quarta-feira, 24 de março de 2010

Olho você em tudo***

No som Eu te amo
e um incenso de Laranja


"Olho você em todas as coisas. Suas mãos silenciosas e ávidas ocupam os espaços semi-cerrados do meu corpo vento. Olho você de longe e percebo seu dilatar a cada passo largo do meu caminho. Absorvo-te como o orvalho numa pétala, roseando. Acabo sendo sua nesta trépida manhã. Acabo sendo sua sem ter tempo de determinar as horas.
Olho você em todos os rumos. Mesmo sendo a estrada longa e os passos um pouco mais curtos. Ando em ti como em mim você doidamente circula. Estamos atrelados aos passos e aos caminhos. Verbo do sujeito do indicativo. Sou presente e passado, você o futuro do presente. Estamos verborragicamente ligados a ação. dou-te palavras e febres.
Olho você neste longo afago. No abraço que sinto, que recordo. Relembrar requer certas doses de melancolias. Encaixo a cabeça no teu ombro e serena e morna aqueço-me em teu suposto préstimo.
Olho você em todas as coisas, demoro-me em observar tua palavra mansa se derramar em minha cama, em minhas roupas. demoro-me em teu riso, em tua respiração ofegante na minha nuca. Entraves do nosso corpo galgando outros espaços ainda não percorridos.
Olho você nos dias e nas noites. Nascendo e criando raizes tão profundas e submersas como nosso amor evidente, exagerado. Como nosso encontro acidentado. Encontro-te nas tardes, tão sublimes como sua procura. Como suas respostas. como sua presença.
Olho você em mim. Dedos, língua, peito, mãos, palavras, gestos, sorrisos.
Olho você em mim e me absurdo!

terça-feira, 23 de março de 2010

Amor***

No coração "Saudade"
e um incenso de Jasmim (para lembrar!)

"...
fechei os olhos para tentar dormir. tentar lembrar de você afagando meus cabelos ainda molhados de chuva. tentei pensar palavras que me levassem até você como num vôo mágico, desesperado.
(mas veio ainda mais tormenta.)
fechei os olhos para lembrar das suas mãos desenhar no me corpo desejo. lembrei de quanto longe está e chorei. lembrei de como seus olhos fazem amor comigo, coração palpitante, disparado.
...
andei pela casa madrugada a dentro refazendo seus discursos, lampêjos de versos forçaram minha língua. andei em torno de ti para que de mim ainda encontrasse pedaços. estou inteira em ti. ainda que amar-te requer ser metades sempre inteiras.
andei pela cidade a procurar-te em lugares imprecisos, em meu coração já estás ainda que esqueça as vezes o quanto me ocupas.
...
quis correr para os teus braços na ânsia de calar minha dor, que ainda pulsa. quis escrever-te cartas para palavriar o meu amor e o meu silêncio. quis ensinar-te o caminho e foi você quem me deu a direção certa.
quis beijar-te a face para agradecer, para acarinhar sua alma. quis amar-te ainda mais para ver o amor extrapolar. vazar por entre os dedos. pelos olhos. e veja, estou aqui, bêbada de amor correndo todos os riscos.
...
fechei os olhos para ver se sentindo o seu cheiro, dormia. mas aqui estou, horas a fio engolindo o tic tac do relógio e fazendo-te P-o-e-s-i-a!

Do que ainda gosto***

No som a batida de um coração
e um incenso de Amora (para de-li-ci-ar!)

Continuo olhando para as ESTRELAS. Elas me indicam o caminho.
Continuo na mesma cidade, apesar de correr o MUNDO com um certo coração selvagem.
Continuo achando o laranja que se desmancha nos fins da TARDE um presente de Deus para nossos olhos.
Continuo caminhando pelas PEDRAS. Elas são lápidadas com o TEMPO.
Continuo ouvindo bossa nova, MELODIA que dispara a emoção.
Ainda vou aos mesmos lugares de antes. Apesar de eles NUNCA serem os mesmos.

Ainda falo PALAVRÕES. Algumas palavras deveriam ser consideradas mais ofensas que esses clássicos.
Ainda gosto de bolo de CHOCOLATE e chicletes. São estas coisas que fazem da gente mesmo grande, bem perto da infância perfumada.
Ainda gosto de esmaltes vermelhos e saias. Isso me faz um pouco mais MULHER.

