessa passionalidade que vivemos. Preciso esquecer que somos dois, para só depois deixar meu corpo deveras perder no seu. Mas não sei se consigo desassociar você de mim. Não sei se consigo desprender do significado que é ser nós dois. Preciso. Mas não sei se quero. Não sei se posso. Não sei se me é decente. Sei que as horas passam. Sei do trepidar das coisas em mim. Sei do que preciso para sustentar meu nada. Meu vazio.As horas passam. E meu corpo, apaixonado, apodrece.Nós não sabemos de mais nada. Eu e você. Se é que podemos nos dividir em dois. Não sei se cabem dois de nós no mundo. Somos loucos. Incrivelmente loucos. Por isso precisamos comungar de um. Beber o mesmo néctar. O mesmo veneno. Engolir as mesmas palavras. Mastigar o mesmo amor. O mesmo ódio.As horas passam. E meu corpo apodrece. Completamente atrelado a paixão que tu me causa. Apodrece também por isso. Por aquilo. Por tudo.

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