Continuo a não gostar do INVERNO. O cinza da estação deixa meus olhos intranquilos.
Continuo a não gostar de NÚMEROS. Eles tornam a VIDA prática demais, e eu sou dos DELÍRIOS.
Continuo a não querer ficar parada espiando pela janela. Expectador não faz parte daquilo que sou.

Ainda gosto de DANÇAR na chuva. Beijar bem devagarinho. Olhar dentro dos olhos e me perder a medida que me encontro.
Ainda gosto de voar para o lado de dentro e viajar desertos de FLORES liláses. Andar pelo vento que balança meus cabelos roçando sobre meu rosto qualquer saudades suas.
Ainda gosto de DIVIDIR alegrias. Somá-las aos amigos que ainda conto na mão esquerda.

Continuo cultivando MELANCOLIA. Continuo chorando quando vejo cenas de filme.
Continuo bordando LEMBRANÇAS em panos cheios de rosas. Espinhos são esquecidos pela beleza dos detalhes.
Continuo vencendo os MEDOS de escuro, de aranha, de pessoas. Continuo querendo a superar todas as DORES por maior que sejam.

Continuo querendo te amar como no primeiro instante,
continuo querendo te amar como nunca antes...
porque é por causa do seu amor que continuo querendo sempre!

sexta-feira, 19 de março de 2010

Branco***!


Das recomendações**


No som Jade
e um incenso de Uva (para sentir!)

*Molhe as flores.
(descobra nelas a paz que suspira meus olhos, e o segredo do
nascimento.)


*Ande descalço.
(assim descobrirá o quanto o chão te recebe, o quanto dele somos
filhos.)


*Tome sorvete.
(aos sabores associe a graça de ter amigos.)

*Nas sextas, faça um chá de flores.
(tome vendo o fim da tarde fugir pela janela, assim descobrirá não só o
segredo da noite, mas a grande façanha de amar até mais tarde.)


*Aos domingos, caminhe por uma estrada longa.
(pensamentos serão companhias agradáveis e lembranças serão certezas de
um futuro que virá a salvo.)


*Escute uma música.
(a melodia leva, revela, ensina harmonia ao coração, ou faz dor, que
também existe e precisa ser vivida, para transformação.)


*Ame com um amor maior.
(entregar a alma a uma verdade essencial fará de nós maiores, latentes,
vivos.)


*Fume mais, fume menos.
(e misture a esse enorme prazer uma conversa apaixonada, fará assim
nascer uma certa cumplicidade surda.)


*Esqueça de tudo.
(para que quando quiser lembrar, essas caixinhas estejam lá prontas a
serem abertas para mostrar-lhe quanta coisa mudou e como você tornou-se
outro!)

quinta-feira, 18 de março de 2010

Da fome*


No som o silêncio da pausa

e um incenso de Sândalo


"eu não sei como temperar a vida. Estou sempre errando a mão. Hora para mais, hora para menos.Nunca sei o exato tempo do cozimento. e as vezes carrego demais no sal.

eu não sei decifrar as receitas. as fórmulas parecem escritas em língua tão estranha a não caber deciframento, então advinho. Acabo criando uma poção mágica. Acabo inventando um sabor. desassocegado.

eu queria combinar as ervas, fazer um bolo de flores, tomar um chá violeta, fazer biscoitos de chuva, mas minhas mãos perpetuam outros lugares, são de outras funções. Desconheço a habilidade de transformar. Sei apenas tecer. O que também não é ruim. - Nunca sentirei frio.

eu não sei se me preparo um café, se adoçarei com as mágoas ou com os sorrisos, se tomarei gelado, depois de deixá-lo horas esperando o gole, ou se borbulhante engulirei sem escrúpulos, para ver se me acalma, ou queima.

queria saber misturar os sabores, deixá-los mais vivos, mais parecidos comigo, um certo amargo doce, que vai dissolvendo na língua/lâmina. Mas sou de outras competências. Aprendi rasgar palavras, combiná-las, deformá-las, desfolhar sentimentos embrulhados num papel manteiga. Esqueço-me que isso faz doer. Mas é isso que aprendi. -Nunca estarei muda.

a fome, a vontade nunca me foi tão especialmente farta, mesmo assim, não posso, não sei inventar comida. só fome. talvez por medo de me saciar. e calar não só palavra, mas ouvidos e dentes.

estou perdida. talvez eu coloque tudo em algum caldeirão e salpique pimenta, sendo isto, tudo!"

terça-feira, 16 de março de 2010

Do inventar


No som "Muito romântico"
e um incenso de rosas (para delirar)
Inventei de viver. - Vivi o que inventei!
Tantas vezes pressenti desejos, aos poucos, queimaram todos em mim. Tantas vezes pintei alegrias, muitas vezes, sorrisos inventados foram meus ainda que de tantos outros.
Tantas vezes inventei de me perder, me perdi e encontrei muitas outras, que não inventei, que simplesmente existem. De-li-ran-te-mente!
Inventei de inventar palavras. -Arrisquei-me em pré-sentimentos,
anti-verbos, algumas ações.
Aos poucos me refiz em adjetivos pontiagudos e obtusos.
Alguma vez deixei-me doce, para que a fome do amor, saciasse meu espírito.
Também inventei de amar. E amei. Amei com um amor que criei sem metades.
Sempre fui inteira. Ainda que metades façam de mim inteira-metade de uma das faces do que realmente re-pre-sen-to!
Inventei quereres. Quis tanto que nem sabia o que era.
Hoje sei segundo outra invensão.Inversão de valores, troca de ideais.
Mas ainda quero. Preciso.
Aos poucos fui querendo mais e sempre mais.
Bebo na fonte dessa criação e me banho de malícias.
Aos poucos perdi alguns desses quereres. Lampejos de minutos atrás. Mas que ainda pulsam, doi-da-men-te!
Inventei que ia me inventar outra.
Lírica. Eu ao avesso. Evidente.
Brotou face a face com o que fui antes e o que ainda sou agora, por uma questão de irracionalidade.
Inventei a paixão em mim e com ela o nascimento;
-Se estou viva?
...talvez um dia ainda invente isso!
Vida!

Menina*


Ao som de "Imagine" e um incenso de Laranja**

Ela tinha o sorriso triste, que pedia alguma coisa surda. Ela tinha os cabelos compridos e os sonhos maiores ainda. Ela, sonho. Ela se pintava com ideais que não existem mais, e era rotulada de louca. Era louca, pela vida.

Ela estava sempre em multidões. Solitária. Galgava qualquer lugar no paraíso. Na terra. Nos braços que lhe desse a paz que pregava, mas não tinha. Ela tinha o amor. Ela tinha o amor cheio de verdade. Ela caminhava por ruas tão largas quanto suas dores. Sobre a chuva dançava. Pela madrugada cantava, evocava, orava. Ofertava sua alma a um sorriso trepidante.

Ela pintava as unhas de verde, vestia-se em panos esvoaçantes, uma calça jeans surrada e uma sandália que mostrava flores no solado. Era pequena, mas tão grande a não caber nos braços, no colo. Ela enfeitava-se para encontrar-se com o vento. Ela, filha da primavera.

Ela olhava dentro dos olhos. Perdiam-se todos que dentro dela se encontravam. E ela, menina-tão-doce, sempre vinha caminhando pela rua roubando as almas, como quem acende mais um cigarro e apaga o outro.

Ah, menina!

Hoje ela é só sonho...quisera eu sonhar (de novo) sonho tão doce!*

segunda-feira, 15 de março de 2010

Dos objetos pontiagudos*

As vezes, o amor!

Das delicadezas


Ao som de "Poema"
e um incenso de Lua (para clarear!)


Debaixo do céu, um abraço. Daqueles apertados. De urso. Isso seu ficou em mim, tão evidente como sua mala deixada na porta quando chego naquela tarde de chuva.

Debaixo do céu, num escuro de presente e passado impreciso, um beijo que formou-se no céu de uma boca sedenta, apaixonada, perigosa.

(As estrelas vigiavam mansamente um amor que começava. Sabíamos que seria um estado definitivo. Amaríamos para sempre, com todas as nossas delicadezas.)

Debaixo do céu, infinito como a cor dos seus olhos, ficava te olhando perdida. Procurava na rua, nas flores do canteiro da praça, o seu perfume tão adocicado como forte. Procurava nitidez de qualquer razão para esquecer a sua falta. Desculpas delicadas como a saudade.

Debaixo do céu, de um mar de estrelas cadentes, procurei sua palavra cantada, tão doce como a despedida de minutos atrás, procurei suas mãos desnorteadas pelo corpo que já tem seu nome, procurei inventar qualquer mentira para esquecer o anseio de rever-te tão breve como nossa última transa.

(Dancei, pisei em poças dáguas de chuva, como se o coração estivesse também enxarcado, dancei para esquecer que a solidão me faria companhia por algum tempo não determinado mais infinito para mim. Dancei porque dançar me devolveria a liberdade, me devolveria a sensação de que você ainda está aqui, que seus olhos cintilantes ainda me observam em clareza e desejo. Dancei, com tal leveza a suspirar os pulmões aliviados. )

Debaixo do céu, amor, um chá de flores tão frescas como seu sorriso. O cheiro da flor de laranjeira a abençoar a noite de uma saudade que pulsa, que rola, que vai acomodando no peito outra lembrança. Que vai engasgando a lágrima, que vai ensurdecendo os versos mais simples.

Debaixo do céu,meu amor, pequenos segredos revelados, das delicadas e ingênuas declarações, a um pedido de socorro tão mudo quanto o beijo de um adeus nunca esperado. Debaixo desse céu, de estrelas tão evidentes, um deserto de flores liláses, que de qualquer forma você me leva...deixa as correntes mais frouxas, estou a entregar-te um coração tão grande quanto ferido.

(...nessas delicadas nuances de cores róseas, beijos de antigos namorados, imploro,

- Mata-me com a delicadeza do seu amor tão demente quanto minha alma!

De tudo que disse, que guarde apenas a certeza de um amor delicado! eu te amo.


Do amor que sinto

Ao som de "Corsário"
e um incenso de Jasmim.

Chegou despreocupado em dia de festa.

Tomava qualquer coisa e mascava um chicletes para ver se não fumava tanto!

Foram cinco horas de uma conversa de anos. Alguma tentativa de falar ao telefone, em vão.

Depois da meia noite, outro encontro, outra conversa;

as almas já saltavam pelas pupilas que já dilatadas, denunciavam o acidente.

Chegou trazendo o azul, o verde-azul da esperança;

Impregnou em mim como colado à parede um quadro.

Fez fugir os medos e transformou o luto num colorido de encher os olhos.

Trouxe o amor em festa dionisíaca.

Veio espalhando manhãs ensolaradas em mim.

Veio trazendo a paz, embora tantas guerras.

Depois de tantas fugas, um encontro de entrega fatal, já tínhamos qualquer coisa de um, em dois.

Já estávamos atrelados.

Nossos corpos respondiam desejo que já sabíamos onde era nascente.

Houve muita negação, lágrima, muitas fugas que em pouco tempo, era capturada, e cada vez mais para dentro de ti entrava.

Conversas, longas conversas e carícias noturnas,

cinzeiros coloridos de cigarros ainda acesos pela metade;

cafés açúcarados e beijos ensaiados,

mãos sedentas, risos e malícias, mediam a nossa medida.

Palavras amançavam minha dor e a língua levava a um estado de prazer que só começava no corpo.

De tudo,

das lembranças e do agora,

do hoje e do ontem,

este é o amor que sinto:

aquarelas mil,

azúis e violetas,

vermelhos escarlates,

bocas, mãos, abraços, entregas,

suspiros, saudade, vontade.

Desse amor, tão colorido e enfeitado,

ah, toda a vida...

Amor!**

"Eu te amo sem saber, quando, nem onde, nem porquê!"
Obrigado por tudo sempre!**

Data e Dedicatória**


Teus poemas, não os dates nunca..
Um poema não pertence ao Tempo...
Em seu país estranho,see existe hora, é sempre a hora extrema
Quando o Anjo Azrael nos estende ao sedento lábio o cálice inextinguível...
Um poema é de sempre,
Poeta:O que fazes tu hoje é o mesmo poema que fizeste em menino,
É o mesmo que depois que tu te fores, alguém lerá baixinho e comovidamente,
A vivê-lo de novo...
A esse alguém,
Que talvez não tenha ainda nascido,
Dedica, pois, teus poemas.
Não os dates porém:
As almas não entendem disso...
Mário Quintana

domingo, 14 de março de 2010


"Precisamos de livros que nos afetam como um desastre,
que nos magoam profundamente,
como a morte de alguém quem amávamos mais do que a nós mesmos,
como ser banido para um floresta longe de todos, como um suicídio.
Um livro tem que ser como um machado
para quebrar o mar de gelo que há dentro de nós."
.
[Kafka]

sábado, 13 de março de 2010

Branco**


Erótica II (para o meu amor*)

Sem qualquer pudor, declaro meu desejo da tarde;
ainda deitada no tapete, aquele que ainda cintila um azul opaco e perigoso,
brinco com os laços dados pela manhã na calcinha vermelha.
Sem qualquer temor, declaro mascando um chiclete rosa,
ainda correndo os olhos sobre uma página muito amarela de um livro antigo,
que quero sim experimentar aquele beijo que ontem a tarde você ensaiou e eu não deixei.
Sem qualquer culpa, desabotou o sutiã,
deixando que suas alças deslizem sobre o braço e meu seio rosado, ainda de menina,
salte, deixando-o livre.
Sem qualquer medo ou dúvida, declaro-me pronta para ser consumida,
bebida, entornada neste mesmo chão
que ontem parecia não fulgurar nos devaneios noturnos como agora.
Sem qualquer renúncia me entrego a teus dedos ferozes e sua língua faminta,
para que suas febres noturnas queimem minha tarde tão perfumada e colorida.
Ainda que de desejo eu me desfaça em cabelos e peles tão nuas como sua prudência em me ver nua.
Sem vergonha obedeço o pedido que ouço,
de dentro do rangido dos teus dentes,
e toco-me como aquela menina que vimos pela janela,
tão aberta e tão demente que nos fez gozar sem saber porque gozávamos.
Sem testemunha, entrego-me ao calor que absurdamente sobe , afastando ainda mais as pernas,
desenhando-as em arcos enormes no ar,
contorcendo-me, arriscando-me,
de-li-ran-do!
Declaro-me imunda de desejos tardios,
que antes negados pela mesma boca que agora saliva,
declaro-me profana de intenções tão desumanas
que antes negados pela mesma mão que acaricia, que esfrega,
que busca!
Sem pudores, nesta tarde de um azul tão azul quanto seus olhos de mar,
dispo-me para que mais tarde me vista com tuas loucuras mais secretas
e desejos mais sacanas,
para que depois de saber que te desejo tanto,
cubra-me com palavras desmedidas,
cumpra sua sina mais maldita e
derrame em mim um gozo tão intenso,
a deixar-me ainda mais des-pu-do-ra-da!
sem pudores me declaro:
Excitada!***

Não**

Não é exagero ou mentira quando fecho os olhos e te vejo.
Não é absurdo quando na minha palavra te aprisiono e faço-te meu.
Não é mentira quando ao telefone choro porque não sei o que faço com a solidão que sinto quando longe dos teus braços.
Não.
Nada é tão aceitável quanto sua mão estendida,
sua palavra bendita,
seus olhos de chuva.
Nada é tão crucial quanto sua mordida na nuca,
seu pedido de desculpas,
seu bom dia atrasado no meio da tarde.
Não.
Não é extremo quando me perco nas extremidades do seu corpo
e me encontro dois dias depois, dolorida e feliz...resmungando como tudo foi bom!
Não é assustador, pavoroso quando bem tarde encontro-te ao avesso dentro de mim
vasculhando meus desertos para ver se me encontra ainda inteira ou em partes,
porque assim escolhemos nos amar.
No meio de perdas e encontros, ainda que lágrimas façam parte dessa terrível doçura.
Não.
Não me fale em absurdos, somos tão geniosos, tão passionais. tão apaixonados,
que não nos cabe avaliar se temos atos de loucura....
Vivemos numa explosão, estamos sempre em prolongamentos, extenções...
estamos sempre à margem do mundo...
Não...
Não se importe quando digo meus absurdos,
quando vejo-te no reverso do meu avesso,
quando dou-te um beijo-mordida e te peço com jeitinho que me aperte só mais um pouquinho...
O resto,
aquilo que não podemos apalpar. sentir entre os dedos com tanto tesão ou ternura...
deixa...
escorre em confluências para dentro de nós e vai nascendo bem devagar como todo amor deve acontecer!

"O mundo não quer que eu me distraia;
distraído, estou salvo."
Paulo Leminski

"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música." __Nietzsche

Venha!


Venha à mim de corpo inteiro.

Venha desordenando minha falta de jeito

e dando ordens mansas ao meu ouvido.

Venha assim sem meios termos,

chegue antes que eu feche a porta e desligue o som.

Aparta-me com um beijo não tão delicado

e me faça um carinho nos ombros.


Venha à mim de corpo aberto.

Disposto ao acidente,

rendendo-se a tentação.

Venha com versos na língua,

um punhal na mão.

Venha selvagem e louco,

e abandona-me antes que eu abra a porta.


Venha cheio de dedos,

com cuidado de quem ama sem medidas.

Venha desenhando melodias,

entregando-se a perdição.

Venha com coragem e mãos afoitas,

dedos e línguas

e antes que o sol penetre o primeiro raio pela janela da sala,

vá embora deixando um bilhete de saudade e medo.


Venha à mim de corpo intiro.

Porque dei a ti

corpo, sangue, palavra e alma.

Porque sou tua sem qualquer reserva,

mesmo que à isso eu pague ainda mais caro que antes.


Seja meu.

Mas antes de tudo,

IN-TEI-RO!
"A ETERNA CONSTRUÇÃO DO OLHAR!"

quinta-feira, 11 de março de 2010

Em cores**

Sou feita em cores.
Sou feita de segredos e verdades inventadas.
Sou feita em cores quentes e vibrantes.
Cores de cores, prelúdios da cor.
Selvagem.
Sou feita de pedaço de sonhos
falas e subterfúgios,
silêncios e gritos.
Num vermelho ferrugem a corroer os ossos e as mãos.
As peles e as línguas.
Sou feita de uma beleza que pousou de longe,
de uma desarmonia sincromática que devolve ao feio o estado de primitivo.
Em cinzas.
Sou feita em cores florescentes.
No amor sou toda em cores, de azuis bandeira, até aquele alaranjado que enfeita as telas de Àlmodovar.
Sou esse emaranhado de cores e visões.
Estou sempre embaraçada nas fotografias e nos reflexos das cores.
Sou feita de um arco-íris tão infinito quanto o sonho que carrego no peito.
Sou feita do pó dos sonhos...um pó que parece ter a cor de carmim.
Como da minha boca.
Sou feita em cores mesmo quando estou em resolução preto-branco.
Ser dualidade é também ser negativo.
Ser negativo é ser também preto-branco.
Ter polaridades extremas é aceitar a grandeza que somos ainda que pequenos diante do mundo.
Portanto estou em resoluções infinitas.
Transformo-me segundo a paixão.
Transfiguro-me segundo a vontade.
Poluo espaços com meus espasmos multicoloridos.
Sou feita de sangue e tinta.
Numa aquarela tridimencional.
Multilateral e essa classificação me lembra o verde.
O verde azul dos teus olhos que também sou.
porque sou ocupando espaços.
porque sou ditalata.
porque sempre vejo com lentes de aumento.
porque nunca sou só superfície.
Sou feita em cores.
Cores e alguns sabores.
Sabores que embora doces,
carregam sempre aquele final de amargo como chocolate.
Então:
cores, sangue, tinta, gume, sabores, chocolate.
Numa exatidão tão precisa quanto o arrastar do tempo nas folhas coloridas.

Declaração***


Branco...
Quando seus olhos deitaram sobre mim certa ternura, perdi-me, meu amor!
Esqueci das minhas falas, sumiram minhas palavras, morri, meu amor!
Quando seus beijos ocuparam minha boca muda,
e suas mãos afagaram meus cabelos, entreguei-me, meu amor!
Esquivei-me de ti ainda que por um segundo e no fim, recostei minha cabeça no seu colo e dormi, meu amor!
Quando de leve mordeu a ponta da minha orelha e devagar passou as mãos sobre minhas costas, derreti, meu amor!
Porque meu corpo já era teu e eu não queria.
Lutei batalha tão grande, mas desisti, meu amor, já era sua!
Quando cuidou de mim pela madrugada toda
e me fez carinho ao despertar ainda no teu colo, amei
amei com um amor que não conhecia, que não entendia,
mas que me envolveu to-di-nha!!!!

Erótica**I**


Ela tirou os sapatos. Ajeitou os cabelos para que não caíssem sobre um rosto teatral. Deixou a janela aberta para que o sol do fim da tarde queimasse um pouco a pele que branca sintilava m vermelho quase florescente.
Tinha rubores pela face. Sua língua desejava no céu da boca um beijo que ainda não havia dado. Mas que em breve estaria rendida.
As flores eram apenas para confundir o perfume que exalava dela. As mãos atordoadas procuravam desabotoar o vestido e as pernas saltavam para uma posição absolutamente confortável para ela.
A música era o silêncio, naquele fim de tarde os suspiros precisavam ser maiores que qualquer melodia. E seu primeiro gemido colou-se na parede da sala e espalhou pela casa num vento tão afoito como suas mãos a surrarem sobre sua pele.
O chão era o melhor acolhimento para o corpo. O chão frio e o corpo quente emprestavam a ela outra sensação de prazer ainda maior que suas mãos; seus dedos apressados queriam roubar o gemido mais secreto, satisfazer o desejo mais proibido.
Ela tirou os sapatos e pés um esfregando no outro, fez com que o delírio da cosciência do corpo fosse ainda maior. Mordia os lábios que já molhados procuravam uma palavra que proferida no ar, lhe envolveria numa onda de prazer ainda mais violento. Os dedos encharcados de gozo levavam para além-corpo.
Ela tirou os sapatos. E perdeu a cabeça.
As febres daquele isntante adiante eram inevitávies. As palavras eram engolidas por gritos. Os olhos fechados emprestavam uma visão embaçada. As mãos perdiam a força e o corpo todo além de refletir o sol tão quente do fim da tarde agora, só tremia.

Das coisas que gosto I**

Eu gosto das balas de caramelo e do batom mais vermelho que o sangue mais vivo.
Eu gosto de andar descalso e dançar na chuva. Porque sou feita da poeira destes instantes.
Gosto de sentir o salto antes da queda e ficar suspensa nessa inexatidão que me faz tecida de muitas vidas.
Gosto de voar, ainda que a asa esteja quebrada. E o vôo esteja parcialmente comprometido. - estou livre com o pensamento e isso me fascina!
Gosto de brigadeiro e sorvete de abacaxi. Prefiro coca cola a guaraná. Estas certas preferências fazem de mim tão normal que até sorrio.
Eu não gosto de chuva, mas dançar sobre ela é alguma coisa de cinematográfico que ficou em mim.
Eu não gosto de beijos roubados, mas as possessões afoitas e desesperadas me fazem virar o juízo desesperadamente.
Eu não gosto de frio, mas cobertores são ótimas companhias para esses dias e namorados também...ainda que a solidão da cama devolva certa liberdade para o corpo.
Gosto de pular amarelinha e cantar cantigas de roda, balançar as saias de fita e pendurar uma flor nos cabelos me faz romântica ainda que contra a minha vontade. Mas são coisas que gosto.
Gosto de gostar do arco-íris, das lagoas e dos rios, embora não goste nem um pouco de mato, a relva serve apenas para ser testemunha do sexo.
Gosto de cabelos curtos e saias abaixo do joelho, revelam uma sensualidade que se esconde. Este jeito de seduzir é delirante.
Gosto de línguas e dedos. O prazer pode estar sempre vinculado a fala. Sexo verbal é o que de fato me fascina. Embora as continuações do ato me levem a um gozo profundo.
Gosto de ser mulher por causa dos esmaltes vermelhos e dos vestidos. Gosto de ser menina por causa das guloseimas da infância. Extremos e opostos, é disso que sou feita. Minhas tecituras são reversas, inversas, extremas. E gosto de ser tão contraditória.
Não gosto do silêncio. A palavra precisa ser empregada sempre. Sou feita do verbo. E dele desdobro em tantas vidas que nunca exatamente sei precisar qual delas de fato sou e qual delas vibram apenas os meus fantasmas.
Gosto de estradas compridas, de noites enluaradas, estrelas cadêntes, perfume de jasmim, rosas vermelhas e cartas de amor.
Gosto de verdades inventadas, falas desconexas, metades inteiras, espelhos sem reflexos, horas à fio no telefone. Isso tudo faz de mim uma mulher tão grande a não caber dentro de mim, assim explodo. Extrapolo. Uso o meu eu-lírico, para poder ser ainda mais o que de fato não falta, sobra.
Gosto de poesia, novelas e música. Gostos das paredes brancas, assim ficam mais fáceis de virarem telas multidimencionais, completamente virgens a criação, intervensão. Gosto desse estado de construção permanente. Sou pedra, que rola, que descansa, que vai arrastando para outros caminhos, milhares de pés vão caminhando comigo.
Gosto de amar com paixão. Sou absolutamente passional. Cometeria um crime de amor. Aceito todas as verdades que o amor oferece. Invento-as também. Assim, amar ultrapassa o limiar do humano e isso me empresta certa salvação e ternura.
(...)

quarta-feira, 10 de março de 2010

" Sou feita de urgências.
Estou sempre atrasada. Mesmo meia hora antes."

Alguma coisa sobre nós**

Primeiro era preciso acreditar na liberdade, não adiantava sonhar. Era preciso o gosto da verdade na boca. Que se misturasse com o café ou a fumaça. Mas era preciso o gosto.
Era preciso que as correntes não apertassem tanto, que se deixasse o passo solto, a palavra ainda mais bamba, para que sorrateira ela quisesse ocupar um espaço maior. E nunca partisse.
Era preciso se deixar levar pelas tardes infinitas dos olhos, tão castanhos quanto as folhas de um outono nascente. Era preciso salvar a lua e deixar que ela falasse um pouco ao coração. Porque a noite era o ensaio da sua morte. Para que o sol depois a renascesse feito fênix, das cinzas mais obtusas.
Depois era preciso amar com o amor sem reservas, um amor de dentro, e junto dele construir outros pré-sentimentos, nunca julgamentos. Porque isso mataria o amor com tiro certeiro.
Era preciso coragem para seguir adiante, perceber as flores pelo caminho, apesar do deserto ser árido e doloroso. Apesar do sol na cara e do calor quase mordaz. Era preciso coragem para caminhar junto, ainda que por muitas pedras e feridas viessem.
Era preciso sentir a força sobrehumana da palavra proferida para que mais tarde o silêncio fosse entendido, fosse desvendado e povoado com velocidade e destreza.
Era preciso fumar mais um cigarro e ouvir mais uma música, era preciso desarrumar os cabelos, perfumar o corpo com o cheiro indizível de cada um, era preciso mais um pouco de prazer, de gemidos, de sussurros. Era preciso alguma lágrima que ficou engasgada. alguma palavra que ficou torta, algum sorriso esquecido. Ainda era preciso acreditar na liberdade do passo. Os pés caminhariam sempre juntos. E o espírito sempre estaria por perto, rondando. Sempre.
No fim o que era de fato preciso era não ter fim, ser um final de começos eternos, para que a paixão viesse em todas as horas enfeitar a magnetude do amor ainda mais puro!

terça-feira, 9 de março de 2010

Desculpem,
mas a tristeza eu deixei na outra bolsa.
Esqueci de colocar aí dentro, que dessa vem apenas o beijo.
Desculpem,
mas nesta há só aqueles papéis de bala com recados apaixonados e bilhetes desejando uma noite safada.
Desculpem,
mas essa tristeza que guardei numa bolsa multicolorida nada tem de encantada para que todos vejam.
Roubei o poema da liberdade e acredito poder sem pressa inventar a minha lágrima.
Desculpem,
mas esta é a bolsa do errante apaixonado,
algumas cartas, batons e cigarros.
Perfumes e pedaços de panos desnecessários durante a noite que nem sempre esteve estrelada, mas sempre quente,
como o sangue, o toque, a língua.
Desculpem,
mas a tristeza mudou de rumo, foi morar em bolsas de fundos falsos para se esconder do mundo,
foi se aconchegar mais no inteiror do mundo,
para que não ocupasse espaço entre os apaixonados.
Desculpem,
pela insistência no assunto, na permanência fixa da idéia de que a tristeza mora em outra bolsa.
Talvez porque nesta caberia suas falas, suas lágrimas, suas caras;
mas vesti a tristeza de amor,
um amor bem vermelho,
bem vivo,
para que se confndam as bolsas e esqueçam de prestar atenção em meus olhos!

Amor, outra declaração!***


eu te escrevo, embora ninguém entendaque nesse silêncio te revelo meus segredos;
escrevo e te amo, porque não há outra formade passar pela vida se não passares comigo;
me guarde perto das coisas que levaste para contar quando tudo já estiver tarde;
me eternize num feliz retrato que nenhum poema ainda conheceu,
pois que é só teu meu riso;
não me esqueça, não me deixa, nem parta,porque agora a inspiração é farta de tanta rima
que surge no teu beijo;
e quando te tenho, e te recebo,e vens me invadindo o mundo
ah, por esse segundo eu daria a eternidade inteira.
(Cáh Morandi)

De manhã!


De manhã quando olho seus olhos cintilarem um azul precioso, coloco-me a teus pés e rendo-me a desejos tão intensos.
De manhã, quando ainda os pássaros cantam e os raios tímidos do sol começam a sombrear o quarto, vou me aconchegando de mansinho, para ver se mesmo no seu sono breve, beija-me o rosto num bom dia.
De manhã, na face mais pura do dia, onde anjos avançam para o céu e a graça se faz sobre nós como um imenso manto de amor, recosto-me nas tuas costas e devagar tento atrelá-lo num abraço de amor.
Neste abraço, amor e desejo são imensos e inseparáveis, apesar de sabermos exatamente onde fala um e onde começa o outro!